quinta-feira, 9 de abril de 2015

Jaime da Line


Jaime da Line

Aquele rapaz baforando num cachimbo o perfume aristocrático de um Half and Half no Bar do Vaqueiro, na Atalaia, década de setenta, era todo elegância e distinção. A fumaça achocolatada impunha-se ao cheiro dos escabeches, às caçarolas de siri mole, ao desodorante vencido dos garçons, e, sobretudo, aos detestáveis Avon da família ao lado.
Puf, puf... que odor classudo o carioca Jaime Costa nos trouxe, em sua primeira noite sergipana!

Fui eu quem o viu e, condoído da sua solidão inaugural, chamei-o para a nossa mesa.
Estávamos com o maestro Sérgio Boto comendo um aristocrático Parmegiane: eu, o imensurável Clinio Carvalho Guimarães com sua natural simpatia, o doce Tabaréu dedilhando nuvens e mais Rezende, dono da segunda voz. Tratava-se do “Quarteto Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”, finesse da MPB local, prestigiadíssimo nas tertúlias litero musicais de então.

Jaime não se fez de rogado e atacou de Vinicius num terno vozeirão de seresta chic e, como se não bastasse, emendou com “Casa no Campo” de Sá e Guarabira, revelando-nos, então, sua bem nascida identidade e correto CPF musical. O cabra era dos nossos e isto bastou para que se chegasse.

Ele foi cuidar da vida com altiva responsabilidade, muito trabalho e ativa inteligência, dedicando-se á implantação da modernidade na área da publicidade, onde chegou a comandar uma das principais agências, a Line, com invejável portfólio de prêmios e importantes clientes. Casou-se com Mamália - uma bela mulher com aquele porte heráldico de condessa - sem nunca deixar de dedilhar o seu boêmio violão e de nos deleitar com o seu abençoado vozeirão.

Jaime da Line foi ficando por aqui, para a glória da nossa boemia saudável e a alegria dos que tinham bom gosto musical, colocando-se na história dessa Aracaju como um querido das gentes e cantando, como ninguém, as mais belas canções do nosso tempo.

Jaime sempre bebeu bem, mas só bebia em boas companhias. Sobre ele contam-se histórias fantásticas, umas reais, outras inventadas, e todas elas nascidas do prazer que as suas peripécias etílicas nos causava. Aqui ele moveu a roda da fortuna para cima e para baixo, mas nunca deixou de ser o tocador de “Casa no Campo”, seu primeiro apelido, concedido por nós naquela sua primeira noite sergipana, no saudoso Vaqueiro.

Dia desses eu me encontrei com ele. Ambos desesperadamente sóbrios e ele sem o seu precioso violão.

Mas eita, querido Jaime, que abraço bom!

Amaral Cavalcante – maio/2008.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 7 de abril de 2015.

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