terça-feira, 13 de março de 2012

Programa "Gato de Botas" e a Rádio Cultura



"O programa Gato de Botas foi concebido, dirigido e apresentado por Aglaé Fontes, parte da Escolinha de Música, com alguns alunos como atores. Tive importante parte no Gato de Botas durante toda a existência, inclusive substituindo Aglaé nas suas ausências. No programa de auditório de Santos Mendonça, participamos várias vezes, e ali muita coisa começou. Mas o personagem Gato de Botas deu nome á concepção de Aglaé para um programa infantil educativo e divertido. Houve durante uma época uma parceria de Aglaé e Santos Mendonça, quando participamos do programa de auditório dele, que era maravilhoso, sempre distribuindo prêmios e com promoções incríveis, tudo á frente de seu tempo. Lembro que ganhei um pequeno concurso de contos, ganhando dinheiro, tudo em notas novinhas, cheirando e estalando - Mendonça lia as histórias e o público ia selecionando com aplausos até as finalistas, e daí a platéia fervia, torcendo pela sua história favorita. Lembro que a minha competiu ao final com a de uma menina mineira, Celinha Otoni, e no final, levei o prêmio. Vestia uma camisola cor de rosa, pois tinha participado como atriz de um sketch teatral que Aglaé havia preparado para o programa de Mendonça. Tudo era maravilhoso, a experiência de fazer programa de auditório ao lado de alguém como Santo Mendonça foi incrível. Dali, partimos para anos do Gato de Botas na Rádio Cultura de Sergipe, a rádio que d. José Vicente Távora deu a Sergipe, com Ribeirinho (Sodré Júnior), CLodoaldo de Alencar Filho, Raimundo Luis, as crônicas de Hugo Costa, Acácia Maria, Ana Gardênia, Luciano Silva, Oscar Macedo, Reinaldo Moura, toda aquela gente maravilhosa que mexeu com o Sergipe da época. O Gato de Botas tinha audiência em três estados, atingindo os vizinhos Bahia e Alagoas e ficou no ar acredito que de 7 a 9 anos, naquela época, criança, tudo era meio atemporal, não lembro direito, teria que pesquisar. Foi também a época das novelas da Rádio Cultura, quando fiz o Diário de Ann Frank, aos 9 ou 10 anos de idade e Hunald Alencar, o namoradinho dela, Peter Van Dan. Ribeirinho dirigiu a novela (excelente diretor), Aglaé e ele faziam os pais de Ann (eu), Alencarzinho fazia o sr. Van Dann, Acácia Maria fazia a secretária que tinha contato com eles do escritório embaixo do sótão onde estavam escondidos. A novela atravessou fronteiras e bateu recorde de audiência. A Rádio recebia tantas cartas de todo Sergipe, Alagoas e Bahia, que ler passou a ser uma tarefa. Eu recebia cartas questionando a minha idade, achando que era mentira da rádio para atrair público, que uma criança tão nova fizesse personagem tão complexo. Foi aí que Hugo Costa escreveu Crônica para o Ouvinte Desconfiado, lida depois da hora do Ângelus, na voz inconfundível de Reinaldo Moura, que lia as crônicas de Hugo como ninguém, E tive que ficar sentadinha (toda encabulada) na Cultura algumas manhãs de sábado, papai orgulhoso ao meu lado, aguardando ouvintes que vinham visitar a menina que fazia Ann Frank. Na época, por não ser remunerada, ganhei um relógio (o meu primeiro) de ouro do diretor da rádio, um senhor gordo, que se chamava Pedro e esqueci o sobrenome... :) Raimundo Luiz escrevia a crônica esportiva, o ambiente da rádio Cultura era a nata da cultura e arte de Aracaju. Uma época de ouro. Ali Reinaldo Moura também começou o seu programa de auditório, do roteiro das 11, programa famoso. Santos Mendonça, a esta altura já sem seu programa de auditório, fazia estrondoso sucesso com o seu Calendário, o programa de notícias e informação de maior sucesso da história do rádio sergipano. Mendonça era melhor comunicador que qualquer um dos famosos do sul, não tinha ninguém igual, era insuperável. O Calendário durante anos tomou conta de Sergipe. O acompanhamento que fez do crime de La Conga mexeu os tres estados e colocou toda a população de Sergipe de ouvidos colados todas as noites, acompanhando as entrevistas arrebatadoras (tinha Edite, a mulher de La Conga, cúmplice do crime e que tinha sido empregada da minha casa durante uma semana, mas roubou tecido importado de um terno de papai e foi embora!). Ali no prédio da Associação Católica, também funcionava o jornal da diocese A Cruzada (criação também do magnífico d. Távora, um carioca que deu a Sergipe um banho de ouro cultural e de cunho social, perseguido pela ditadura, morto de desgosto pela ditadura), e a Escolinha de Música de Sergipe, de Aglaé, durante um grande período, graças à visão, mais uma vez do Dom (a quem eu adorava, era mútuo). Enquanto a rádio Cultura jorrava beleza pelo ar, A Cruzada lançava as crônicas de Gratia Montal e a Escolinha de Música produzia grandes peças teatrais infantis. Era um celeiro de arte aquela Ação Católica. Grandes e belos tempos. Devo muito e tanto a toda aquela experiência e a todas aquelas lindas influências que me seguiriam pela vida afora, que me ajudaram na minha composição de um ser mais integral, mais humano, mais arte, mais feliz". (Clara Angélica Porto).

Clara Angélica Porto em comentário na página do Facebook  em 4 de setembro de 2011

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