Publicado originalmente no Portal Infonet/Blog Luíz A.
Barreto, em 10/02/2012*
Grandes e Pequenos Enterros.
O registro da imprensa é implacável, quando reproduz os
fatos.
Por Luiz Antônio Barreto.
O registro da imprensa é implacável, quando reproduz os
instantes emocionados, que marcam a vida dos sergipanos. E é, ao mesmo tempo,
um termômetro, fixando na linha do tempo as imagens dos vultos que desaparecem,
deixando vazios que nem sempre são preenchidos no cotidiano das referências
sociais. O enterro do Governador SEIXAS DÓRIA suscitou comentários e
observações, que ensejam reflexão. Foi um enterro pequeno, considerando a
grandeza do morto, a longevidade de sua existência e o tempo entre a doença, a
morte e o sepultamento. Um enterro aquém da imagem de uma homem acostumado com
as multidões, motivado pelas teses que defendeu, como ninguém, pelo Brasil,
principalmente na segunda metade do século XX, século das guerras e das
reconstruções democráticas, na dialética política que marcou a história do
mundo.
Há registro, nos jornais, que o enterro do desembargador
Homero de Oliveira, em 1910, causou emoção em Aracaju. Homero de Oliveira era
poeta festejado, jornalista e orador dos mais acatados, descendente da família
Oliveira Ribeiro, tradicional em Laranjeiras. Em 1927 um enterro marcou
profundamente Aracaju, o do dr. Thales Ferraz, Diretor da Fábrica Sergipe
Industrial, levado na mão, desde o Bairro Industrial até o Cemitério dos
Cambuís (hoje Cruz Vermelha). Entre os mais velhos foi o maior enterro que a
cidade já assistiu: povo nas ruas, comércio fechado, filas e multidões,
estiradas desde a fábrica até o jazigo, que hoje, ao que parece, não existe
mais. De Thales Ferraz restam poucos.
Celibatário, não deixou filhos,mas tem no Rio de Janeiro,
uma sobrinha, Eloida Ferraz, filha de Lizipo Ferras, artista do canto, do piano
e das artes plásticas, nascida em Aracaju.
O enterro do médico Carlos Firpo, assassinado em casa, na
rua Campos, enquanto dormia. O assassinato provocou uma comoção nunca vista na
capital sergipana e o povo, chocado e triste, deu ao Diretor do Hospital Santa
Isabel o choro solidário da partilha da dor que se abateu, como tragédia, sobre
a família. O comércio, muitas vezes sensível, como demonstração de respeito e de
admiração, cerrou suas portas e ajudou a que se formasse, ao longo das ruas por
onde passou o féretro, uma plateia emocionada. Outros enterros mereceram dos
sergipanos de Aracaju uma presença de centenas e centenas de pessoas, de todas
as idades, manifestando o sentimento mais íntimo, e justo, que tem diversos
significados. No mundo da política os exemplos não são dos melhores. Quando
morreu o Dr. Leandro Maciel, líder de décadas de vida pública, foram poucos os
que lhe prestaram honra e homenagem, no saguão do Palácio do Governo.
Em Rosário, onde foi sepultado, também foi pequeno os
admiradores e correligionários do velho líder udenista.
SEIXAS DÓRIA, o grande mestre da palavra, do nacionalismo,
do patriotismo, teve pouca gente a evocar sua trajetória política, que
atravessou toda a segunda metade do século XX. Um público aquém dos seus
merecimentos, no velório do Palácio Museu Olímpio Campos e no Cemitério Colina
da Saudade. Os que não foram perderam a oportunidade de render justas
homenagens ao grande SEIXAS DÓRIA e deixaram de ouvir uma oração impecável,
recitada pelo Governador Marcelo Deda, resumindo, com estilo, elegância e
precisão, a biografia política do Governador, morto quase aos 95 anos. Talvez a
vida longa tenha concorrido para que não chegassem às escolas, as marcas de uma
impecável carreira política, a serviço do Estado de Sergipe e do Brasil. As
escolas, quase sempre, são desertas de informações sobre Sergipe, sua história,
sua literatura, seus vultos, seus homens públicos e isto se constitui numa
falta que empobrece o civismo dos sergipanos. Fora da mídia diária,
envelhecendo recolhido ao convívio familiar, SEIXAS DÓRIA saiu da cena pública,
embora tenha contribuído com o Estado nas últimas décadas, tanto utilizando o
seu prestígio junto ao Poder central, em benefício de obras fundamentais ao
Estado, como o Porto de Sergipe, quanto presidindo a Fundação Oviedo Teixeira,
parceira da Universidade Federal de Sergipe na promoção editorial.
SEIXAS DÓRIA não morreu, calou-se. Seus discursos, entrevistas,
palestras, conferências, estão nos anais políticos do Brasil e a qualquer hora
podem ser consultados, como repertório admirável que comprova sua participação
na vida pública de Sergipe e do País. Sua viúva, que foi companheira sensível e
decidida, recortou e guarda, para a posteridade, um arquivo que é fiel
reprodução da ação política documentada pelos jornais. Seu neto, que guarda o
mesmo nome do avô, já dá passos na direção de organizar uma memória de SEIXAS
DÓRIA, que possa ser de uso de estudantes e professores. É preciso, logo, que
seja organizado em torno do Governador morto, um centro, um instituto, um
memorial, alguma coisa que recupere e projete, no âmbito da sociedade
sergipana, o compromisso de manter viva a biografia política e intelectual do
grande SEIXAS DÓRIA.
*Texto e imagem reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Grupo MTéSERGIPE, de 10 de agosto de 2014.
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