quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Dia da Inteligência Sergipana (7 de junho)



Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 07/06/2006.

Dia da Inteligência Sergipana.
Por Luiz Antônio Barreto.

O dia 7 de junho tem um significado especial para Sergipe e para a inteligência sergipana, pois nasceu, na então Vila de Campos dos Sertões do Rio Real, Tobias Barreto de Menezes, em 1839. Crescido como típico menino sergipano, sem escolas, teve professores que cinzelaram o seu talento, preparando-o para a vida clerical. Bem que tentou, no Seminário da Bahia, em Salvador, aonde chegou em 1861, portando a fama de conhecer e ensinar a língua latina, na sua Província. Mas, fez opção por Pernambuco, e mais especificamente pela Faculdade de Direito do Recife, aportando ali em 1862 e logo dedicando um poema – A Vista do Recife –, aos feitos pernambucanos em favor da liberdade, evocando nomes caros à tradição ideológica do Brasil.

No Recife, Tobias Barreto liderou um grupo de jovens, muitos seus conterrâneos, alguns de outras Províncias, todos engajados na elaboração de um programa intelectual que não apenas passasse a limpo a vida brasileira, mas que pudesse debater os temas que então interessavam o mundo civilizado. Pequenos jornais passaram a publicar textos, em prosa e em verso, atualizando a estética literária, ao tempo em que começaram a tratar de temas e sistemas filosóficos. Silvio Romero, personagem e autor, disse com ênfase apaixonada, que “Um bando de idéias novas esvoaçou sobre nós de todos os pontos do horizonte, Positivismo, Evolucionismo, Darwinismo, crítica religiosa, naturalismo, cientificismo na poesia e no romance, folclore, novos processos de crítica e de história literária, transformação da intuição do Direito e da política, tudo então se agitou e o brado de alarme partiu da Escola do Recife. Tobias foi o mais esforçado combatente, com o senso de visão rápida de que era dotado.”

A biografia intelectual de Tobias Barreto em Pernambuco tem três partes principais: uma no Recife, entre os tempos de estudante, a redação de O Americano e outros jornais, e que vai de 1862 a 1871, a segunda em Escada, como advogado, político e escritor, período que vai de 1871 a 1881 e a terceira parte, a do seu retorno ao Recife (1881), Concurso para a Faculdade de Direito (1882) e até a sua morte, em 26 de junho de 1889. Cada período tem importância especial, e concorre para a coerência de uma contribuição pluralizada pelo interesse que ele tinha pela cultura humana. No Brasil do seu tempo ninguém aprofundou tanto o olhar crítico sobre a realidade nacional.

Vários jornais recifenses atestam em suas páginas a qualidade do intelectual e suas abordagens sobre a política brasileira, por exemplo, que se constitui numa reflexão única, desprovida do ranço politiqueiro e partidário, tão em voga no Brasil. Ao tempo em que crava, com vigor, sua crítica, Tobias Barreto expõe às gerações de modernistas presentes no Recife, o trato preconceituoso que

recebeu quando candidatou-se a uma cadeira de professor no Colégio das Artes, preparatório para o Curso Jurídico. Seus escritos provocam reações e logo os temas se tornam polêmicos, chamando ao centro da luta os intelectuais católicos, liderados por José Soriano de Souza.

Em Escada, Tobias Barreto parecia alicerçado para elaborar a sua participação intelectual. Criou, redigiu e editou vários pequenos jornais – O Desabuso, O Escadense, Contra a Hipocrisia, Um Sinal dos Tempos, o primeiro deles – com os quais fustigava a classe dominante. Dentre suas publicações estão o jornal Deutscher Kaempfer, todo escrito em língua alemã, e a revista Estudos Alemães, editada em português, mas com temática germânica.

Ainda em Escada, Tobias Barreto é eleito deputado provincial, pelo Partido Liberal, tendo uma atuação brilhante, como atestam os seus discursos sobre a educação da mulher. Também em Escada ele preparou e publicou livros importantes, como Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica (1875), as duas monografias em alemão (1876 e 1878), Um Discurso em Mangas de Camisa (1879), Algumas Idéias sobre o Chamado Fundamento do Direito de Punir (1881). E foi, ainda em Escada, que ele teve a casa cercada, o que gerou sua volta ao Recife.

No Recife, desde o Concurso para a Faculdade de Direito, que Tobias Barreto coroa a sua atuação intelectual e consagra a sua biografia. Seus últimos sete anos de vida são gloriosos, ainda que seus desafetos, porque mais que críticos, lancem as mais infames provocações, ele colhe no estrangeiro os louvores mais sinceros de figuras referenciais da cultura. Com sua morte, cercado da família, dos amigos e dos admiradores, o Recife perde parte do seu encanto, Pernambuco herda o exemplo do seu engajamento nas mais santas causas, o Brasil lamenta e chora e Sergipe, seu pequeno berço, guarda o tesouro inesgotável de sua inteligência, da qual, ainda hoje, somos beneficiários.

O dia 7 de junho deveria ser, de toda justiça, consagrado à cultura, como o Dia da Inteligência Sergipana, na lição exemplar de Tobias Barreto de Menezes.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 24 de fevereiro de 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário