Rosa Moreira Faria e a data maior
de Aracaju *
Por Maria Lígia Madureira Pina
(17.03.2012).
Rosa Moreira Faria, a artista
plástica da História de Sergipe nasceu na cidade de Capela, no dia 28 de abril
de 1971. Era filha do artista João Guimarães de Faria (João da Luz, como era
conhecido) e de Dona Arminda de Moreira Faria.Logo cedo perdeu a mãe, tendo
sido criada ( ela e os irmãos Luís, Carmelita e Djalma ) pelo pai e a avó
materna, a professora Rosa Faria, formada em Lisboa. Rosa fez o curso primário
no Grupo Escolar Coelho e Campos e o Curso Normal no Colégio Imaculada
Conceição, na sua cidade natal. Formada em 1941, logo foi nomeada professora
para Boa Vista, município de Capela, como prêmio, por haver feito todo o curso
em 1º lugar. Depois foi transferida para Itapicuru. Em 1945 foi transferida
para o Grupo Escolar Barão de Maruim. Neste mesmo ano começou a lecionar no
SENAI. Logo foi escolhida para fazer o Curso de Artes Aplicadas à Educação, no
Departamento Nacional de Aprendizagem Industrial, no Rio de Janeiro. O Curso
teve a duração de 18 meses. Também no Rio de Janeiro fez o Curso de Extensão
Universitária sobre Psicologia do Adolescente, tendo como professores Dom
Helder Câmara, Alceu Amoroso Lima, padre Negromonte e Malba Tahan. Fez também o
Curso de Orientação Vocacional, disciplina que exerceu no Senai. Em 1952 fez o
Curso de Desenho para o Ensino, sendo autorizada a lecionar esta disciplina em
todo o território nacional. Depois fez o curso de Didática-Extensão
Universitária na Faculdade de Filosofia de Sergipe e o Curso de Taquigrafia na
renomada escola dos professores Ximenes e Zeli. Aprendeu também Telegrafia,
tendo feito concurso para os Correios e Telégrafos, passando a trabalhar nessa
instituição. Quando professora do SENAI foi indicada pelo então diretor Dr.
José Rollemberg Leite para dar um Curso de Artes em Petrolina/PE a pedido do
Bispo Dom Avelar Brandão Vilela que se disse encantado (ele e as populações de
Petrolina e Juazeiro) com o trabalho realizado pela professora.
ROSA FARIA – A jornalista
Era membro da Associação
sergipana de Imprensa e como tal foi recebida na congênere brasileira, no Rio
de Janeiro, em 1971. Sobre essa visita escreveu o Diretor da ABI, Pedro
Coutinho, na Revista da Associação:” Este Brasil é o País das surpresas...Rosa
Faria entra no meu gabinete e me entrega um ofício da ASI. Era uma
apresentação.Conversamos.Em poucos minutos compreendi que estava à frente com
uma extraordinária artista, esbanjadora de beleza e cultura.Quanto lhe ficará a
dever o pequeno e glorioso Sergipe! A Galeria “Rosa Faria” é um orgulho não
apenas para a terra de Fausto Cardoso, mas para todo o Brasil.Merece a compreensão
e o apoio de todos, principalmente dos administradores.Pedro Coutinho”.
Escrevia para alguns jornais da cidade durante datas comemorativas em artigos
conclamando o fervor cívico ou argumentando temas polêmicos em determinados
períodos.
ROSA FARIA – A escritora
Além do pincel e das tintas, Rosa
gostava de Literatura. Publicou em 1947 a biografia de Dom José Thomaz Gomes da
Silva na forma de calendário. Em 1948 publicou Sinopse Biográfica do Monsenhor
Carlos Costa. E culminou em 1995 com o álbum histórico “Sergipe Passo a Passo
pela sua História”. Tudo com recursos próprios. Nunca contou com qualquer
ajuda, pública ou particular. Nem as visitas ao Museu ela cobrava. Seu único
interesse era divulgar a sua arte e vê-la reconhecida. Rosa é também a autora
do Hino do 4º Centenário do início da Colonização de Sergipe. A música é do
professor e maestro Leozírio Guimarães.
ROSA FARIA – A artista plástica
Vencedora do prêmio 1º Centenário
de Aracaju, instituído pelo prefeito Dr. Jorge Maynard e realizado no governo
de Dr. Roosewelt Menezes, em 1955. Rosa recebeu aplausos em público de pessoas
expressivas da nossa sociedade, como: Epiphânio Dórea e o artista Rodolpho
Tavares. Face as dificuldades para expor os seus trabalhos, fundou a Galeria
Rosa Faria, em 17 de março de 1968. Transformou-a em Museu de Arte e História
“Rosa Faria”.
O acervo possui além das peças em
azulejos, várias telas a óleo. Mas o que ressalta a sua obra são as pinturas em
azulejos e porcelana que retratam a História de Sergipe. Para realizar este
trabalho único no mundo Rosa mergulhou na pesquisa de documentos e fotos do
passado. São mais de 600 pratos retratando praças antigas e fatos históricos. E
mais, a galeria dos Presidentes e Governadores de Sergipe.
Painéis: O Engenho Unha de Gato,
onde foi realizado o projeto da transferência da capital de São Cristóvão para
Aracaju. Outro mostrando a lenda e as teorias sobre a origem do toponímico
Aracaju. O Duque de Caxias que ela presenteou ao 28º Batalhão de Caçadores.
Outro foi Tiradentes doado à Polícia Militar. Também azulejos com retratos e
históricos de pessoas de relevo cultural. Também azulejos com retratos e
históricos de pessoas de relevo cultural como Dr. Augusto Leite, Dra. Cesartina
Regis Amorim, Dra. Maria Rita Soares e muitos outras. E ponto culminante do seu
trabalho gigante “Sergipe Passo a Passo pela sua História”. São 122 placas de
cerâmica, contando a História do nosso estado, toda baseada em documentos. Do
conjunto constam também mapas, hinos, símbolos e jornais antigos de Sergipe. E
mais... azulejos contando fatos e retratando vultos da História do Brasil e de
Sergipe.
Espalhados pela nossa Aracaju e
interior existem painéis da autoria de Rosa. Muitos deles doados para
instituições pela generosidade da artista. Nas Igrejas de N. S. do Rosário, na
de São Judas Tadeu, na Catedral Metropolitana, na de São Francisco, no Conjunto
Inácio Barbosa, na de Santa Rita, na de N. S. de Loreto, no bairro Rosa Elze e
na de N. S. do Perpétuo Socorro, no Conjunto Orlando Dantas. Este é o segundo.
O original foi mal assentado pelo pedreiro e ruiu sob a trepidação causada por
um caminhão/caçamba. A artista ficou desesperada... Mas logo se refez do choque
pintando outro painel. Na Casa do Trabalhador Menor, na Rua Porto da Folha. Na minha
residência a tela a óleo Canavial em Fogo; na casa da Dra. Cássia Barros, outra
tela com o mesmo motivo. Na da professora Yvone Mendonça de Souza a tela
Primavera, todos presenteados pela amiga generosa que ela sabia ser. E tantos
outros doados aos parentes e amigos: Romance Eterno, Espelho da Natureza,
Nostalgia Sertaneja etc. Na Associação Sergipana de Imprensa encontram-se vária
telas a óleo. Muitas delas foram danificadas, quando do serviço de pintura do
prédio. A nossa artista restaurou-as gratuitamente. Na cidade de Capela
encontram-se vários painéis, por exemplo, no Colégio Imaculada Conceição e na
Igreja de N. S. do Amparo. Criou as Comendas “Gumercindo Bessa” para o tribunal
de Contas e a de “Tobias Barreto”, para a Procuradoria da Justiça.
Era patriota por excelência.
Amava apaixonadamente o Brasil e em particular a Sergipe. Angustiava-se com as
injustiças, a corrupção, o descaso para com os vultos históricos. Foi ela quem
sensibilizou o Prefeito Wellington paixão para recolocar a estátua de Tobias
Barreto no pedestal, que tinham colocado sobre a calçada durante uma reforma
anterior. E acompanhou todo o trabalho até a hora da reinauguração.
No dia 17 de março comemorava o
aniversário da Capital com a presença de autoridades, professores, estudantes,
ao som da Banda de Música do corpo de Bombeiros ou da Polícia Militar. Fazia
discursos inflamados de civismo e no final presenteava os convidados com peças
em azulejo lembrando fatos históricos.
Recebia visitantes do Brasil e do
exterior. Doa livros de presença constam assinaturas de vultos importantes do
mundo cultural: Graziella Cabral, Aurélio Buarque de Holanda, Carmem Viana,
Aristheu Bulhões, Monsenhor Carlos Costa, Severino Uchôa, Sebrão Sobrinho,
Leyda Regis, Cônego Domingos Fonseca, Dom Luciano Cabral Duarte; os repórteres
da Globo Cid Moreira e Alexandre Garcia, só para exemplificar. E todos deixaram
isso registrado. O Dr. José Calazans ficou tão surpreendido e encantado que
parafraseando o poeta Gonçalves Dias escreveu numa exclamação: “Meninos eu
vi!...”
Por tudo quanto realizou foi
homenageada em vida com os títulos de Amiga da Marinha, Amiga do Exército,
Medalhas do Mérito Serigy nos graus de Cavaleiro e Comendador, Título de Cidadã
Aracajuana pela Câmara Municipal, pelo Programa TV Memória da Fundação Aperipê,
pelo Jornal da Cidade, na página Memória, do jornalista Osmário Santos.
No dia 1º de maio de 1997 Sergipe
foi surpreendido com a notícia do falecimento dessa extraordinária mulher,
dessa guerreira incomparável que, no dizer do reitor da Universidade Tiradentes
Joubert Uchôa de Mendonça “ fez com as mãos uma obra inédita que só uma máquina
poderia realizar”.
Com a sua morte física o “Museu
de Arte e História Rosa Faria” fechou as portas. Mas foi apenas uma fase, um
ciclo que se completou porque a sua obra, o seu nome permanecerão entre nós. A
posteridade poderá conhecer a obra gigante no Memorial de Sergipe, graças a
sensibilidade do Reitor Joubert Uchôa de Mendonça. Ele acolheu todo o acervo
histórico, num contrato com a irmã e herdeira da artista Maria Carmelita
Moreira Faria.
Naquele 1º de maio Sergipe
lamentou a perda da artista da sua História. O Corpo de Bombeiros prestou-lhe a
última homenagem, conduzindo o esquive envolto na bandeira de Sergipe e em
carro aberto. O sepultamento digno do seu valor pelo muito que fez em prol da
perenidade da História de Sergipe.
A arte era a vida de Rosa Faria,
tanto que ela afirmava: “Quero morrer com o terço numa mão e o pincel na outra.
Lá de cima eu quero ainda pintar o sete”. Estas palavras são o epitáfio da sua
sepultura.
Texto e fotos reproduzidos do blog
academialiterariadevida.blogspot
Postagem original na página do facebook, em 19 de Agosto de 2012.
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