Foto: César de Oliveira.
O Grande Guerreiro das Lutas Democráticas.
(Uma Homenagem a José Carlos Mesquita Teixeira).
Por Dilson M. Barreto.
Fugindo da linha de trabalho estabelecida para elaboração
dos artigos por nós publicados nesta coluna, abro hoje uma exceção para prestar
uma singela homenagem a um homem público de grande valor e com uma relevante
folha de serviços prestados ao Estado de Sergipe e na consolidação do processo
democrático, ao lado de grandes vultos da política brasileira de elevada
envergadura como Ulisses Guimarães e Tancredo Neves. Trata-se aqui, do eminente
político sergipano José Carlos Mesquita Teixeira.
Há algum tempo venho alimentando este desejo, por reconhecer
neste ilustre sergipano uma figura de alto valor e que merece ser sempre
lembrado justamente pelo seu passado histórico. José Carlos sempre foi um
irrequieto ativista no que diz respeito às demandas políticas e na luta pela
consolidação da democracia.
Desde a década de 1950, ao lado de Jaime Araújo e
Tertuliano Azevedo, militou na União dos Estudantes Secundaristas (USES).
Quando estudante em Salvador participou ativamente da campanha “O Petróleo é
Nosso”, deixando fluir sua vocação para as lides políticas. Direcionado por seu
pai Oviedo Teixeira para ser empresário, em suas veias, contudo, pulsava o DNA
da política e foi nela que encontrou sua realização plena, não obstante as
decepções enfrentadas ao longo desse caminho. Nessas suas andanças pelo mundo
da política, tinha sempre como objetivo maior o de servir e nunca o de
servir-se.
Foi o fundador, nos idos de 1965, do Movimento Democrático
Brasileiro (MDB) em Sergipe, quando existia um grande receio dos políticos da
época em fazerem oposição ao Regime Militar, tornando-se inclusive o seu
primeiro presidente, cujo mandato alcançou o período 1966-1975, e que foi transformado
em 1979 no Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Mesmo tendo o
aval do Governo Militar que arbitrariamente instituiu o bipartidarismo para
falsear a ilusão de que o Brasil vivia sob o signo da democracia, o MDB surgia
assim, na visão de José Carlos Teixeira, como um partido de oposição à
ditadura, e esta foi justamente sua plataforma de luta enquanto pertencente à
direção daquele partido. José Carlos sempre demonstrou grande coragem para
enfrentar os momentos mais difíceis vivenciados pelo Brasil quando do Golpe
Militar que cassou, torturou e matou vários brasileiros. Combatendo
publicamente tais atos hediondos, o ilustre sergipano aqui homenageado sempre
esteve na linha de frente em defesa dos ideais democráticos. É também da década
compreendida pelos anos 1960, a sua participação nos movimentos culturais, com
destaque para a Cultura Artística onde, juntamente com outros intelectuais
sergipanos, exerceu papel relevante na divulgação de artistas e compositores,
difundindo no seio aracajuano o gosto pelo teatro e pela música.
José Carlos Teixeira construiu, ao longo da sua vida
pública, uma história política que dignifica Sergipe, justamente face à sua
conduta impecável de coerência e capacidade para enfrentar as adversidades que
se interpuseram ao longo da sua caminhada, sempre na defesa da democracia, da
liberdade e dos direitos do cidadão. Mesmo não podendo ser identificado como um
militante esquerdista, todavia sempre foi um progressista de centro-esquerda,
de viés nacionalista, convicto em suas posições políticas. E como tal, soube
romper com o tradicionalismo familiar para dedicar-se de corpo e alma às causas
democráticas.
Opositor ferrenho ao Regime de 64, sempre pautou o exercício
de suas atividades políticas no combate às injustiças e o arbítrio, utilizando
inclusive a Tribuna da Câmara Federal para denunciar corajosamente as prisões e
torturas, tenham sido elas ocorridas no interior do País ou no Estado de
Sergipe, como foi o caso da célebre “Operação Cajueiro” em pleno carnaval de
1976, ocasião em que alertou o Governador José Rollemberg Leite sobre as
prisões arbitrárias de militantes sergipanos que estavam ocorrendo nas
dependências do 28º Batalhão de Caçadores, transformado num centro de tortura.
Ao mesmo tempo em que alertava o Governador, também do Plenário da Câmara dos
Deputados usou da Tribuna para, listando os nomes dos diversos companheiros
presos, reiterar o direito dos familiares a visitarem seus parentes.
No âmbito da política partidária em Sergipe, foi eleito
Deputado Federal pelo Partido Social Democrático nas eleições de outubro de
1962, e reeleito duas vezes agora pelo MDB nas eleições de 1966 e 1974, e 1982
pelo PMDB. Nas eleições de 1970 não foi reeleito Deputado Federal, porém,
excetuando o candidato eleito Francisco Rollemberg (19.026 votos), obteve um
número de votos (17.498) superior aos demais eleitos pela ARENA. Quando das
eleições de 1986, concorreu juntamente com Antônio Carlos Valadares e Tânia
Elias Magno da Silva ao Governo do Estado, não obtendo votos suficientes para
galgar o Palácio “Olímpio Campos”. Nas eleições de 1978 e 1994 candidatou-se ao
Senado Federal, não obtendo votos suficientes para se eleger.
Ao longo da sua trajetória, foi proprietário de um Jornal em
Aracaju e de uma gráfica no Distrito Federal, o que lhe permitiu ser eleito
vice-presidente do Sindicato das Indústrias Gráficas (1974-1976) e diretor da
Federação das Indústrias do Distrito Federal (1979-1982). Exerceu ainda
diversos cargos públicos, como Diretor de Captação da Caixa Econômica Federal
(1987-1989), Prefeito de Aracaju (1986), Vice-Governador do Estado na primeira
eleição do Engenheiro João Alves Filho (1991-1994) e Secretário da Cultura já
no terceiro mandato governamental do Dr. João Alves Filho, último cargo público
por ele exercido.
Teimando insistentemente em continuar pertencendo à cúpula
que comandava o seu querido partido, o PMDB, todavia, não encontrando mais
espaço para continuar convivendo com suas novas lideranças em função do choque
de ideias, já no raiar do ano 2000 encerra definitivamente sua bem sucedida
carreira política. José Carlos Mesquita Teixeira durante toda sua trajetória
política de cerca de quarenta anos, identifica-se como o grande guerreiro das
lutas democráticas, merecendo, portanto, a homenagem registrada nestas poucas
linhas. Homenageá-lo é fazer justiça a este homem público que tem uma história
de vida extremamente dignificante no cenário político, administrativo e
cultural de Sergipe, merecendo, portanto, o nosso mais profundo respeito.
Texto reproduzido do Facebook/Antônio Samarone.
Postagem originária da página do GrupoMTéSERGIPE, de 29 de agosto de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário