sábado, 22 de março de 2014

Os Oitenta anos do Padre Humbert Leeb.


Os Oitenta anos do Padre Humbert Leeb.
Por Lúcio Prado Dias *

A Sociedade sergipana comemorou nesta quinta-feira, 20 de março. os 80 anos do padre Humbert Leeb, missionário austríaco que em Sergipe fundou o Centro Esperança de Deus, na região do Porto do Mato, litoral sul de Sergipe. Uma obra transformadora que tirou a região da miséria extrema, em obra social gigantesca. Fui convidado para saudá-lo, em nome da Academia Sergipana de Medicina. Abaixo transcrevo o meu discurso:

Excelências,
Padre Leeb, excelência maior da noite.
“A verdade está no mundo à nossa volta” ( Aristóteles)
Mais do que mera formalidade, assim considero cada data de aniversário. Mais ainda quando se comemora 80 anos de vida.
Pelos princípios aristotélicos, dizemos que, se hoje existimos, é por que existimos em ato. Mas antes disso existem as potencialidades. Passamos então da potência ao ato. Mas quantas pessoas existem apenas em potência e nunca chegarão a existir em ato? Dizendo de outra maneira, quantas pessoas poderiam existir, mas não existem, e nunca existirão!
Assim, todo "feliz aniversário" que se ouve deve ser, no fundo, um reconhecimento de que a existência do aniversariante neste mundo é querida e, principalmente, reconhecida. E toda omissão desse tipo de felicitação é afirmação tácita de que sua existência é indiferente. De que se ele nunca tivesse passado da potência ao ato, o mundo seria pouco diferente do que é.
Transpondo para a nossa pequena comunidade do sul de Sergipe, o que seria dela se a potência não se transformasse em ato, em ação? A ação transformadora pela ação do missionário austríaco, a quem hoje nos curvamos em reverência.
A Sociedade Médica de Sergipe e a Academia Sergipana de Medicina, irmanadas, comparecem a esta solenidade para reverenciar a ação do grande homem que dedicou a sua vida para a recuperação e valorização social de outras vidas. Disse-me ele certa vez que, ao olhar para cada ser humano que ajudava, via nele a imagem do Cristo.
Se comungamos hoje a mesma tristeza de constatar o descaso com a sua obra, fruto de uma vida inteira, só Deus sabe como, para construir, rejubilamo-nos por encontrá-lo altivo e destemido, no instante mágico dos seus 80 anos e constatar o fruto do seu grandioso trabalho transformador para aquela população, sempre esquecida pelo poder público.
Passei a acompanhar a obra do Pe. Leeb a partir de 1988, onze anos após sua chegada de barco a Porto do Mato, na região denominada Porto da Nangola, trazido do Rio de Janeiro por uma filha da terra sergipana, Joana Batista Costa. Quando eles chegaram à região, a miséria era extrema. Não existia acesso terrestre, os nativos viviam do pescado, as doenças grassavam, a mortalidade infantil beirava a níveis absurdos: de cada quatro crianças que nascia três morriam antes de completar um ano de vida.
Com a força inabalável da fé e a vontade de cuidar do sofrido povo do local, ele edificou uma obra portentosa. Com a “cruz da reconciliação”, um símbolo esculpido em madeira afirmando a presença do cristianismo, deu início a uma nova era na raquítica paisagem do sul sergipano. Fundou o Centro Esperança de Deus, um complexo que passou a acolher o povo da região, abrigando-o em múltiplas tarefas profissionalizantes, culturais e cristãs, com respeito absoluto às tradições locais. Oficinas, escolas, posto de saúde, pousada, foram edificadas e prosperaram ao longo dos anos, transformando o local numa pequena cidade, com quadra de esportes, restaurante, campo de futebol, entre outras.
Após 30 anos de dedicação plena e exclusiva à obra que edificou, mudando radicalmente as condições de vida da população, na semeadura do bem comum, no resgate da dignidade e da autoestima, Padre Leeb despediu-se de seu povo para o merecido descanso, feliz pelo cumprimento de sua missão. No entanto, quem tinha a obrigação de preservar esse patrimônio do povo de Sergipe, infelizmente não o fez e a comunidade passou a amargar o fel do abandono, do descaso e do descompromisso. Mas o obra está aí, clamando por ajuda para a retomada de sua missão.
Dedico-lhe um trecho de “Poema de Aniversário” do poeta e compositor Vinicius de Moraes.
“Passam-se dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.
Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida”.

A vida segue, Padre Leeb, e nós estaremos sempre a aplaudir o seu trabalho, lembrando e cobrando das autoridades a responsabilidade pela preservação do seu legado, que tantos benefícios trouxe para o sofrido povo de Porto do Mato.

Prost! Que tenha uma vida longa pela frente!

*Texto reproduzido do Facebook/Linha do Tempo/Lucio Prado Dias.

Foto: Marcelle Cristinne/Secult.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 22 de março de 2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário