sábado, 27 de julho de 2013

Não a Volta, Um Primeiro Retorno


Garimpado por Antonio Corrêa Sobrinho nos arquivos da Gazeta de Sergipe, um texto de Luiz Antonio Barreto aos 27 anos.
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Não a Volta, Um Primeiro Retorno.
Por Luiz Antônio Barreto.

Antes era aqui: a mesma paisagem verde. Tardes nas praças sentado no banco do povo, noites na galeria Álvaro Santos; o mesmo papo. Um dia se deu a arribação, e eu montei o grande cavalo branco voador e desci. Muita mistificação na cabeça, muita vontade de aparecer no lugar grande, e, acima de todos os pesos, uma imensa carga para sustentar. Vaguei por empresas de notícias e escritórios de advocacia; sobrevivi algum tempo. Depois foi o Instituto Nacional do Livro, a Assessoria Cultural. Muitos planos, muitos trabalhos, muitas viagens pelo Brasil, muito viver entre as gentes das várias regiões, muita gente conhecida dos meus olhos, muitos cursos e muitas conferências; era o começo.

Depois de um ano e pouco de trabalho, saí. Fui, por conta e risco de Antônio Simões dos Reis, sergipano de boa raça, promovido a editor. Fiz planos, juntei gente comigo: Fausto Cunha, Assis Brasil, Flávio Moreira da Costa, Fernando Py, e publiquei duas dezenas de bons livros. Larguei tudo, entreguei a distribuição da editora à “Civilização Brasileira” e os destinos de edição a Fausto Cunha, e fiz o meu primeiro retorno. A Universidade foi a casa que me abrigou. Saí menino e voltei de terno, com a responsabilidade do que fazer pendendo sobre os meus ombros. Não demorarei, ficarei só o tempo de criar.

Não terei tempo de sentar nos bancos das praças, mesmo estando dentro da paisagem verde. Os amigos se espalharam e com eles as ideias. Não os meninos, as ideias dos meninos estão borbulhando em muitas cabeças novas. Aqui estou presente, com 27 anos feitos e talvez vividos, com o corpo magro e o nariz denunciando uma presença judia embora eu seja a favor dos árabes na luta do Oriente Médio, e com os olhos perdidos na saída da barra: esperança de partir de novo.

Aqui estou presente e de pé, não mais poeta, não mais compositor, não mais artista, só um cidadão começando a estudar e a aprender as coisas do povo. Aqui estou de terno, mas humilde, caminhando por entre as cidades que conheci e vivi, por entre fileiras de homens que identifico a cada um com um gesto ou com o silêncio dos meus lábios. Aqui estou com a coragem de querer ser, ao mesmo tempo, palavra e diálogo, verdade e esperança, certeza e fé; adormecer todas as mentiras e as ilusões.

Acordar com o peito cheio de liberdade, sair correndo pela relva limpa depois da colheita, atravessar os rios e destruir as fronteiras, oferecer uma flor à primeira pessoa que passar pelo meu caminho, e caminhar até me perder, tombando ou caindo nos braços mais fortes da mulher amada e companheira, ou da ¬¬terra: lugar do último retorno; a volta definitiva. Já estou presente e qualificado.

Demorarei pouco. Mais de um ano. E partirei de novo, descendo a estrada, seguindo querendo a cidade (que não é tão grande como eu pensava quando fui pela primeira vez), abençoado e tudo.

Gazeta de Sergipe – 11/02/1971.


Texto e foto reproduzidos do Facebook/Linha do Tempo/Amaral Cavalcante.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 22 de julho de 2013.

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