Publicado originalmente no Jornal da Cidade.Net, em
31/03/2014.
MEMÓRIAS DE SERGIPE.
Antônio José Andrade: uma vida de luta.
Por Osmário Santos.
Um pernambucano, filho de operário de fábrica de tecidos que
começou a trabalhar aos 14 anos de idade. Com espírito de luta, na
sobrevivência da vida, passou por várias experiências profissionais. Chegando
em Aracaju como vendedor de capas para liquidificador, hoje, já em uma outra fase
da vida, conta sua vida, da sua participação no Rotary Club, e fala dos seus
desejos e frustrações.
Antônio José de Andrade nasceu na cidade de São Lourenço da
Mata, Pernambuco, em 5 de julho de 1928, sendo filho de Manoel José de Andrade
e Ester Borba de Andrade.
Filho de um operário de fábrica de tecido que dedicou sua
vida à Companhia Industrial Pernambucana, em Camaragipe, São Lourenço da Mata,
diz com muito orgulho, que aprendeu com o pai a ser honesto, responsável por
tudo que faz, lição transmitida aos filhos, passando agora, aos netos.
De sua mãe guarda uma lembrança muito importante, uma mulher
dedicada ao lar, sempre voltada aos serviços de casa, passando muito carinho
para Antônio José, e seus 12 irmãos.
Da infância, lembranças de um tempo repleto de felicidade.
Menino de uma família pobre, ocupou esse tempo em contato com a natureza, com a
educação através dos padres jesuítas e muito contato com a religião católica,
onde aprendeu desde cedo, que tudo que acontece na vida, tem o dedo de Deus.
Vivendo numa vila operária, porém, cercado de muito calor
humano, prevalecendo o espírito de fraternidade, coisa rara hoje em dia, com
lágrimas nos olhos, relembra essa fase de sua vida, principalmente do momento
em que teve os primeiros contatos com os livros, através da Corporação Operária
da Fábrica de Camaragipe, entidade mantida pela Companhia Industrial
Pernambucana, dirigida por religiosos.
Curso ginasial.
Com idade de 14 anos terminou o curso ginasial, realizado no
município de Caxangá, na proximidade de Camaragipe, no antigo Colégio São Luís.
Ao receber a notícia do pai, da impossibilidade da
continuidade dos estudos por problemas financeiros, compreendeu que tinha
chegado o momento de enfrentar o trabalho, para ajudar a manutenção da numerosa
família, em vista dos 13 filhos do Sr. Manoel José.
O primeiro emprego aconteceu na farmácia da Corporação
Operária, experiência que considerou algo fantástico que aconteceu em sua vida,
por ter aprendido a fazer curativo e a aplicar injeção.
No ano de 1946, foi trabalhar na fabrica de tecido de
Camaragipe, trabalhar no setor de pagamento aos operários, onde permaneceu ate
o ano de 48, quando foi convocado para o Exército Brasileiro.
Do tempo de pracinha fala com toda com toda satisfação do
mundo, não esquecendo de dizer o dia em que foi incorporado ao Exército no dia
12 de janeiro de 1948. Se adaptando ao regime, após passar o período de
adaptação, fez curso de cabo, sendo aprovado em segundo lugar. Foi promovido no
dia 24 de agosto de 48, dia de Caxias.
Sempre querendo mais, fez curso para sargento, obtendo o
terceiro lugar em concurso. A promoção chegou dois anos após, em 50.
Vida de bancário.
No ano de 52, por ter sido aprovado em concurso no Banco
Comércio Indústria de Minas Gerais, em Recife, requereu licenciamento do
Exército. “Minha paixão era trabalhar engravatado em banco”.
Como bancário trabalhou de 52 a 54, tempo em que o salário
que recebia não era o suficiente para manutenção da família, já que estava
casado. Tendo folga na parte da manhã, trabalhava como auxiliar de contador, na
firma Viúvo Sabino Pinho. Da vida de banco aprendeu muita coisa, dizendo que
foi mais uma escola da vida. “Vi a vida com outro horizonte. O banco faz você
fazer novas amizades; através do banco, aprendi a ser homem”.
O bancário, na visão de Andrade, é um soldado com honras de
general. “Trabalha muito e se ganha muito pouco. O soldo é de soldado e as
honras é de general”.
Submetendo com êxito, a um concurso para trabalhar como
gerente de um frigorífico de lagosta na cidade de Fortaleza, foi trabalhar na
Lagosta Braz. “Lá, nós fazíamos as compras, colocávamos as jangadas no mar e
recolhíamos o produto da pesca no frigorífico. De 30 em 30 dias, embarcávamos
as lagostas num navio americano”.
Desastre.
Vindo de Aracati para Fortaleza no ano de 1960, sofreu um
desastre, que provocou a queda, de uma ponte, do automóvel em que estava. “Até
hoje, não sei quem me levou para o hospital. Acredito que tenha sido a mão de
Deus. Passei no hospital seis meses, passando a andar, depois disso, de
muletas”.
De volta ao Recife resolveu partir para uma nova etapa de
trabalho. Uma constante preocupação em conquistar espaço no mercado, sempre
buscando o melhor. “O homem é um sonhador. Sempre ele sonha e só sonha alto.
Sonhei ter barcos de pesca, mas o destino não quis. Esse desastre me fez a
voltar para minha família. Demorei muito para me recuperar, e nessa recuperação
eu quero fazer uma alusão muito especial a minha esposa, pela dedicação
especial que ela teve. Essa força que ela me deu foi a causa da minha
recuperação”.
Na volta ao trabalho montou uma indústria de confecção, que
fazia capas para bujão, fogão, tapetes para banheiro. Através da pequena
indústria, descobriu o mercado de Aracaju, quando passou a fazer constantes
viagens a nossa cidade, para vender seus produtos.
Aracaju.
Com pontos de vendas em Aracaju garantindo a produção da
indústria, que tinha em sua família a base da mão de obra, tomou a iniciativa
de montar residência em nossa cidade. “Nunca me arrependi dessa decisão. Foi
aqui em Aracaju que eu criei os meus setes filhos”.
Com uma casa alugada na Cidade dos Funcionários, montou a
chamada indústria, na realidade uma oficina de trabalho. Decorrido um ano de
trabalho, percebendo uma queda na vendagem dos produtos, resolveu deixar de
lado o trabalho de confecção para prestar serviços na TV Sergipe, que estava em
seus primeiros anos. “Fui trabalhar no Departamento de Publicidade, dirigido
por Luis Carlos Campos. Sentindo que podia desenvolver outras atividades
paralelas, aceitei a função de gerente do Expresso Aéreo. Trabalhei na Rádio
Liberdade como diretor comercial e mais outras coisas feitas em casa. Com minha
pasta, correndo pela cidade, consegui criar meus sete filhos. Em Aracaju só
tenho boas amizades”.
Chegou a trabalhar como gerente comercial no Magazine dos
Móveis, tempo que jamais esquece, por conseguir passar para o diretor da
empresa um novo conceito no relacionamento com os funcionários, através do
diálogo.
Vendedor de letreiros.
Ainda quando estava vendendo comerciais para a TV Sergipe,
teve a experiência de trabalhar com José Lima de Azevedo, vendendo letreiros
luminosos. Sentindo que podia mergulhar em profundidade no ramo dos letreiros,
trabalhando por conta própria, resolveu montar uma pequena empresa de
letreiros. “Conversei com o presidente da TV Sergipe, Gétulio Passos, e ele
imediatamente se prontificou a me ajudar, promovendo minha indenização, me
possibilitando os primeiros passos. Foi aí que nasceu a Ajalux, em 12 de
janeiro de 1978”.
Mas o lado de empresário não tomou conta de todo o tempo de
Andrade, que passou a se preocupar com o lado do serviço ao próximo, se
engajando no Rotary Aracaju Siqueira Campos no ano de 1985, chegando a
presidente no ano de 93.
Dentro da filosofia do servir, aceitou o cargo de presidente
do Conselho da Comunicação da Vara de Execução Criminais. Foi presidente da
Associação dos Empresários do Distrito Industrial de Aracaju, por duas gestões.
Hoje é presidente da Associação das Micros e Pequenas Empresas do Estado de
Sergipe.
Frustração.
Sua frustração foi não ser funcionário do Banco do Brasil.
Passou dois anos se preparando para enfrentar o concurso, sendo impedido de
efetuar a matrícula por força de um decreto de Médici, que só permitia
ingressar no Banco do Brasil quem tivesse até 23 anos. “Essa frustração eu
carrego por todo o tempo”.
Gostaria de poder transmitir o que aprendeu na prática aos
demais, esse é o seu grande desejo.
Considera Aracaju o futuro do Nordeste, pela felicidade de
ter um povo acolhedor e trabalhador. “Muito feliz eu fui em Aracaju, e vou
terminar o meu fim de vida nessa felicidade. Meus filhos, minha esposa, vivendo
um casamento de felicidade, tendo completado no dia 22 de março, 41 anos de
casamento. Se hoje se tivesse de casar, casaria com a mesma mulher.
Família.
Casou com Maria José de Andrade Amazonas no dia 22 de março
de 1953. É pai de Nestor Emanoel, Marcos Antônio, Paulo César, Luísa de
Marilac, Maria Goreth, Carlos Francklin e Patrícia de Paula. “Hoje, são seis
filhos casados e tenho muito orgulho dos 16 netos”.
Faleceu na madrugada de segunda-feira, 24 de março de 2014,
vítima de insuficiência respiratória.
Publicado em 10/04/1994.
Foto e texto reproduzidos do site:
jornaldacidade.net/osmario
Foto: arquivo JC.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 11 de agosto de 2014.
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