terça-feira, 15 de setembro de 2015

Os eleitos de Deus

Amaral Cavalcante.

Os eleitos de Deus
Por Amaral Cavalcante.

Botei meu tênis de caminhada e fui passear na orla, para desentravar as juntas e queimar a carga de carboidratos que acumulei nesses três dias de feriado.

Andei até os arcos, cumprimentando a todos com um leve sinal de cabeça, gozando da respeitável comiseração que têm os desconhecidos transeuntes, por um velho senhor de cabelos brancos a caminhar tão faceiro entre eles. Acompanhava-me o último livro de contos do amigo Antonio Carlos Viana que eu venho lendo devagarinho, a cada página me surpreendendo com a simplicidade do seu estilo. Sentamo-nos num banco sombreado ao lado do pensador Manuel Bonfim que ressonava impassível na sua pose brônzea, indiferente aos meus encantos com a literatura de Viana.

Na volta, como já era meio dia, resolvi almoçar no velho bar Santo Antonio, um dos três últimos restaurantes “nativos” que sobraram na orla e onde ainda se come um peixe fresco torrado no caco, de especial crocância e sabor ancestral. Os outros dois reminiscentes dos velhos tempos são a Bar do Joel e a Toca do Pinto, do Cabo Duda, no fim do calçadão, onde se pode encomendar um repasto dos deuses e encontrar, vez por outra, os fantasmas de antigos moradores da Atalaia contando potoca.

No “Santo Antonio” encontrei o mestre João Oliva com sua indefectível bengala, acompanhado de familiares. Pois bem, do encontro deste setentão com o octogenário João Oliva resultou uma gostosa conversa, testemunhos de alguns momentos gloriosos e de desastres históricos, hilários e estapafúrdios, na vida sergipana.

Mas o que mais me impressionou foi a inteireza física do velho jornalista, sua prodigiosa memória e a graça com que arquiteta futuras aventuras, lépidas viagens que pretende fazer para rever o mundo, como uma ida próxima a Buenos Ayres para tomar um bom vinho nos cabarés portenhos ao som de tangos, enquanto uma ragazza esbanja sensualidade nos braços do seu partner.

Foi um belo encontro numa mesa temperada com mútua admiração. Ao sair de lá comentei com meus botões: ah! se Deus me quisesse tanto bem...

AC., em 07/09/2015.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 8 de setembro de 2015.

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