Ando enjoando de festa. No
carnaval do Pré- Caju, por exemplo, balanço minha latinha tão tristemente, tão
fora da euforia geral que se mal não parece, desencoraja a mim e a quem me
acompanha. Não gosto de mega eventos, não gosto desta história de que “se o
povo gosta” toca baboseira num palco enorme e basta bater a matraca que a praça
se enche de mel com merda. Enfim, o populismo cultural não me interessa.
Venho dos cafundós da festa,
acostumado a ver o São João sentado nas calçadas, as cadeiras da família em
torno da fogueira soltando estrelinhas. Na rua, cada qual no seu fogo. cuidando
dos seus bêbados, xingando buscapés, falando mal da filha do vizinho enquanto
traça uma lapada de manauê. Sou desse São João sem TV e creio, sinceramente,
que gastaríamos melhor distribuindo o fogo com muito mais gente, incendiando a
vocação festiva da cidade pelas ruas e bairros. com,o era antigamente.
Mas, enfim...saudade sim,
saudosismo não. Eu não sou besta a ponto de ficar de fora do que a cidade faz,
seja lá como o faz para celebrar sua diversidade. Vó Maroca não vai ao Forró
Caju, excluída que foi. Prefere ficar sentadinha na janela, vendo desabar em
melancólicos tições a solitária fogueira que acendera na calçada em louvor ao
santo, mas eu vou, exigente e atento, ver o que acontece na festa municipal.
Como qualquer intelectual - pretenso guardião da cultura do povo - rasco com
meus botões e cehego a manifestar aos mais íntimos os meus divinos reparos: -
“tal artista não devia; prefiro o tamanco ao tênis; só tem bolo de puba nos
camarotes...”, mas no final é certo: volto pra casa suado, bambo de cor e
prazer.
Cultura, caldo, caldeirão
derramando. Isto sim, é o que me interessa...
Agora mesmo, vi no Forró Caju,
uma multidão se roçando num caldeirão de prazeres, menininhas cheirosas a dois
dedos do perigo, dividindo o mesmo metro quadrado com a euforia malandra dos
moleques. Bundinhas salientes, quebra cocos sutis, feios e belos se roçando no
culto à alegria do forró, ao direito de ser feliz no esfrega-esfrega ques nos restou
do São João.
Fiquei de alma esfregada. E por
que não?
Amaral Cavalcante
Postagem original na página do Facebook , em 25 de Junho de 2012.
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