quarta-feira, 21 de março de 2012

Conheço Aracaju


Eu conheço Aracaju da Colina do Santo Antônio, onde tudo começou. Lá naquele morro está erguida a primeira Igreja da cidade.
Eu conheço Aracaju, pois quando ela tinha um pouco mais da metade de sua Idade atual eu nasci e dela nunca me separei.
Eu conheço Aracaju, que com poucos anos de nascida acolheu o meu pai Isaac Schuster recém chegado da longínqua União Soviética e que também jamais se separou, vivendo aqui mais de 2/3 de toda a sua existência.
Eu conheço Aracaju que também acolheu minha Mãe Maria, quando a mesma trocou o Povoado Jenipapo, no município de Lagarto pela mesma.
Eu conheço Aracaju da Rua da Frente que beira em toda a sua extensão o Rio Sergipe.///
Eu conheço Aracaju com o seu Povoado Mosqueiro, quando na época só se chegava a pé ou a cavalo e posteriormente de Lambreta que às vezes apagava o fogo encharcando a vela, quando passávamos por um riacho na sua trilha principal.
Eu conheço Aracaju, cidade onde nasci, me criei, vivo, sonho, brinco, amo, me casei e vi os meus filhos nascerem e crescerem.
Eu conheço Aracaju que me deu a Eternidade.
Eu conheço Aracaju dos cinemas Rex, Guarany, Tupy, Vitória, Aracaju, Palace e Cine Teatro Rio Branco, que entre outras, teve a honra de receber Bidú Saião.
Eu conheço Aracaju da Ponte do Imperador que foi construída justamente para receber o Imperador do Brasil na época Don Pedro II.
Eu conheço Aracaju de Fausto Cardoso, político honrado e que não se curvou aos poderosos, assassinado friamente.
Eu conheço Aracaju das retretas na Rua João Pessoa e Praça Fausto Cardoso, onde todos os domingos à noite a juventude se reunia e ficava passeando para lá e para cá. Os flertes aconteciam aos montes. Muitos namoros e casamentos surgiram desses flertes.
Eu conheço Aracaju do Beco dos Cocos e das boates Miramar, Xangai, Nigth and Day, Luz Vermelha e a famosa “Fresca”.
Eu conheço Aracaju do Galo de Ouro, da boate La Bamba ou Nigth and Day, Imperial, Oliveira Martins, Epitácio, Chantecler e Capineira na Rua Bahia.
Eu conheço Aracaju que adotou o capelense professor Leozírio Fontes Guimarães, a maior expressão musical do Estado de Sergipe e a também capelense professora Lindalva Cardoso Dantas Guimarães, que lecionou para praticamente toda a juventude da época.
Eu conheço Aracaju da Estação Ferroviária, no Bairro Siqueira Campos, até hoje o mais populoso de Aracaju.
Eu conheço Aracaju da Atalaia Velha e Atalaia Nova, lugares de veraneio até os anos 60 e o Parque Teófilo Dantas, onde eram realizadas as Feirinhas de Natal e eu ia com meu Pai. Eu andava na roda gigante, no Carrossel de Seu Tobias (um boneco negro que girava a cabeça quando o carrossel estava em movimento). Meu Pai gostava de jogar um pouco nas roletas existentes e nós dois juntos comíamos pipoca, algodão doce, guaraná com o nome de Jade (o refrigerante da época fabricado em Aracaju).
Eu conheço Aracaju da Rua São Cristóvão Velho e da Rua Vitória Torta, das canoas “To-Tó-Tó” que faziam a travessia para a Barra dos Coqueiros e Atalaia Nova e Saveiros que faziam viagens para Santo Amaro, Maroim, Rosário, etc.
Eu conheço Aracaju da primeira ponte de concreto que ia para a Atalaia Velha a qual começou a ruir e só passava um carro de cada vez até a nova ser construída e as duas pontes da Praia 13 de Julho, ambas de madeira, uma delas na famosa “quatro bocas”.
Eu conheço Aracaju do Estaleiro também na Praia 13 de Julho onde ficavam os barcos de pesca e canoas dos nativos que ali habitavam onde algum tempo depois foi erguido o Iate Clube.
Eu também conheço Aracaju do Bar e Lanchonete Chic, situado na Rua de João Pessoa com Laranjeiras, do Bar Simpatia, Bar Sport, da Sorveteria Iara e São Jose, do “Cacique Chá”, localizado no Parque Teófilo Dantas, da Furna da Onça, da Casa das Frutas, única casa que vendia frutas importadas, tais como uva, passas e maçã, todos eles situados na rua de Laranjeiras e nesta mesma rua a Casa Oriental, especializada na venda de móveis de vime, casa esta de propriedade de Isaac Schuster.
Eu conheço Aracaju de Isaac Schuster dando discursos inflamados no “Ponto Chic” contra os violentos “camisas verdes”, uma filial de Hitler no Brasil.
Eu conheço Aracaju quando ainda possuía uma grande colônia Judaica, entre eles, Elias Roitman, José Zuckman, Isaac Schuster, Isaac Chapperman, Abraão Chapperman, etc.
Eu conheço Aracaju do Bairro São José onde existia e existe a Igreja com o mesmo nome do bairro, bem como o colégio dirigido por freiras, do outro lado a Praça Tobias Barreto e no último lado, hoje o Hospital São Lucas, mas que na época era somente mangue que servia a nós, crianças da época, pescarmos siri, pegarmos caranguejo e no fundo da Igreja um campo que nós chamávamos de Campo do Bariri e onde realizamos inesquecíveis peladas, hoje todo ele coberto por residências e edifícios.
Conheço Aracaju do Bairro 13 de Julho, lá onde existia o Estádio de Futebol com as equipes do Cotinguiba, Sergipe, Olímpico, Vasco e posteriormente Confiança, Itabaiana, Estanciano, Riachuelo, Própria, etc.
Não esqueço, não quero e não posso esquecer quando ainda jovem (criança) eu ia para o campo de futebol (assim era chamado o Estádio) e em vez de assistir o jogo eu ficava ajudando uma senhora de idade, vendendo laranja descascada para ela (fazia por prazer, não cobrava um centavo). Não esqueço e nem quero esquecer quando resolvi ser remador do Clube Sportivo Sergipe, eu e mais três amigos: Sálvio, Marcelo e Mario Henrique (além do Patrão do barco, um senhor de nome Murilo e que muito nos ensinou).
Eu conheço Aracaju dos bailes dominicais na Associação Atlética, Iate Clube e Vasco Sport Clube.
Eu conheço Aracaju do Colégio Estadual, Tobias Barreto de seu Zezinho Cardoso e posteriormente do Professor Alcebíades Melo Vilas Boas e quando lá estudei conheci o Professor Portugal que ensinava inglês, do Colégio Jackson de Figueiredo de dona Judite e senhor Benedito, do Colégio São José e do Colégio Nossa Senhora de Lourdes (este último responsável por eu conhecer a minha companheira quando lá fui professor de matemática, inclusive dela).
Eu não esqueço, não posso esquecer e nem quero esquecer que eu conheço Aracaju, que eu amo Aracaju, que eu nasci, vivo e viverei por toda a minha vida nesta Cidade.

Lion Schuster  - 06.05.2003.

Postagem original na página do Facebook em 20 de novembro de 2011.

Um comentário:

  1. Olhe, parece q vc é igual a Murilo Mellins no seu livro: "Aracaju como vi e vivi" q diz assim: É UMA SAUDADE Q CORROI O CORAÇÃO DA GENTE' o q vc fala de "eu conheço Aracaju......" eu conheço tbm, do último bonde rodando na rua de Bonfim (vc se lembra tbm?) e quanto os bordeis, eu fui um notívago, me lembro dos STREAP-TEASE e hj, com uma cervejinha, passo músicas daquelas épocas, como Silvinho e Nelson gonçalves. Lembro-me da buate SHELL no começo da Av. João Ribeiro e fico hj parado confrente, uns 5 mn só olhando. "É UMA SAUDADE Q CORROI O CORAÇÃO DA GENTE" Murilo é quem está certo.

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