Lygia Prudente, quando criança.
Que felicidade ter o que recordar
e disseminar entre as gerações que nos sucedem. Essas recordações orientam os
nossos sucessores, descendentes, ao entendimento dos nossos costumes, o porquê
de como somos, a riqueza da nossa comida. Uma lembrança, em especial, nos
devolve a alegria do tempo passado e faz o nosso coração bater mais forte – os
festejos juninos. Tanto na cidade – Aracaju – quanto no interior do estado –
Sergipe – as festas juninas eram ansiosamente esperadas, e, em determinados
pontos da cidade, eram erguidos os “arraiás”, logo no mês de maio, criando o
clima junino já próximo e as músicas começavam a invadir as casas, trazendo à
tona o “xote”, o “forró” (o verdadeiro e puro), e voltávamos a ouvir o Luiz
Gonzaga e tantos outros que embalavam as noites de Santo Antônio, São João e
São Pedro. O que de bom guardamos como lembrança, acaricia o nosso coração
porque, além de trazer de volta a nossa juventude, traz também as pessoas
queridas que não estão mais, fisicamente, conosco. Lembro muito bem de como
eram comemoradas essas datas na minha infância. Éramos três irmãos e os meus
pais preparavam todo o clima. À minha mãe, cabia o preparo das guloseimas
próprias da ocasião e a indumentária, com as tradicionais roupas caipiras. Os 2
meninos, vestiam calça com remendos, camisa quadriculada enriquecida pela
jabiraca de cor contrastante, chapéu de palha e botas; para mim, vestido
amplamente rodado, com anáguas engomadas para dar corpo ao vestido que era
ornado com bicos, rendas de feira e rendas de “bilro” e fitas coloridas. Nos
pés, geralmente, tamancos coloridos ou sapatilhas coloridas, comprados no
mercado. Na cabeça, ora era um chapéu de palha enfeitado, de onde saíam duas
tranças postiças com laços de fitas, ora eram fitas que davam acabamento a um “rabo
de cavalo” ou mesmo flores de papel, no cabelo longo e solto, tornando a
caipira mais brejeira. A meu pai cabia a estrutura física: um mastro
(geralmente era um pé de mamona trazido de um terreno baldio próximo à nossa
casa) e a fogueira, que proporcionava calor às noites juninas, em geral
chuvosas e “frescas”. As comidas típicas tinham lugar de destaque na festa e
correspondiam à expectativa dos sabores: bolo de milho e de macaxeira
(mandioca) eram os preferidos. Também o milho cozido, amendoins, cocada,
canjica e mungunzá. O cheirinho bom emana da história e perpassa na linha do
tempo. Os fogos, meu pai os comprava com muita antecedência e os guardava a
“sete chaves” em um quarto na dispensa que ficava no quintal da casa. No dia,
ele preparava, cuidadosamente, um desses fogos que era uma roda que girava
espalhando faíscas coloridas de muita beleza. Ele, para nos proteger de
queimaduras, pregava na ponta de um cabo de vassoura (guardado durante o ano de
vassouras velhas, para esse fim) e, assim, poderíamos usufruir da brincadeira
sem problemas. Muita saudade. Essas pessoas fizeram-nos – a mim e a meus irmãos
– muito felizes. Nas pequenas coisas que nos proporcionavam. E muito mais
quando nos ensinaram a agir assim mesmo com os nossos filhos e tudo isso mostra
como é importante que alimentemos as nossas tradições, propalando e
disseminando entre os jovens, os hábitos e costumes que tínhamos e
vivenciávamos enquanto crianças.
Lygia Prudente
Postagem Original na página do Facebook em 9 de Junho de 2012.
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