Publicado originalmente no Facebook/Fan Page/Petrônio Gomes.
O “Esquadrão".
Por Petrônio Gomes.
O Quartel do 28º “Batalhão de Caçadores” ficava onde hoje
está situado o Hotel Pálace, aliás, onde esteve, na Praça General Valadão, que
naquele tempo era chamada “Praça da Cadeia”, tendo em vista que a Cadeia também
funcionava ali, no lugar onde se ergue o Palácio Serigy. Precisamente às vinte
e uma horas, ouvíamos o toque da corneta, anunciando a “revista”. Era muito
próxima nossa residência, ali na rua “João Pessoa”, depois “José do Prado
Franco”. Morávamos nos fundos do Café Aragipe, mas no tempo em que o Quartel do
Vinte e Oito lá estava, o Café se chamava ainda “Café Santa Terezinha”.
Juntamente com o toque da corneta, estava implícita a ordem
de silêncio na cidade, embora o regulamento daquela unidade do Exército nada
tivesse a ver com os costumes da província. O que é certo é que os últimos
frequentadores da praça General Valadão costumavam ir saindo de mansinho, e em
poucos minutos, o recanto ficava deserto.
Meia hora depois, ouvíamos o ruído dos cascos dos cavalos da
Polícia Militar em sua ronda costumeira pelas ruas centrais da cidade. Poucas
ruas de Aracaju eram, então, pavimentadas com paralelepípedos. O atrito dos
cascos contra o granito costumava, às vezes, arrancar faíscas, uma coisa muito
natural para os adultos, mas impressionante para as crianças...
Vi, certa vez, um cavaleiro a soltar as rédeas do animal que
partiu em perseguição a um fugitivo. Eu já estava vestido para dormir, a rua
estava às escuras, tudo, enfim, contribuía para ressaltar o fogo rápido das
faíscas. Desde então, fiquei associando aquele espetáculo noturno ao sentimento
mais ou menos confuso de ‘segurança”.
O que eu havia presenciado fora apenas um ato rotineiro de
uma unidade de cavalaria da Polícia Militar, que a cidade batizou de “Esquadrão”.
Para cada área da cidade, eram designados alguns soldados que deveriam fazer a
ronda noturna, constituindo o que hoje se chama de “policiamento ostensivo”.
Era uma espécie de Rádio Patrulha da época, naturalmente sem os recursos e sem
o alcance de hoje. Mas costumava dar certo.
O “Esquadrão” simplesmente não conversava fiado com
desocupados. Sua ordem consistia em lembrar os retardatários de que já havia
chegado a hora de dormir e pronto. Qualquer cidadão recostado à porta de uma
loja que já estivesse trancada, fumando e olhando para os lados, seria passível
de uma ordem vexatória. Os casais que estivessem também de um lado para o
outro, sem saber onde deveriam ficar para contar seus segredos, seriam
igualmente convidados a tomar a ‘marinete” e voltar para as respectivas
residências (“Marinete” era um ônibus que usava calças curtas).
Sei que os tempos eram outros, desculpem-me todos. Não havia
o pesadelo das drogas, a população era menor, não existiam os acenos a mil
distrações proibidas. Nossos costumes determinam, em grande parte, a
intensidade dos nossos sofrimentos. Quando eu testemunhei a perseguição do
cavaleiro dentro da noite, o Secretário de Segurança era conhecido como “Chefe
de Polícia”. Parece que vem dar no mesmo, mas não é bem assim...
Com um pouco de boa vontade, notaremos que a terminologia
que usamos obedece também às circunstâncias, refletindo nossas fraquezas e
nossos anseios. Quando a gente dizia “Chefe de Polícia”, todo mundo entendia
que ele tinha autoridade para resolver a parada de qualquer maneira. O mesmo
não acontece com “Secretário de Segurança Pública”, a quem todo mundo acha que
pode pedir explicações, pois que não é Chefe de coisa alguma...
Com o “Esquadrão” também era assim. Ninguém tinha tempo de
discutir, quando o cavalo vinha disparando atrás dele...
Imagem: historiacolegiosenadora.blogspot.com.br
Texto e foto reproduzidos do Facebook/Fan Page/Petrônio
Gomes.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 30 de agosto de 2014.
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