segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Arnóbio Patrício Bezerra de Melo


Arnóbio Patrício Bezerra de Melo
Por Osmário Santos, em  23/07/2013
  
Arnóbio Patrício Bezerra de Melo nasceu a 10 de junho de 1927, em Camocim de São Félix, Pernambuco. Seus pais: José Patrício de Melo e Amara Bezerra de Lourdes. Eu sou o primeiro de 25 irmãos, do mesmo pai e da mesma mãe.

O sr. José Patrício era fazendeiro, modelo de solidariedade humana. Um pai exemplo de trabalho que, apesar de ter 25 filhos, procurou educá-los da melhor maneira Uma certa vez, meu pai chegou em casa a pé, puxando o animal de sela em que ele andava, com um homem doente montado que tinha encontrado na estrada. De sua mãe, mulher de comportamento muito firme, aprendeu a nunca recuar em suas decisões.

O primeiro contato com os livros aconteceu na cidade natal, com continuidade na cidade de Caruaru, onde terminou o curso primário. Em Camocim, estudou no Externato Paroquial, recebendo lições de um professor formado que dava aula de piano, violão, bandolim, violão e datilografia. Em Caruaru, fez o quinto ano primário na Escola 26 de Abril, estudando Aritmética de Trajano e Geografia de Radagásio Taborda.

Da grata recordação da época de curso primário, lembra-se que ele apresentava o leilão da festa da cidade por ser considerado muito desenvolvido para falar. Isso era graças à leitura que fazia, principalmente, literatura de cordel.

Estudando em Caruaru, morava numa pensão. Certa noite, ao voltar da aula, foi apresentado ao padre José Gumercindo da comunidade salesiana. O padre, ao perguntar o que ele gostaria de ser, recebeu como resposta que gostaria de ser professor e se pudesse, engenheiro. O padre Gumercindo disse a Arnóbio que era padre de um colégio de professores e que ele bem poderia estudar no seminário, não se incomodando se dava ou não para ser padre, podendo seguir o destino caso não desse para o sacerdócio.

Oito dias após o pedido, estava no Seminário dos padres salesianos, que funcionava anexo ao Colégio Salesiano do Recife.

Concluído o ginásio e o curso clássico, aceitou fazer o noviciado na cidade de Jaboatão, por achar que não haveria dificuldade em se realizar como padre.

Fez o curso de Filosofia na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, num Seminário dirigido pelo padre sergipano Pereira Neto. Depois desse curso, que não era oficial, fez o curso de Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco. Em seguida, matriculou-se na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru no curso de Licenciatura Plena em Letras Francês. Prosseguindo, tornou-se bacharel em Teologia pelo Instituto Teológico Pio XI da cidade de São Paulo. Durante quatro anos, foi aluno ouvinte do curso de Biblioteconomia e Documentação Científica da Universidade de São Paulo.

No dia 8 de dezembro de 1957, na Igreja Nossa Senhora Auxiliadora da rua Três Rios em São Paulo, com mais trinta e três companheiros, foi ordenado padre.

Considera que foi o dia de glória de sua vida, um dia de muita alegria, de muita satisfação. Essa igreja é uma igreja linda. É lá na Estação da Luz e pertence aos padres salesianos.

Seu desejo, em início de carreira sacerdotal, era voltar ao Nordeste a fim de desenvolver um trabalho com estudantes num dos colégios dos padres salesianos. Por isso, veio para Aracaju como diretor de estudos do Colégio Salesiano. Já conhecia a cidade por ter feito, como seminarista, no ano de 1953, o estágio obrigatório de três anos na função de diretor de estudos da área de língua portuguesa.

Vou citar nomes de algumas pessoas que foram meus alunos: Laonte Gama, Walter Franco, os filhos de José Rollemberg Leite, Laurindo Campos, Pinga, que era dono da bola e que tinha de jogar de ponta esquerda, mesmo sem saber jogar.

Sua passagem por Aracaju, na época de seminarista, deixou marcas, o que lhe valeu o retorno, após a ordenação, na mesma função que ocupava no período de estágio.

No ano 1953 não ficava somente em sala de aula; gostava de jogar bole e fui vice-campeão pelo time do primeiro ano. Era centro médio. Mas, eu jogava bem o vôlei, esporte em que cheguei a jogar no Recife, na época de seminarista, na Seleção Pernambucana, atuando como levantador. Nós levantamos o campeonato de 1943, jogando contra os Maristas.

No ano de 1958, retornou a Aracaju para desempenhar seu primeiro trabalho como padre integrante da comunidade salesiana. Padre Arnóbio conta que, quando aqui chegou, encontrou o Colégio Salesiano, passando por uma fase crítica.

Nós recebíamos do governador da Bahia, Regis Pacheco, um trem de alunos, com cerca de oitenta jovens. Na época, ele tinha dificuldade para internar alunos na Bahia e, por aqui, existia vaga no internado do Colégio Salesiano. Assim, o Estado da Bahia pagava todas as despesas, quando dava bolsas, para manter alunos baianos em Aracaju. Eles eram uns demônios. Tinha um tal de Boa Morte, que era um menino perigoso.

Quando seus superiores perceberam que tinha chegado o momento de mandá-lo para um outra comunidade, foi transferido para Recife, num cargo que recebeu como promoção diante do belo trabalho realizado em Aracaju. Fuidirigir os estudos do Colégio Salesiano do Recife, colégio de cinco mil alunos. Lá eu fiquei no período de seis anos.

De Recife, foi transferido para o Colégio Salesiano da cidade de Salvador, na mesma função de diretor de estudos, passando na capital da Bahia o tempo de um ano. Em Salvador, organizou uma festa de São João, onde permitiu a presença de mulheres, gerando um grande atrito com seus superiores, que só aceitavam quadrilha de São João, dançando homem com homem. Por isso, resolveu deixar a ordem Salesiana para ser padre secular.

Eu achei isso uma agressão. Então eu realizei a quadrilha à revelia dos meus superiores hierárquicos. Depois, eles disseram que Roma não estava olhando bem o comportamento de certos padres do Brasil. Respondi que se eu estava sendo uma pedra no caminho dos salesianos, eu podia sair.

Desgostoso com a posição dos seus superiores, primeiramente, resolveu tomar uma licença de seis anos. Recebeu o convite do bispo Dom Morais para ir trabalhar como padre secular na Arquidiocese de Niterói, no cargo de diretor do ensino religioso. Já estava em preparativos para partir para uma outra etapa de sua vida religiosa, quando recebeu a visita de Dom José Vicente Távora, bispo de Aracaju.

Fala do encontro que manteve com Dom Távora, na visita que mudou o rumo de sua vida: Eu vim chamá-lo para trabalhar comigo em Aracaju’, disse Dom Távora ao me avistar. Esse fato, para mim, foi muito emocionante. Perguntei a Dom Távora o que ele tinha para me oferecer em Aracaju. Respondeu que tinha sofrimento. Ele estava preso, com prisão domiciliar decretada, e precisava de minha ajuda, pois já estava com idade avançada e era um jovem de costas largas e que podia dividir um pouco do seu sofrimento. O que me trouxe a Aracaju foi essa fala de Dom Távora, principalmente, quando ele disse que não entendia a minha saída do Nordeste para ir trabalhar em Niterói. Dava para ele pensar que eu estava à procura de comodidade e de conforto. E o padre, quando se formava, não ia atrás de comodidade. De imediato, respondi que aceitaria o convite de Dom Távora e vim para Aracaju.

No ano de 1966, retornou mais uma vez. Agora, para enfrentar um outro tipo de trabalho pastoral. De início, Dom Távora lhe deu a capelania do Colégio São José, além de conseguir um espaço na Faculdade de Filosofia para que ele fosse ensinar latim. Chegou com a fama de ser o padre da juventude, denominação dada em Recife.

Em Recife eu celebrava a Missa do Sorvete. Veja bem minha ligação com Sergipe: a Sorveteria Free Sabor, lá do Recife, é de um sergipano de Frei Paulo e fica ao lado do Salesiano. A missa das 17 horas aos domingos, eu só pregava cinco minutos e dizia, logo no início, que a missa teria a duração de trinta e dois minutos. Terminada a missa,eu ia com todo o pessoal tomar sorvete.

Sendo um professor querido dos alunos do Colégio de Aplicação, a fama de ser um padre identificado com a juventude logo correu na cidade, a ponto de ser aplaudido quando marcava presença no Ginásio Charles Moritz no período de realização dos Jogos da Primavera.

A convite do prefeito Cleovansóstenes Aguiar, aceitou o cargo de diretor do Departamento de Turismo da Prefeitura de Aracaju, contando com o jovem João de Barros, hoje, o Barrinhos do Jornal da Cidade, dando o cargo de diretor do setor de artesanato.

Com a implantação da Empresa Sergipana de Turismo pelo governador Paulo Barreto, participou, por dois anos, da empresa como assessor de Relações Públicas. Mais tarde, com a regulamentação da profissão, recebeu a carteria da Associação Brasileira de Relações Públicas de número trinta e seis. Na administração José Carlos Teixeira, na Prefeitura de Aracaju, exerceu a função de secretário de Educação do município de Aracaju. Por dois anos, foi o secretário geral do Conselho de Cultura no governo Lourival Baptista.

Uma movimentada carreira de professor, tendo lecionado por muitos colégios de nossa cidade, entre eles o Arquidiocesano, Salesiano, GCM, Colégio de Aplicação, Atheneu, Instituto de Educação Rui Barbosa e os cursos Beta e Visão. No curso superior, foi professor por prova de títulos das Faculdades Integradas Tiradentes.

Tenho a grata satisfação pelo período em que passei na Tiradentes. Um período muito bom, onde passei dezesseis anos. Lá me aposentei. Numa hora de luta, quando Uchôa foi despejado na rua Laranjeiras, eu fiquei ao lado dele. Acompanhei toda a trajetória da faculdade.

Atuou como editorialista do Jornal de Sergipe desde o período de José Carlos Teixeira, continuou com Nazário Pimentel, só deixando de escrever quando o jornal deixou de circular. Não regularizou sua situação perante o Sindicato dos Jornalistas, antes da instalação da Faculdade de Jornalismo, quando poderia ser provisionado como tal, porque não quis.

Tenho um outro mercado de trabalho e acho o mercado de trabalho de jornalistas em Sergipe muito restrito. Não deveria tirar a oportunidade de um jovem que faz a faculdade para exercer a profissão de jornalista. Fui editoriaslita do Jornal de Sergipe durante sua existência, e é bom que se diga que eu nunca fui remunerado pelo jornal, apesar do Nazário Pimentel sempre ter exigido que eu recebesse.

De sua passagem pela imprensa, conta dois momentos importantes. Um, quando eu escrevi um artigo que atingia o presidente da República: “Figa, Figueiredo”. E o outro foi: “Cala a Boca Baptista”. Foi um artigo que atingiu o Dr. Lourival Baptista, meu amigo. Ele teria dito que uma arruaça, que se fez num comício, tinha sido do vereador do PMDB. Eu era vereador do PMDB e me ofendi com isso. Fiz um artigo muito forte. Isso me traz uma grata recordação e me mostra a grandeza de alma do senador Lourival Baptista. Eu pensei que ele tinha motivo para ficar ressentido comigo, porque eu fui muito forte, fui fulminante e o Dr. Lourival, na primeira vez que me viu, e isso aconteceu num avião, deixou o lugar dele e veio se sentar ao meu lado para conversar comigo.

Participou da política partidária, sendo vereador durante doze anos da Câmara Municipal de Aracaju. O ingresso na política partiu de Oviêdo Teixeira. Aceitou por não haver, na época, uma proibição expressa por parte do arcebispo de Aracaju.

Depois, eu soube que isso não era do agrado do bispo, e essa foi a minha desobediência. Eu não devia ter entrado na política a fim de obedecer ao meu superior hierárquico. Como não obedeci ao bispo, ele me afastou da atividade religiosa por dezesseis anos.

Da política, confessa que tem gratas recordações. Um tempo bom, um tempo gostoso. Da Câmara de Vereadores, a maior recordação foi de ter participado da aprovação do Estatuto do Magistério na parte municipal.

Afastado da política, recebeu o convite de Dom Luciano Duarte para o retorno à atividade religiosa, em vista da necessidade de padres em Aracaju. Dissea ele que aceitava. Foi uma opção minha, voltar a uma determinação de Dom Luciano. À política partidária não mais voltaria.

Continua ensinando no Instituto de Educação Rui Barbosa, restando dois anos para encerrar suas atividades como professor do Estado, já que tem vinte e nove anos como professor. Atualmente, é chefe de gabinete do vice-governador do Estado, pároco de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no conjunto Orlando Dantas, e assistente eclesiástico arquidiocesano do Encontro de Casais com Cristo.

Aracaju é o lugar dos seus sonhos para morar, prometendo continuar por aqui, mesmo tendo propriedades em Pernambuco. Até o momento, seu nome nunca foi indicado para receber o título de cidadão sergipano. Diz que, depois que se ordenou sacerdote, jamais perdeu a fé e há de ser padre até morrer.

Faleceu em  08/09/2005.

Foto e texto reproduzidos do site: osmario.com.br

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 4 de fevereiro de 2014.

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