quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sergipe como pátria de filósofos


Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 06/09/2006.

Sergipe como pátria de filósofos.
Por Luiz Antônio Barreto.

O século XIX deu a Sergipe a fama de Pátria dos Filósofos, graças ao grande número de sergipanos dedicados à reflexão, em vários campos do conhecimento. A filosofia não se limita aos cânones dos sistemas, nem a uma nomeclatura hermética, própria dos iniciados. Os críticos, nas suas exegeses, são filósofos, esclarecem os fatos, examinam conceitos, formulam teorias, levam adiante o pensamento.

Na segunda metade dos oitocentos, quando Tobias Barreto desembarca no Recife para cursar direito, o pensamento dominante é o Ecletismo, oriundo da França, difundido em Pernambuco por Antonio Pedro de Figueiredo, com sua Revista O Progresso. Ainda nos anos de 1860 surgem os pequenos jornais – Conciência Livre, O Vulcão dentre outros -, alvoroçando a meninada concentrada na Faculdade de Direito do Recife, proveniente de todo o norte (então uma região única com o nordeste), divulgando o Positivismo de Augusto Comte, e com ele os novos ensaios da ciência, reescrevendo a história humana. Vários sergipanos estavam lá, naquela ruptura inaugural que iria, mais tarde, no dizer de Graça Aranha, “emancipar intelectualmente o Brasil.” Além de Tobias Barreto foram chegando Ovídio Malaia, Silvio Romero, Martinho Garcez, Justiniano de Melo e Silva, José Jorge de Siqueira Filho, Fausto Cardoso, Gumercindo Bessa, Manoel dos Passos de Oliveira Teles, Joaquim do Prado Sampaio, e muitos outros que abraçaram a evolução mental que se desenvolvia ali. Outros preferiram seguir o pensamento dominante, sem qualquer renovação, como foi o caso de Coelho e Campos, Pelino Nobre, Guilherme de Souza Campos. Os dois grupos terminaram, de volta a Sergipe, envolvidos nos embates ideológicos liderados por Fausto Cardoso e Olímpio Campos, que neste ano completam 100 anos, marcando com a tarja da dor e da morte as duas figuras sergipanas.

Enquanto Pernambuco formava os bacharéis, a Bahia formava os médicos. A Faculdade de Medicina da Bahia não estava aberta aos novos tempos da filosofia, como se percebe no caso da reprovação de Domingos Guedes Cabral, em 1875, com sua tese sobre as funções do cérebro. O jovem médico baiano mudou para Sergipe, alojou-se em Laranjeiras, onde clinicou e exerceu uma cidadania autônoma, como livre pensador, abrindo as portas para que a cidade recebesse a missão evangelizadora dos Estados Unidos, que fundou a primeira igreja presbiteriana, em 1884, e os jovens republicanos, entrincheirados nos jornais O Horizonte, O Laranjeirense, O Republicano, pontificando Felisbelo Freire, também médico, também clínico em Laranjeiras. A geração dos médicos inclui nomes como Rodrigues Dória, Olinto Dantas, Ascendino Reis, Dias de Barros, Abreu Fialho, dentre outros.

Há um terceiro grupo, de formação militar, alguns engenheiros, outros matemáticos, que deram ao Brasil contribuição notável. Oliveira Valadão, Ivo do Prado, Siqueira Menezes, Pereira Lobo, Moreira Guimarães, são alguns dos que alcançaram as mais altas patentes do Exército brasileiro e emprestaram seu patriotismo ao serviço de causas honrosas, formando ao lado dos bacharéis e dos médicos uma elite intelectual da mais alta competência.

José Maria Moreira Magalhães, nascido em Laranjeiras em 1864, general e filósofo, foi engenheiro militar, bacharel em matemática, ciências físicas e naturais, tendo estudado até o 5º ano do curso médico, no Rio de Janeiro. Depois de destacar-se como intelectual e pensador, ingressando em várias entidades nacionais, o general Moreira Magalhães cumpriu uma biografia brilhante, até morrer, em 1940, festejado pelo justo reconhecimento de seu valor.

O historiador Pedrinho dos Santos, pesquisador e intérprete da história de Sergipe, dedicou-se a biografar o velho general de Laranjeiras, publicando Moreira Guimarães, um sergipano filósofo do Brasil (Aracaju: edição do autor, 1996), livro de bela feitura, que restaura a figura do grande soldado patrício e realça a contribuição de Pedrinho dos Santos à historiografia sergipana.

Foto e texto reproduzidos do site: infonet.com.br/luisantoniobarreto

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de setembro de 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário