sábado, 11 de abril de 2015

João Pires Wynne


Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 05/09/2005.

João Pires Wynne.
Por Luiz Antônio Barreto.

Descendente de uma autoridade consular estabelecida em Maruim, João Pires Wynne nasceu em Riachuelo em 5 de setembro de 1905. Jornalista, poeta, participou intensamente da vida cultural sergipana, assinando a ata de fundação da Academia Sergipana de Letras, em 1º de julho de 1929, ocupando a cadeira cujo patrono é o poeta João Pereira Barreto.

Parnasiano como Clodoaldo de Alencar e como Freire Ribeiro, Pires Wynne formou com os dois poetas um grupo de resistência ao modernismo de José Maria Fontes, ao engajamento social de José Sampaio e ao orfismo de Santo Souza. Os três, com presenças freqüentes nos jornais e com publicações em livro de suas produções, sobreviveram e conquistaram lugar na história da literatura sergipana.

Durante algum tempo João Pires Wynne viveu fora de Sergipe, colaborando em jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo, travando contato com o mundo intelectual daqueles centros. Jackson de Figueiredo, pensador e combatente intelectual sergipano, radicado no Rio de Janeiro, estimulou João Pires Wynne. Voltando a Aracaju militou como advogado, exerceu mandato de vereador e candidatou-se, em 1958, a deputado estadual, pela UDN, partido ao qual servia como espécie de consultor. Era homem de expor suas posições, sem temor de qualquer reação, chegando algumas vezes a provocar seus presumíveis desafetos.

Exerceu a crítica, publicando Castro Alves – síntese da vida e da obra do poeta; Vulto que Fica (sobre Pereira Barreto); Risonhos e Rebeldes; Os rumos filosóficos do pensamento de Fausto Cardoso. Como poeta escreveu Caiacan e Flores da terra e dos céus – sonetos. Incursionou pela pesquisa histórica, publicando Holandeses na Bahia; Um Capítulo da história política e militar do Império; e Novos rumos da história. A partir de 1972 publicou os dois volumes da sua História de Sergipe, na Editora Pongetti, do Rio de Janeiro. A obra, dividida em recortes de tempo entre 1575 e 1930, 1º volume, e 1930-1972, 2º volume, apareceu para ser, como disse o autor, “uma síntese crítica da vida social, econômica e política de Sergipe.”

A História de Sergipe de Pires Wynne tem alguns defeitos, mas tem a qualidade de atualizar as fontes, fazendo o registro dos períodos dos Governadores do Estado, contando com o testemunho do próprio autor, que viveu dois terços do século XX e manteve interesse permanente pelos fatos. Logo após o golpe militar de 1964 Pires Wynne fez conferência neste auditório do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, manifestando sua adesão, revelando, para surpresa dos ouvintes, que na hipótese da vitória do presidente João Goulart, que liderava a sociedade em torno das reformas de base, ele seria em Sergipe a primeira vítima dos comunistas e seus aliados.

Os volumes da História de Sergipe continuam sendo requeridos pelos pesquisadores, sem qualquer preconceito. O pioneirismo dos trabalhos de Pires Wynne e de Acrísio Torres Araújo vence as resistências, permitindo arrolá-los na historiografia sergipana, como contribuições valiosas, que ajudam na compreensão dos fatos. O Centenário de Nascimento de João Pires Wynne justifica a reedição dos dois volumes da História de Sergipe, que contam com mais de 30 anos de publicados.

João Pires Wynne tornou-se figura conhecida da noite aracajuana, com seus óculos pesados, de lentes esverdeadas, parecendo combinar com os ternos escuros, de fazendas grossas, de talhe bem acabado. Viveu como celibatário, apesar de notívago, percorrendo bares e boates, ao lado do amigo Floriano Valente, hoteleiro do Hotel Avenida, na avenida Rio Branco, e cantor. Morando no Hotel Marozzi, na rua de João Pessoa, 320, onde também moraram o desembargador Enock Santiago, Monsenhor Doutor Alberto Bragança de Azevedo, saiu quando o hotel fechou suas portas, em 1965, mudando-se para o novo Hotel Paláce de Aracaju, na praça General Valadão, onde morava quando morreu, em 1974.

Um soneto de Pires Wynne:

Quando na luta já desfalecido
A minha alma se encontra e só me vejo,
Tu me surges, apontas-me a subida,
E falas e me inflamas com teu beijo.

E de novo, na luta, nesta vida,
Entre esperanças mil eu te festejo.
Em pós teus passos sigo-te, querida,
A alma plena de santo e de desejo.

Em pós teus passos – alma delirante,
Os tropeços vencendo vou sozinho,
Cavalheiro, cruzado e bandeirante.

Seguindo vou em busca desse vinho
Que de tão forte e bom mesmo distante
Me embriaga de amor pelo caminho.

Publicado na Revista da Academia
Sergipana de Letras, nº 7, julho de 1935

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe / InfoNet".
Contatos: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 9 de abril de 2015.

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