segunda-feira, 22 de julho de 2013

Mais um Encontro Cultural de Laranjeiras (2012)




Publicado no Blog cronistas-se, em 12 de janeiro de 2012.

Mais um Encontro Cultural de Laranjeiras.
Por: Emanuel Araújo

Há alguns dias era noite de Natal, menos ainda estávamos na virada do Ano Novo. E 2012 já está se encaminhando. Como o tempo corre depressa. (esse déspota terrível!) E chegou mais um Encontro Cultural de Laranjeiras. Fiz esse texto pra ajudar a gente, leitor amigo, a respeito de coisas que pensei recentemente.

"Laranjeiras, Sergipe tem saudades de ti."

Parece uma loucura falar de folclore, de cultura popular num contexto em que a força da tradição cada vez mais se esfarela. A tentação atual é exorcizar a lembrança das experiências e o valores das gerações que já passaram. Porque é que Laranjeiras insiste ? Porque não se rende as modas importadas de outros cantos ? Porque ainda inventa de falar em sergipanidade ? São algumas perguntas que aparecem, leitora amiga, principalmente quando a gente se dá conta de que nossos costumes, nossos hábitos agora passam a tratar do passado como um trambolho velho, um zero a esquerda.

Faça essas perguntas a Seu Deca (do Cacumbi), ao Mestre Zé Rolinha (da Chegança), ao Mestre Sales (do São Gonçalo do Amarante), a Dona Nadir (do Samba de Pareia), a Bilina (das Taireiras). Eles não vão arrumar nem palavra bonita, nem discurso arrumado. Vão falar com a simplicidade. Por isso, com autoridade. Talvez seja o cumprimento da profecia de Jesus Cristo, Deus se esconde aos soberbos e dá sua graça aos humildes. Laranjeiras sabe respeitar sua história. Sabe de onde veio. Foi do horror da escravidão. Ah... se a gente pudesse ir até um tronco de açoite, ou a um canavial e ver um negro ser judiado e perguntasse a ele do que tinha mais saudade. E, certamente, ele diria da saudade louca que os pretos guardavam de sua terra África. E por isso cantavam, batucavam, dançavam.

Todos os anos, na primeira semana de janeiro, aquelas velhas calçadas de pedra-sabão se arrepiam diante dos cortejos. É como se o passado se fizesse presente. Lembrança que o tempo não apagou. A cidade serve de cenário para o espetáculo ao ar livre. Contam-nos a glória de tempos passados monumentos e altares. Laranjeiras das lutas abolicionistas e da propaganda republicana. Laranjeiras, arrodeada de colinas, parece um ninho de onde as Águias da Inteligência decolaram seus vôos. Não existe melhor cenário para expressar nós sergipanos. A proliferação de engenhos favoreceu um enorme vigor econômico. O número de escravos superava a de brancos. A força catequizadora dos descendentes de europeus não foi capaz de apagar os valores afro daquela gente.

Não compreendo uma sociedade que pretende ser o 'país do futuro' e ainda resiste a valorizar sua história. Os Encontros Culturais de Laranjeiras, prestes a completar 40 anos, são um sinal, um farol para nossa sergipanidade. Se a gente for fiel ao que aprendemos, ao que vimos e ouvimos daqueles que nos precederam nossa identidade vai estar garantida. Não se trata uma apologia a uma cultura ancestral, uma teoria fria, uma realidade extinta. É defesa. Principalmente para uma época em que tudo vai se homogeneizando. Claro que ninguém precisa deixar de tomar coca-cola, usar facebook ou escutar Michel Teló. Afinal, nós também fazemos história, mesmo que não nos demos conta.

E quem não gostou do que leu, paciência!

Fotos e texto reproduzidos do blog: cronistas-se.blogspot.com.br/2012.

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 21 de julho de 2013.

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