Infonet - Blog Luíz A.Barreto - 16/01/2009.
Manoel Cabral Machado.
Por Luiz Antônio Barreto.
Sergipe sente o golpe certeiro da morte, que vitimou o
professor, intelectual e homem público Manoel Cabral Machado, um dos maiores
vultos do século XX, que marcou com sua presença décadas seguidas com
atividades inovadoras. Filho do médico Odilon Ferreira Machado e de Maria
Evangelina Cabral Machado, neto do bacharel Manoel de Lemos de Souza Machado,
Manoel Cabral Machado nasceu em Rosário do Catete, em 30 de outubro de 1916,
onde seu pai fixou residência como clinico, em 1915. Criado na Capela, cidade onde
seu pai voltou a fixar-se como médico, Manoel Cabral Machado adquiriu uma
cidadania capelense, afetiva, presente em sua vida de 92 anos. Depois de
desarnar nas primeiras letras, no interior, foi aluno dos colégios Salesiano e
Ateneu, em Aracaju, iniciando-se nos movimentos de agitação política
estudantil, escrevendo e pronunciando discursos, o primeiro deles diante do
corpo morto do jovem Lises Campos, e filiando-se ao movimento integralista e a
outras mobilizações dos jovens sergipanos da sua época. Mudando-se para
Salvador e ingressando na Faculdade de Direito da Bahia, bacharelou-se na turma
de 1942. Entre os convites para advogar na Bahia, ou em outro Estado, Manoel
Cabral Machado preferiu retornar a Sergipe, engajando-se na vida local, já como
um liberal.
Depois de curta e acidentada passagem, como Promotor
nomeado, mas não empossado, de Neópolis, Manoel Cabral Machado ingressou na
vida administrativa sergipana, no Gabinete do Prefeito José Garcez Vieira,
passando depois a atuar no Departamento do Serviço Público, atual Secretaria de
Estado da Administração, levado pelo Secretário Geral Francisco Leite Neto, que
viria a ser um dos seus grandes amigos e correligionário político. Com a
redemocratização de 1945 ajudou a fundar o PSD – Partido Social Democrático,
candidatando-se, sem êxito, à Assembléia Estadual Constituinte. Derrotado nas
urnas, foi convidado para compor a equipe de Governo do Dr. José Rollemberg
Leite, eleito em princípios de 1947, assumindo a Secretaria da Fazenda, onde
implantou um sistema austero de gastos, fez uma revisão das propriedades e
cobrou impostos de todos os contribuintes, fossem ou não correligionários. Sua
atuação, conquanto servisse ao Estado e aos interesses públicos, provocou
reações de aliados políticos e ele terminou substituído, passando
posteriormente a ocupar a Secretaria de Governo. Mais tarde, por concurso
público, foi Procurador do Instituto do Açúcar e do Álcool, em Sergipe.
Dedicando-se à política, sem prejuízo de outras atividades,
principalmente as do magistério, que abraçou também na década de 1940, Manoel
Cabral Machado foi eleito três vezes deputado estadual, aumentando em cada
eleição o número de votos: 1950, 1.460 votos; 1954, 1824 votos; 1958, 2.012
votos. Na Assembléia Legislativa exerceu a liderança do seu partido e do
Governo, e foi uma das vozes mais acreditadas, com uma oratória fluente, rica
intelectualmente, e de forte radicalismo partidário. Sua presença na vida do
PSD e nos mandatos que galgou pelo seu partido não interferiram nas suas
atividades intelectuais, ou no conceito que sempre gozou no magistério
secundário e superior do Estado. Com o movimento militar de 1964 que prendeu e
depôs o governador Seixas Dória, levando o vice Celso de Carvalho a assumir o
Governo, Manoel Cabral Machado foi nomeado Secretário da Educação, em
substituição a Luiz Rabelo Leite. Em 1966 compôs com Lourival Baptista a chapa
para Governo do Estado, por via indireta, sendo eleito vice governador. Em 1970
renunciou, juntamente com o governador, sendo nomeado Conselheiro do recém
criado Tribunal de Contas do Estado, onde foi três vezes presidente,
aposentando-se em 1986, aos 70 anos. Foi, ainda, Consultor do Tribunal de
Justiça do Estado de Sergipe e Procurador Geral do Estado.
No magistério, Manoel Cabral Machado construiu uma extensa e
ilustre participação, como professor de História do Brasil e História Universal
do Colégio Ateneu; de Noções de Direito e Economia Política da Escola de
Comércio Conselheiro Orlando; de História do Brasil e Sociologia da Educação do
Colégio Nossa Senhora de Lourdes; de História do Brasil e História Universal do
Colégio Tobias Barreto; de Administração e Finanças, Direito Financeiro e
Direito Internacional no Curso de Administração e Finanças, da Escola de
Comércio Conselheiro Orlando, que precedeu a Faculdade de Ciências Econômicas;
de Valor e Formação de Preço na Faculdade de Ciências Econômicas; de Direito do
Trabalho, Direito Civil e Economia Política da Faculdade de Direito de Sergipe;
de Filosofia Antiga, Filosofia Medieval e Sociologia Geral; e de Sociologia da
Escola de Serviço Social.
Membro da Academia Sergipana de Letras desde 1963,, ocupante
da Cadeira 25, substituindo a Antonio Manoel de Carvalho Neto, falecido em
1954, Manoel Cabral Machado teve profícua atividade jornalística, no Diário de
Sergipe e noutros jornais, colaborou com revistas, especialmente a da Academia
Sergipana de Letras e publicou diversos livros, destacando-se: Brava gente
sergipana e outros bravos (1999), Elegias a Elohim, Poemas à mãe de Deus,
Aproximações Críticas (todos de 2002), Baladas de bem-querer à Bahia (2003) e O
aprendiz de oboé (2005). Manoel Cabral Machado presidiu a Academia Sergipana de
Letras, e freqüentou, permanentemente, as suas sessões, como um dos mais
atuantes debatedores. Foi, ainda, por muitos anos, Orador do Instituto
Histórico e Geográfico de Sergipe. Figura, também, como membro de outras
entidades culturais e sociais, como a Associação Franco-Brasileira (Aliança
Francesa), destacando-se, nacionalmente, como integrante da Academia Brasileira
de Ciências Sociais, com sede no Rio de Janeiro.
Casado, desde 1944, com sua prima Maria de Lourdes, falecida
em 2001, Manoel Cabral Machado é pai de 6 filhos: Nina Maria, advogada, já
falecida, Odilon, professor e intelectual, Manoel Félix, Administrador de
Empresas, Maria de Fátima, professora, Ascendina Maria, Odontóloga e Bacharela
em Direito, e Antonia Lúcia. E avô de muitos netos, entre eles o Promotor de
Justiça Manoel Cabral Machado Neto.
Manoel Cabral Machado faleceu em Aracaju, na noite de 13 de
janeiro de 2009, de falência múltipla de órgãos, recebendo homenagens dos
parentes, amigos, admiradores, ex-alunos, de companheiros rotarianos, do
Tribunal de Contas do Estado, e da Academia Sergipana de Letras, onde o corpo
foi velado no dia 14, sendo sepultado em Capela, no chão que tinha adotado como
seu. O Governo do Estado, pelo governador interino deputado Ulices Andrade,
decretou Luto Oficial, em homenagem ao ilustre professor, intelectual e homem
público sergipano.
Texto e imagem reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 17 de setembro de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário