terça-feira, 21 de julho de 2015

Renda Irlandesa fizeram Divina Pastora conhecida no mundo




Publicado originalmente no site agencia.se, em 13 de Julho de 2015.

Renda Irlandesa: tradição e delicadeza fizeram Divina Pastora conhecida no mundo.

Em 2008, o modo de fazer renda irlandesa, tendo como referência este ofício em Divina Pastora, foi incluído no Livro de Registro dos Saberes Nacional e reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Fernanda Carvalho, repórter da ASN

No transpassar da agulha o desenho previamente riscado, aos poucos, vai ganhando forma. Primeiro, costura-se no papel o lacê (um tipo de fita), que será o contorno da renda, depois cada espaço vazio do desenho vai sendo preenchido. Pelas mãos das mulheres de Divina Pastora a renda irlandesa vai se transformando em produtos que encantam pela delicadeza e perfeccionismo. Um movimento que se repete no dia a dia das mulheres do município, distante 39 km de Aracaju, há mais de um século, uma técnica única que,em 2008, teve o seu modo de fazer incluído no Livro de Registro dos Saberes Nacional e reconhecido como Patrimônio Cultural do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

São blusas, coletes, bolsas, passadeiras, panos de bandeja, porta copos, sapatinhos para recém-nascidos, colares, golas, vestidos, cintos, brincos e outras diversidades de peças de acordo com a imaginação da rendeira ou a solicitação do cliente.

A renda irlandesa é baseada na técnica de renda de agulha e fitilho. O diferencial da técnica difundida pelas mulheres de Divina Pastora é justamente a substituição do fitilho por um cordão achatado, o lacê, o que confere ao produto final características próprias, onde a textura, o brilho, o relevo e as sinuosidades dos desenhos se combinam de modo especial, resultando numa renda original e sofisticada.

O trabalho é minucioso, uma única peça, por exemplo, de aproximadamente 80 cm x 40 cm pode levar de dois a três meses para ser finalizada.“Vai depender da peça, há algum tempo fizemos um vestido de casamento que ocupou oito rendeiras e levou seis meses para ficar pronto”, exemplifica a presidente da Associação para o Desenvolvimento da Renda Irlandesa de Divina Pastora (Asderen), Adriana Lima.

Atualmente, no município mais de 200 mulheres complementam a renda familiar com as vendas das peças produzidas com a renda irlandesa. A média de faturamento mensal individual com a atividade é de R$ 300. “Destas 200 mulheres, 80 são associadas, mas apenas 40 frequentam a sede regularmente”, explica a presidente.

Colecionadora de títulos e premiações, a renda irlandesa ganhou, em 2011, o Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato, configurando entre os melhores produtos artesanais do país. Já em 2013, as integrantes da Asderen receberam o Selo de Identificação Geográfica emitido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), agregando valora renda irlandesa de Divina Pastora pela garantia de qualidade e autenticidade do produto.

Arte que passa de mãe para filha

Assim como a maioria das mulheres do município, Adriana aprendeu a fazer a renda com a mãe, aos 9 anos. “No início não queria aprender, mas precisava ajudar a minha mãe para completar a renda da família e foi com o dinheiro da renda irlandesa que consegui comprar meu enxoval quando fiquei grávida aos 16 anos. Depois comecei a gostar e a fazer por gosto e hoje sou muito feliz por fazer o que faço. Nove pessoas da minha família fazem a renda. Minha filha também aprendeu a fazer aos 9 anos, hoje ela tem 19 e mesmo cursando Direito ainda faz, quando tem tempo, para ganhar o dinheirinho dela”, diz a presidente da Asderen.

Aos 69 anos, Dona Maria Josefina, mãe de Adriana, ainda faz a renda irlandesa. Segundo a filha, foi com esse dinheiro que ela pagou, por um ano, o curso de Letras iniciado por Adriana. “Minha família sempre foi uma das que mais tirava dinheiro com a venda das peças”.

Maria Marcelino Gomes, também aprendeu a arte com a sua mãe, Ana Rosa Gomes. “Hoje minha mãe está com 90 anos e não faz mais a renda, porque perdeu a visão, mas até uns 70 anos ela ainda fazia. Ela aprendeu a fazer a renda com Dona Sinhá e eu aprendi com ela, aos 10 anos, em uma tira de pano e com novelo de linha. Minha família plantava cana, e minha mãe quando chegava, à noite, fazia as peças para completar a renda da casa. Eu comecei a fazer para me manter, comprar meus cadernos, minhas coisas, e já cheguei a tirar até R$ 600 em um mês”, recorda a artesã.

Conhecida na cidade como Cilinha, Adelcília Carvalho, também aprendeu a técnica com a sua mãe, Maria Alaíde, mais conhecida como Dona Zú, de quem a filha fala com orgulho. “Minha mãe já representou a renda de Divina Pastora em vários lugares do Brasil e do mundo. Em 2008 ela foi a Córboba, na Argentina, e ganhou um prêmio de melhor artesanato ao concorrer com artesãos de 45 países que tinham que produzir uma peça ao vivo em até cinco horas. Hoje minha mãe está com 62 anos e não borda mais, mas ainda faz os desenhos para a gente bordar. Minha mãe aprendeu o ofício com minha avó, que hoje tem 93 anos, e eu aprendi com ela e me aperfeiçoei com Dona Alzira, que foi com quem aprendi a fazer pontos diferentes”.

História

Estima-se que a história da renda irlandesa teve início por volta do século XV, na Europa. Quando o bordado estava se tornando repetitivo, houve inovação por parte das artesãs medievais, que começaram a alterar a forma de fazê-los, levando à descoberta da renda de agulha. Foi na Itália que surgiu, além de outras rendas, a irlandesa, que apesar de ser assim chamada foi repassada pelas missionárias da Itália às missionárias da Irlanda, que posteriormente chegaram ao Brasil e difundiram a técnica em Divina Pastora.

Há algumas versões de como a técnica realmente chegou a Divina Pastora. Uma das rendeiras mais reconhecidas da cidade, Dona Alzira, 66 anos, conta que a técnica chegou a Divina Pastora, hámais de um século, através de freiras irlandesas que chegaram ao município para ensinar catequese. “As freiras ensinaram a técnica a Dona Juli, que era dona de Engenho. Dona Maroca, que era minha tia, trabalhava na casa de Dona Juli e aprendeu com ela. Dona Maroca ensinou às irmãs, entre elas Dona Sinhá, também minha tia, que ensinou a outras meninas da família, entre as quais minha prima Lourdes que foi com que aprendi a fazer a renda irlandesa”, explica.

A versão de Dona Alzira se assemelha a do estudo ‘Modo de Fazer Renda Irlandesa tendo como Referência este Ofício em Divina Pastora – SE’, publicado pelo Centro de Estudos da Cultura Ancestral Brasileira e Associação de Capoeira Lenço de Seda – Lenço de Seda/Cecab na plataforma Scribd. “Está registrada por Lourdes Cedran, num catálogo de exposição que se constitui talvez no mais antigo registro bibliográfico sobre a renda irlandesa em Divina Pastora, atingindo público mais amplo. Com base em depoimentos das rendeiras colhidos no final da década de 70, escreveu: Fomos informados de que a pessoa que introduziu a renda irlandesa em Sergipe foi Da. Ana Rolemberg, já falecida, que a aprendeu com Da. Violeta Sayão Dantas e a ensinou a JúliaFranco. Esta, por sua vez, a transmitiu a Marocas, Ercília, e Sinhá. Estas últimas trêsmulheres, já beirando os oitenta anos, ensinam até hoje o ofício da renda a quase todas asoutras artesãs de Divina Pastora(Cedran, 1979)”.

Diversidade

Dona Alzira, que hoje é responsável pelo design do material produzido pela Asderen, também ensinou a técnica às suas filhas. “Aprendi com 12 anos, porque o meu pai disse que já que a gente não queria nada com os estudos iria ter que aprender a bordar ou trabalhar no canavial. Criei seis filhos com a ajuda do dinheiro que faço com a renda irlandesa, porque o ganho do marido era pouco e eu tinha que ajudar. Agora só paro se perder a vista ou Deus me chamar”.

A artesã deu sua contribuição à técnica também ao criar alguns dos diversos pontos existentes hoje, como o ponto corrente. “A minha inspiração é a minha imaginação, eu vejo uma coisa bonita e já quero trazer para renda”, conta Dona Alzira.

De acordo com as rendeiras da Asderen, hoje há mais de trinta pontos para confecção da renda irlandesa. Cinco são os tradicionais, cocada, barreto e picô, aranha, rendinha e ilhós. Os outros foram surgindo ao longo dos anos pela criatividade das rendeiras, entre eles,boca de sapo, abacaxi, dente de jegue, arainha, ponto pera, sianinha, tijolinho, espinha de peixe, entre outros.

Dona Alzira se sente orgulhosa pelo trabalho que faz e propaga. “Já ensinei mais de 100 meninas, e gosto muito do que faço. A gente se sente feliz em passar o modo de fazer renda irlandesa de Divina Pastora para as novas gerações, para a tradição não acabar, para que seja sempre continuada. Tem uma senhora do Rio de Janeiro que quando vem visitar a família em Itabaiana vai na minha casa para que eu ensine a renda irlandesa a ela e isso orgulha muito a gente, em saber que o Brasil inteiro passou a conhecer nosso município, Divina Pastora, pela renda irlandesa e o trabalho que fazemos”.

Para Dona Alzira, quem deseja aprender o modo de fazer a renda irlandesa precisa de muita atenção, obedecer quem está ensinando para fazer certinho e paciência. “ Nossa renda se destaca porque é mais bem feita, porque a gente gosta e faz com amor. Sempre cobro das mais novas para fazerem tudo bem feito, porque nossa renda já está conhecida, então elas têm que se dedicar mais e sempre se aperfeiçoar. A gente não pensa só em dinheiro, a gente quer ver a costura bem feita, para que todos reconheçam como nossas peças são bonitas e bem feitas, e continue a nos orgulhar”, resume a tradicional artesã.

A tradicional renda irlandesa pode ser encontrada em Aracaju nos Centro de Arte e Cultura J.Inácio, na Orla; no Centro de Turismo, próximo a Catedral Metropolitana; na Rua do Turista, antiga Rua 24 horas, no Centro e em exposições periódicas nos shoppings da capital.

A Associação recebe o apoio da Secretaria de Estado da Mulher, Inclusão e Assistência Social, do Trabalho e Humanos – Seidh, através do Núcleo de Apoio ao Trabalho (NAT), do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), da Prefeitura Municipal de Divina Pastora e do Iphan no trabalho de divulgação da renda irlandesa em eventos no estado, no país e no mundo.

Texto e fotos reproduzidos do site: agencia.se.gov.br

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 14 de julho de 2015.

Dona Hermínia Caldas, 83, se despede da Educação


Publicado originalmente no Facebook/JorgeNascimento Carvalho

Exemplo no serviço público, Dona Hermínia Caldas, 83, se despede da Educação.

Por Jorge Carvalho

Após 59 anos de serviço público, sendo 34 anos dedicados à Educação, a presidente da Coordenação de Moral e Cívica (COMOCI), professora Maria Hermínia Caldas se despede da Secretaria de Estado da Educação deixando um legado de muito trabalho em prol do civismo e da moral.
Seu último dia de trabalho na Seed foi nesta quarta-feira, 15, e ela deixará saudades para os colegas e servidores.

A professora Hermínia Caldas ingressou no serviço público no dia 1º de março de 1956, quando foi dar aulas na Escola Normal e depois também no Estadual Atheneu Sergipense.

"Fui para a escola e gostei demais de trabalhar com o elemento humano, com suas variedades, suas características, seus anseios e suas aspirações", disse.

Em 1969, a convite da Associação dos Professores Licenciados do Brasil, secção Sergipe, foi trabalhar na Secretaria de Estado da Educação, onde, juntamente com outras pessoas, montou o Departamento de Ensino Médio, que não existia ainda. Em 1975, decidiu retornar para a Escola Normal e quatro anos depois foi para a Seed, onde trabalhava desde então na COMOCI.

Bastante alegre e prestativa com todos, professora Hermínia faz um balanço bastante otimista dos seus anos na Educação e de dedicação ao serviço público.

"Faço um balanço muito positivo de tudo o que fiz aqui na Seed, onde encontrei pessoas que mereceram minha confiança e dedicação e, por isso, desenvolvemos um trabalho bastante valioso", afirmou.

Planos.

Aos 83 anos de vida, a professora Hermínia Caldas ainda tem muitos planos para o futuro. "Quero e vou colocar minhas produções literárias em evidência, mediante publicações que eu possa fazer, e criar outros momentos de vida".

Dona Hermínia, que conta com a simpatia e amizade de muitos na Seed e na vida pública, já escreveu aproximadamente 10 livros, entre ficção, poesia, literatura infantil e obras ligadas à Educação Moral e Cívica.


Por ser uma figura de relevante importância para a Seed, em sua homenagem foi inaugurado, no dia 13 de maio de 2013, o Auditório Professora Maria Hermínia Caldas, na sede da Secretaria de Estado da Educação. O espaço é um dos mais requisitados e utilizados pela SEED.

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/JorgeNascimento Carvalho.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 16 de julho de 2015.

Sergipe tem história e estórias à beça




Publicado originalmente no site agencia.se, em 14 de Julho de 2015.

Sergipe tem história e estórias à beça.

Comemorando os 195 anos da Emancipação Política de Sergipe, a Agência Sergipe de Notícias publicou uma série de reportagens contando nossa história e o que temos de mais genuíno, cultura, costumes e nossa gente.

Camila Santos, repórter ASN

História e estórias povoam o imaginário popular e dão eco a lendas e mitos repassados no tempo. Sergipe tem os seus causos, alguns contados e recriados até os dias atuais. Em seu nome, o estado traz a marca do povo nativo, o que mais sofreu com a colonização e praticamente extinto, mas nunca esquecido. A herança indígena está em todos os cantos do estado, mas o caso mais lembrado talvez seja o do Cacique Serigy e sua “maldição” que vem da segunda metade do século XVI. Transformado e adaptado, virou poesia, música e até cinema.

“Originário do tupi si’ri ü pe, quer dizer "no rio dos siris", tendo sido mais tarde adotado Cirizipe ou Cerigipe, que significa "ferrão de siri", nome de um dos cinco caciques que se opuseram ao domínio português”, explica o professor Adailton Andrade no site Fonte da história de Sergipe. Serigy comandou a resistência à colonização e liderou bravamente os guerreiros de sua tribo durante quase três décadas, até a conquista portuguesa em 1590 e a fundação da Capitania de Sergipe Del Rey.
Serigy era líder incontestável no território sergipano. Seu povo vivia entre os atuais rios Vaza-barris e Sergipe. Sua resistência a invasão deu origem à lenda de uma suposta maldição, que uma vez enfurecido por ter sido expulso de suas terras, teria praguejado que nada gerado ali daria bons frutos. Mas nos versos para a “Maldição do Cacique Serigy” de Vinícius Oliveira, que afirma ser descendente do índio, a maldição não foi para o território:

“(...) Mas é preciso pensar
que o amaldiçoado
não foi a terra não
foi o opressor pela opressão
Então é preciso invocar
Pela coragem do cacique Serigy
Uma magia convocar
E nossas orações os corações inspirar”
Bom à beça

Basta reconhecer o intelecto de tantos sergipanos que se fizeram ilustres e colocaram Sergipe no mapa nacional para esquecer de vez a tal maldição. Um deles, por seu talento argumentativo, teria sido a origem de uma expressão popularizada pelo país inteiro e que liga seu sobrenome como sinônimo de “abundância”. Está no dicionário Houaiss com o significado de "em grande quantidade", com os ss substituídos pelo ç e o b minúsculo. “À beça - Argumentar à Bessa”, ou seja, à maneira do advogado e jornalista sergipano, Gumercindo Bessa, nascido em Estância em 1859 e falecido em 1913.

A expressão teria surgido do embate entre o sergipano e o baiano Ruy Barbosa que debatiam sobre a região amazônica do Acre, logo após a compra do território pelo Brasil em 1903. Ruy defendia a incorporação ao Estado do Amazonas, enquanto Gumercindo Bessa defendia a elevação do Acre a território federal, desvinculado administrativamente do Amazonas. “Foi um pega pra capar dos bons, entre dois monstros do direito brasileiro. Os argumentos de Bessa, às dezenas, foram expostos durante horas e horas de falatório, com uma eloquência surpreendente. O sergipano levou a melhor, numa das poucas derrotas de Rui numa querela jurídica”, relata o Dicionário informal. Não apenas pela quantidade de argumentos, mas, sobretudo, por serem convincentes a expressão se popularizou.
A história é famosa, mas há quem a conteste. Em forma de lenda, estória ou história, o fato é que Sergipe tem muito a contar. Assim como Bessa, tantos outros notáveis sergipanos se destacaram, mostrando que o estado não sofreu nenhum tipo de mau agouro.

Imortais

Um bom exemplo desta sorte está nos imortais sergipanos que integram a Academia Brasileira de Letras (ABL): Tobias Barreto de Meneses talvez seja o mais ilustre entre os sergipanos que já ocuparam as suas cadeiras. Nasceu na vila de Campos, que é a atual cidade de Tobias Barreto, e faleceu em Recife, em 1889. Formou ao lado do conterrâneo Silvio Romero a Escola do Recife, em que se buscava uma renovação da mentalidade brasileira. Se destacou, entre outras coisas, por sua oratória de mestre qualquer que fosse o tema escolhido para debate.

Mas outros nomes podem ser lembrados: como o de João Ribeiro, jornalista, crítico, historiador, pintor e tradutor. Nasceu em Laranjeiras, SE, em 1860. Ele empresta seu nome a mais importante comenda da ABL que distingue pessoas ou instituições brasileiras que tenham se notabilizado no âmbito editorial ou cultural. E de Silvio Romero, folclorista, professor e historiador da literatura brasileira, nascido em Lagarto, SE, em 1851. Além destes, também integraram a ABL os sergipanos Gilberto Amado (Estância, SE), e seu irmão Genolino Amado (Itaporanga), Aníbal Freire da Fonseca (Lagarto) e Laudelino Freire (Lagarto). Fonte: ABL.

Instituto Tobias Barreto

É possível conhecer mais do trabalho destes intelectuais no Instituto Tobias Barreto, criado pelo jornalista e pesquisador Luiz Antônio Barreto e que desde 2011 tem seu acervo sob a guarda da Universidade Tiradentes (Unit). A diretora do Instituto, Raylane Navarro Barreto, ressalta que todo o acervo tem uma importância bem significativa para o pesquisador, mas se pudesse destacar algo seria a parte de história e literatura sergipana, por seus livros raros e documentos específicos.

“O acervo é um dos elementos que constitui o Instituto Tobias Barreto. Ele tem cerca de 25 mil títulos entre livros e periódicos, entre 20 e 25 mil imagens, fotografias, incluindo cartões postais, fotos de praças e personagens, políticos sergipanos. Uma boa parte trata da história de Sergipe, mas sobretudo um acervo que envolve a cultura latino americana. Luiz Antônio Barreto quando vivo adquiriu o acervo do diplomata sergipano Paulo Carvalho Neto, que foi diplomata em algumas cidades da América Latina e também nos Estados Unidos. Ele fez um grande recolha de livros, documentos, slides, algumas imagens sob determinadas tribos de nativos latino-americanos e este acervo se encontra aqui também”, informa a professora. Todo o material está aberto ao público e boa parte pode ser consultado pela internet.

Texto e fotos reproduzidos do site: agencia.se.gov.br

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 14 de julho de 2014.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Primeiro Congresso de Médicos Escritores, em Teresópolis





Publicado originalmente no Facebook/Lúcio Prado Dias, em 01/06/15.

Primeiro Congresso de Médicos Escritores aconteceu em Teresópolis.

O primeiro encontro nacional de médicos escritores que se tem notícia aconteceu no Rio de Janeiro, mais de perto em Teresópolis, em 1965, ano de fundação da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores.

Uma pesquisa vem sendo feita há 10 anos pelo atual presidente da Sobrames - RS, Luiz Soares, no sentido de recuperar os anais desse memorável encontro que reuniu, na oportunidade, 22 médicos brasileiros. As atas das sessões ainda não foram localizadas, mas já se chegou a lista nominal dos presentes, todos eles participantes como conferencistas ou declamadores, segundo informações obtidas.

Entre os presentes o médico sergipano Renato Mazze Lucas, psiquiatra e escritor, militante do Partido Comunista e patrono da Cadeira 32 da Academia Sergipana de Medicina. Outros nomes já confirmados: Eurico Branco Ribeiro(SP), Paulo Mangabeira Albernaz(SP), Arthur Dalmasso, Teresópolis(RJ); Octacílio de Carvalho Lopes(SP), Jorge Ferreira Machado, de Petrópolis, Gláucio Bandeira(PR), Dagmar A. Chaves(RJ); Divaldo Gaspar de Freitas(SP), Ida Laura Ricardo de Salles(SP), Ivolino de Vasconcellos(RJ), José da Conceição Ferraz de Salles(SP), João Carvalhal Ribas( SP), Antonio Paulo Capanema(RJ), Marildo Pires Domingues(SP), Alberto Santana(RJ) e Antonio Sumavielle (RJ).

Com se pode perceber, Mazze Lucas foi o único representante da região norte nordeste do país presente ao acontecimento, pelo menos até onde se foi investigado e descoberto.
A obtenção da histórica lista se deu graças ao obstinado trabalho do sobramista gaúcho, a partir de um relatório do Dr. Eurico Branco Ribeiro, fundador da Sobrames. Ele agora está preparando uma publicação contendo as biografias de cada participante.

Através da colaboração do confrade e sobramista Antonio Samarone, que ocupa a cadeira do Dr. Mazze Lucas e é seu biógrafo, os dados do renomado médico e escritor sergipano estarão sendo repassados para o Dr. Luiz Soares.

Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de julho de 2015.

Saúde Pública em Sergipe (Parreiras Horta e Graccho Cardoso)




Publicado originalmente no blogdesamarone, em 08/09/2013.

Saúde Pública em Sergipe (Parreiras Horta e Graccho Cardoso).
Por Antônio Samarone.

Paulo de Figueiredo Parreiras Horta nasceu no dia 24 de Janeiro de 1884, na cidade do Rio de Janeiro. Filho do engenheiro Dr. José Freire Parreiras Horta e de Paula Margarida de Figueiredo Parreiras Horta e veio a falecer na mesma cidade, em 29 de julho de 1961.

Formado em farmácia em 1903, pela Faculdade de Farmácia do Rio de Janeiro, posteriormente graduou-se em medicina, com a tese "Contribuição para o Estudo das Septicemias Hemorrágicas", na cadeira de Bacteriologia, defendida em 21 de janeiro de 1905, tendo sido aprovado com distinção.

O Dr. Parreiras Horta viveu sob a influência das idéias prevalecentes da época, oriundas do Velho Continente, principalmente da França, em que a medicina deveria ser conduzida por conceitos fisiopatológicos. O termo fisiopatologia, o estudo das doenças fundamentada na fisiologia, deve tudo a Claude Bernard, que criou a medicina experimental. O mundo, entre o final do século XIX e a 2ª Guerra Mundial, viveu a crença que a ciência e a medicina, através das pesquisas e da benemerência, legariam à humanidade um futuro venturoso, rico e saudável. As palavras e o espírito de pesquisador de Claude Bernard na "Introduction à le étude de la médicine experimentale", em 1865, constituía-se inspiração para os jovens médicos, quando ensinava, categoricamente: "A inspiração dos médicos que não se esteiam na ciência experimental é só fantasia, e é em nome da ciência e da humanidade que devemos reprová-la e baní-la".

O lugar ideal para suas aspirações seria o pequeno centro da ciência. O Instituto Manguinhos, criado e dirigido por Oswaldo Cruz, recebeu os interessados em pesquisa. Muitos deles ainda estudantes, como o caso Parreiras Horta, desejavam elaborar suas teses de final de curso, sobre assuntos originais no campo da hematologia, sorologia, bacteriologia, parasitologia, anatomia patológica, entomologia, que até 1906, eram os trabalhos mais desenvolvidos na Instituição. Outros médicos vinham em busca de conhecimentos especializados sobre a medicina experimental, ou em busca do conhecimento necessário para prestação de concursos no campo da Saúde Pública, especialidade médica que começava a se tornar importante no meio médico.

Parreiras Horta, desejoso de seguir a carreira de pesquisador, em 1904, último ano do seu curso de Medicina, procurou o Instituto Manguinhos. Entre 1906 e 1907, fez o Curso de Especialização em Microbiologia no Instituto Pasteur, em Paris. Através de portaria datada de 30 de agosto de 1909, foi nomeado para exercer o cargo de Assistente do Instituto de Manguinhos, em substituição ao Dr. Henrique de Figueiredo Vasconcelos. Admitido no Instituto como pesquisador, a convite do Prof. Oswaldo Cruz, passou a desenvolver seus trabalhos no campo da bacteriologia e da dermatologia.

A partir de 01/10/1911, foi contratado como Assistente do Instituto, ficando por pouco tempo, pois em 08/03/1912, a seu pedido, foi exonerado do cargo por ter sido nomeado Chefe da Secção Técnica da Diretoria Geral do Serviço de Veterinária do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Em 1917 foi nomeado professor catedrático de Microbiologia e Parasitologia dos Animais Domésticos, da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária, do Rio de Janeiro.

Em 1919 exerceu o cargo de Diretor da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária e integrou o corpo clínico da Policlínica Geral do Rio de Janeiro, trabalhando no Serviço de Dermatologia e Sifiligrafia, onde sucedeu ao Dr. Werneck Machado e foi substituído pelo Dr. Ramos e Silva.

Tornou-se grande amigo do Dr. Maurício Graccho Cardoso e este, quando estava no Rio de Janeiro, freqüentemente se encontrava com o Dr. Parreiras Horta para trocar idéias. Foi esta amizade, além do seu espírito empreendedor, que o fez vir a Sergipe em 1923 e aceitar o desafio de construir e fundar o Instituto Parreiras Horta, o primeiro no gênero a ser criado no norte e nordeste do país. Foi uma mudança que mobilizou toda a sua família, pois trouxe com ele sua esposa Ruth e seis filhos pequenos, deixando em Petrópolis apenas Paula e Carlos, que estavam estudando.

Em Aracaju, dedicou-se com empenho na fundação do Instituto Parreiras Horta, instituição que foi criada através da Lei nº 836 de 14 de novembro de 1922, destinada a completar a nova estrutura de Saúde Pública estadual. Foi responsável por toda a concepção arquitetônica e organização funcional da nova entidade, acompanhando diariamente a construção do prédio, tijolo por tijolo, localizado no mesmo lugar onde ainda hoje presta serviços à comunidade sergipana.

O Instituto tinha como finalidades principais a produção de insumos básicos, combater a raiva, produzir a vacina anti-variólica, possuía laboratório de análise clínica, bacteriológica e química, além de funcionar também como um centro de pesquisas médicas. O início da construção, em 23 de julho de 1923, repercutiu favoravelmente no meio médico e na sociedade sergipana, porque através da sua capacidade científica, poderia contribuir para esclarecer as chamadas "febres de Aracaju", como também contribuiria decisivamente para elevar o padrão do atendimento da saúde da população, através dos exames de laboratório, contribuindo concretamente para o exercício da medicina científica em Sergipe.

O Instituto foi inaugurado em 05 de maio de 1924, em dia festivo, com a presença do Governador Graccho Cardoso, do Dr. Parreiras Horta e de diversas autoridades e funcionários públicos. Em dezembro de 1925, o Dr. Parreiras Horta, terminada mais uma das suas bem sucedidas missões, tendo contribuído decisivamente para o desenvolvimento da prática médica e a implantação da medicina científica em Sergipe, retorna ao Rio de Janeiro, deixando em seu lugar como diretor da nova instituição, o médico Dr. João Firpo Filho.

Texto e imagem reproduzidos do blogdesamarone.blogspot.com.br


Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de julho de 2015.

Antiga sede da Intendência (atual Prefeitura) de Aracaju



Palácio Inácio Barbosa.
Antiga sede da Prefeitura Municipal de Aracaju.
Praça Olímpio Campos, s/n – Centro – Aracaju/SE.
Fotos reproduzida do site: aracaju.se.gov.br

Histórico extraído de ficha técnica do tombamento:

Antiga sede da Intendência (atual Prefeitura) de Aracaju, construída em um terreno doado pelo Governo do Estado. A construção em estilo eclético, inaugurada na década de 1920, pela Lei Municipal nº 54, de 18/07/1951, foi denominado 'Palácio Inácio Barbosa', em homenagem ao fundador da cidade de Aracaju. Atualmente encontra-se desativado. (Fonte: PMA).

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de julho de 2015.

Antigo casarão, o qual pertenceu a família Rollemberg

Antigo casarão, o qual pertenceu a família Rollemberg,
hoje sede da OAB, na Avenida Ivo do Prado, em Aracaju/SE.
Foto reproduzida do site: aracaju.se.gov.br

Foto reproduzida do site: aracaju.se.gov.br

Histórico extraído de ficha técnica do tombamento:

Antigo palacete da família Rollemberg, em estilo eclético, inaugurado em 1919, obra executada por Frederico Gentile (construtor), Rafaelle Alfano (escultor) e Orestes Gatti (pintor), integrantes da Missão Italiana. Após restauração e adaptação para o novo uso, obra concluída em 2009, passou de residência a nova sede administrativa da Seccional de Sergipe da Ordem dos Advogados do Brasil – OAB/SE, além de abrigar o Memorial da Advocacia e da Ordem. (Fonte: PMA).

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de julho de 2015.

A Saúde Pública em Sergipe (Início da República)




Felisbello Firmo de Oliveira Freire.


Publicado originalmente no Facebook/Antonio Samarone, em 27/06/15.

A Saúde Pública em Sergipe (Inicio da República).
Por Antonio Samarone.

No alvorecer do regime republicano em Sergipe, ainda no Governo provisório do médico e historiador Felisbello Firmo de Oliveira Freire, as medidas sanitárias previstas no Decreto Federal nº 68, de 18 de dezembro de 1889, tornaram-se aplicáveis no Estado, por determinação do poder local. Eram medidas de combate as epidemias; notificação compulsória de algumas doenças (febre amarela, cholera morbus, peste, difteria, varíola, escarlatina e sarampo); obrigatoriedade do isolamento e da desinfecção, conforme a exigência do caso. Chamava a atenção o fato da tuberculose não se encontrar entre as doenças de notificação compulsória. Logo a seguir, em 07 de março de 1890, foi aprovado um novo código de postura do Município de Aracaju, seguindo a legislação federal.

Como forma de regulamentar a Constituição Estadual (aprovada em 18 de maio de 1892), houve também um processo de estruturação jurídica do novo aparelho público, agora independente do Poder Federal. Na área da saúde, durante o governo José Calazans, foi criado o cargo de “Inspetor de Higiene” (lei nº 15, de 29/07/1892), a quem caberia também a responsabilidade de ser o médico da enfermaria de polícia e da casa de prisão. Cargo equivalente aos atuais Secretários de Saúde.

Logo a seguir, em 30/11/1892, através do decreto nº 38, foi aprovado o primeiro “Regulamento Sanitário do Estado”, que organizou o serviço sanitário do Estado de Sergipe, criando a Inspetoria de Higiene (formada pelo Inspetor de Higiene e pelos Delegados de Higiene, um para cada município), e dando outras providências.

O regulamento acima desligou o serviço sanitário de Sergipe da administração federal, em consequência da nova visão federativa imposta pela Constituição Republicana de 1891. Era um Regulamento com 71 artigos, que entre outros pontos, tratava da vigilância sanitária, da fiscalização da medicina, farmácia, obstetrícia e arte dentária; da fiscalização das fábricas, no que elas pudessem atingir às populações vizinhas. No setor da vigilância epidemiológica, definiu a febre amarela, cólera, peste, sarampo, escarlatina, varíola e difteria como doenças de notificação compulsória. A tuberculose continuava de fora. O Inspetor de Higiene para o Estado e os Delegados de Higiene para os municípios, eram as autoridades máximas da Saúde Pública, de livre nomeação do Presidente do Estado.

O primeiro Inspetor de Higiene nomeado no período Republicano, ainda em 1892, foi o Dr. Felino Martins Fontes Carvalho, que nasceu em 29 de maio de 1859, em Riachão dos Dantas/SE, filho de Theofilo Martins Fontes e Anna Joaquina de Almeida Fontes. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 23 de dezembro de 1885, defendendo a tese “Considerações acerca do abortamento”, formando-se ainda em farmácia em 1904. Clinicou em Lagarto, onde fez carreira política, chegando a ocupar o cargo de Intendente (Prefeito) por dois mandatos e deputado estadual por duas legislaturas. Faleceu em 13 de junho de 1918, em Lagarto/SE, com 59 anos.

A Inspetoria de Higiene em Sergipe, como vimos acima, foi criada logo no início do período Republicano (1892). Contudo, durante muito tempo, o seu funcionamento não correspondia às necessidades sanitárias do Estado. A estrutura básica da citada repartição era composta, em seu início, exclusivamente do Inspetor, que ainda acumulava as atribuições de médico da casa de prisão e da enfermaria militar.

Somente em 1895, com lei nº 71, a estrutura da Inspetoria se ampliou com a criação do cargo de “encarregado do lazareto e desinfectador”, para onde foi nomeado o enfermeiro Canuto Severino de Araújo, grande baluarte no combate à varíola no Estado. Em 1896, através do decreto 214, a estrutura da Inspetoria ganhou um amanuense. O primeiro cidadão nomeado para ocupar esse cargo foi o senhor Alfredo Alves de Oliveira. O relatório do Inspetor de Higiene, Dr. Felino Martins Fontes de Carvalho, em 18 de agosto de 1898, assim resumiu a situação da Inspetoria:

“Em tão breve lapso de tempo não me era absolutamente possível fazer um estudo sério e detido deste tão importante e vasto, quanto variado ramo do serviço público, como é a higiene. Entretanto, fiquei logo convencido de que não era ele somente imperfeito e mal organizado entre nós; pode-se afirmar que tal instituição está em período embrionário e quase que não existe ainda em Sergipe, tão pouco é que o temos na espécie".

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Antonio Samarone.

Foto: blogdesamarone.blogspot.com.br

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de julho de 2015.

Sítio de Antônio Francisco Jesus, no município de Itabaiana

Sítio de Antônio Francisco Jesus, no município de Itabaiana/SE.
"Onde há Saracuras em todo canto" (AFJ).
Com informação de Antônio Francisco Jesus.
Foto reproduzida do Facebook/Maria Do Carmo Costa.

Postagem originária da página do Facebook;GrupoMTéSERGIPE, de 12 de julho de 20115.

Recordando Theódulo Côrtes



Postado originalmente no: Perfil/Facebook/Linha do Tempo/Lucio Prado Dias/12/07/2015.

Recordando Theódulo Côrtes.
Por Lucio Prado Dias.

Mais do que encadernador das minhas coleções de fascículos da Editora Abril, que não eram poucas e passavam por todos os tipos de assuntos, Theódulo Côrtes era um amigo.

Admirava muito a sua arte, o seu cuidado no trabalho e principalmente as suas histórias. Por muitos anos frequentei o seu atelier, na esquina da rua Propriá com a Avenida Pedro Calazans.

Mas "Seu" Theódulo não era somente um encadernador, era também o músico, o palhaço e o mágico que animava festinhas da gurizada. Fazia isso por um prediletismo e alegria contagiantes. Lembro que numa das festinhas de aniversário de minha filha Marcela, ele foi a atração, fazendo mágicas e entretendo a petizada. Os meninos cresceram, a febre das coleções desapareceu e nunca mais voltei a ver o dileto amigo.

Nesta semana, voltei hesitante à casa na esperança de reencontrá-lo, porque uma placa me chamou a atenção: "Encadernam-se livros". Com alguns exemplares nas mãos para restauração, fui recebido à porta por Roberto, que me relatou que Côrtes havia falecido, fazia muitos anos, inclusive sua esposa e o único filho também haviam seguido o mesmo destino. Ele agora, como filho de criação, como se denominou, mantinha sozinho o negócio.

Nada na casa me lembrava mais os tempos passados, os móveis, o ateliê, os quadros da parede, o saboroso suco de jenipapo, que gentilmente ele me servia, enfim nenhuma imagem que me reportasse ao velho amigo...

A não ser por uma foto, uma única foto, perdida num canto qualquer, colocada num porta retrato amarelado pelo tempo.

Recordações de um tempo que não volta mais!

Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias.

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 12 de julho de 2015.

ACESE - Associação Comercial e Empresarial de Sergipe



Trecho de artigo publicado no site da ACESE, em 26 de Setembro de 2012, quando da comemoração de seus 140 anos de fundação.

ACESE - Associação Comercial e Empresarial de Sergipe.

(...) Fundada no dia 26 de maio de 1872, com a iniciativa de grandes homens, liderados pelo português Antônio Martins de Almeida. O movimento associativo no Brasil datava de 1811, quando foi fundada a Associação Comercial da Bahia, seguida de várias outras, estando Sergipe entre as 10 mais antigas do país. Na época Aracaju tinha apenas 17 anos de fundada e possuía pouco mais de 5 mil habitantes e cerca de 50 casas comerciais. Desejavam os empresários redução de tributos, acesso a crédito e melhoria na infra estrutura ferroviária e portuária e por esses motivos se reuniram em uma associação que denominaram de Associação Comercial de Sergipe.

Com apenas 17 anos de diferença da capital, a ACESE foi fundada quando Aracaju despontava no cenário econômico estadual. À época de sua fundação – resultado da atitude de progressistas dedicados às atividades comerciais – Aracaju era habitada por 5.286 pessoas, que ainda viviam das expectativas e angústias de uma cidade em formação. Ao completar 157 anos, Aracaju tem pouco mais de 571 mil habitantes, o que representa um crescimento demográfico de aproximadamente 12 mil %.

Na década de 70 do Século XIX, quando a ACESE despontava no eixo comercial com 25 associados, a capital era uma cidade que contava com quatro praças e 18 ruas por onde estavam distribuídas 1.035 casas, contava apenas com alguns edifícios públicos, 51 casas comerciais, três botecos (antigamente chamados boticas), oito padarias, uma casa de bilhar, dois hotéis e diversas estalagens, quando as atividades comerciais se concentravam na antiga Rua D’Aurora - hoje compreendendo as Avenidas Ivo do Prado, Rio Branco e Otoniel Dórea, mais conhecidas como a rua da Frente -, e das Laranjeiras.

Assim nasceu a nossa hoje ACESE – Associação Comercial e Empresarial de Sergipe que, neste sábado completa exatos 140 anos de história em prol da classe empresarial e da população sergipana. Ao longo desse período, vários foram os momentos de defesa da classe empresarial, desde a saudação feita ao então Presidente da República Washington Luís quando da sua visita para inaugurar o prédio da Associação, em 1926, onde cobrou-se melhorias no Porto de Sergipe, ampliação de estradas e a instalação de uma carteira de redesconto no Banco do Brasil, até mais recentemente na defesa e implantação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas e a sua regulamentação em Sergipe.

Ao longo deste período a ACESE tem marcado presença nos principais momentos da história sergipana, inclusive, naqueles mais difíceis. Exemplo disso foi a atuação da ACESE no período de 1918, por ocasião da dolorosa epidemia da “gripe espanhola”, quando a entidade prestou assistência médica e colaborou no fornecimento de alimentos às vítimas do surto epidêmico. Sobre esse episódio, assim registrou o “Diário da Manhã”: “Ninguém há que, sem praticar a maior das injustiças, possa desconhecer os relevantes serviços prestados espontaneamente pela Associação Comercial Sergipana, no doloroso período da visita que nos fez a influenza espanhola”...

Fonte: Assessoria de Comunicação da ACESE.

Trecho de artigo e imagem reproduzidos do site: acese.org.br


Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 14 de julho de 2015.

Federico Gentile: uma lenda viva na construção em Sergipe



Publicado originalmente no JC 2011/Osmário/Memórias de Sergipe.

Federico Gentile: uma lenda viva na construção em Sergipe
Italiano que veio ao Brasil em busca de trabalho viveu no Rio de Janeiro, Salvador e se fixou em Aracaju em 1918.

Por Osmário Santos/JC (22.08/2011).

Num trabalho elaborado pela família através de Marly Gentil, com depoimentos de vários de seus integrantes e que foi possível a sua publicação para a memória de Sergipe graças ao neto, Augusto Gentil, publicamos a vida de um dos grandes nomes da vida da construção civil em nosso Estado.

Antonio Federico Gentile (conhecido como Federico Gentil) nasceu em Città di Paola, província di Consenza, região da Calábria/Itália, em 11 de fevereiro de 1888, era filho de Isodoro Miceli e Francesca Gentile.

Quando pequeno, trabalhava com o pai e os irmãos, primeiro moendo farinha no moinho da família, depois vendendo vinhos Gentile e, finalmente, construindo casas de família de até quatro andares nos arredores de San Lúcido, cidade que é vizinha de Paola.

Aos 17 anos, depois de um período difícil na Itália em que a família perdeu quase tudo nas mãos de agiotas, viajou para o Brasil no navio Rei Humberto, aportando no Rio de Janeiro em abril de 1905 em busca de trabalho.

No navio conheceu aquela que em 26 setembro de 1907 seria a sua esposa – Maria Santa Franzesi, conterrânea de San Lúcido, que viajava com as irmãs Concetta e Antonieta, também com destino ao Rio de Janeiro.

Ainda no Rio de Janeiro nasceram duas filhas: Francesca e Edite, que em 1910 acompanharam o casal de volta à Itália. Segundo Maridélia Gentile, em 1910 seus avós necessitaram voltar à Itália em virtude da mãe de Federico estar com problemas de saúde, chegando a falecer.

A tristeza do casal nessa volta à Itália não ficou por aí, pois faleceram também suas duas filhas mais velhas, tendo como causa uma epidemia que estava alastrada na Europa. Federico não estava conformado
em não vir para o Brasil.

O casal fica em San Lúcido até 1914, quando retorna ao Brasil. Nesse período, teve mais dois filhos: Emílio (1911) e Orlando (1913), que vieram em sua companhia. Estabeleceram-se em Salvador/Bahia e aí Federico e sua família permaneceram por quase cinco anos. Nasceram mais três filhos nesse intervalo de tempo: Ledina Horlinda Sílvia (10 de maio de 1916), Cícero Osvaldo Atílio (20 de dezembro de 1917) e Fredolina (em 16 de dezembro de 1918).

Finalmente, atraído por empresas estaduais e municipais, Federico Gentile chega em Aracaju, em 10 de outubro 1918, onde reside até sua morte, aos 82 anos, em 22 de julho de 1970.

Marbene Gentil fala do avô: “Vovô começou então a trabalhar como construtor licenciado pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura da 3ª Região/Bahia”.

Com coragem, honestidade e inteligência, logo se torna um nome de destaque na cidade de Aracaju, sendo convidado para construir obras importantes como praças, residências particulares, colégios, monumentos e outras.

Transformava seus clientes em amigos e os seus amigos em clientes, já que engenheiros prestigiados da cidade assinavam suas obras, como Leandro Maciel, José Steremberg e Carlos Carvalho. Eles pediam sua opinião em algumas dificuldades confiando na sua sabedoria e experiência.

Com Federico trabalhavam outros italianos importantes, amantes das artes, fazendo parceria em vários trabalhos: seu grande amigo, conhecido construtor, escultor e desenhista Alfano Rafaelle e o elegante e habilidoso pintor Gatti Oresti, que subia nos andaimes de terno branco, pintando tetos e painéis, acabando seus trabalhos sem que uma gota de tinta sequer lhe caísse nas vestes, sendo esse fato conhecido no meio artístico de Aracaju.

Em Aracaju, a família foi enriquecida com mais dois filhos: Herculino Sílvio (4 de janeiro de 1920) e Alfredo (6 de junho de 1921). Foi consolidando aos poucos como uma das famílias mais conceituadas da cidade.

Artista de berço e tradição, Federico Gentile trabalhou na profissão de construtor embelezando com seu gosto arquitetônico apurado as ruas de Aracaju, levantando aqui e acolá obras importantes na capital e no interior do Estado, superando com o trabalho árduo a tristeza e a saudade da sua terra natal, dos amigos e familiares que lá deixara.

Marly Gentile lembra: “A casa do meu avô era ponto de reunião de políticos, engenheiros, militares e patrícios, que não dispensavam aos domingos saborearem as iguarias italianas como as pastas caseiras, conservas, licores e doces feitos por Dona Santa. Nessas reuniões, dois dos que seriam governadores de Sergipe costumavam estar presentes: Dr. Leandro Maciel e o militar Augusto Maynard, além do amigo imigrante Alfano Rafaelle, Dr. Carlos de Carvalho, o comerciante Camilo Calazans e outros”.

Federico Gentil morou durante muito tempo em uma casa na praça Fausto Cardoso e o neto Augusto Gentil tem boas lembranças: “Essa casa da praça ainda vive nas recordações de todos os netos, pois era um verdadeiro paraíso para as nossas fantasias infantis. Era uma casa farta, com doces secando ao sol, licores sendo filtrados, açúcar sendo refinado no quintal, massa de macarrão secando sobre um lençol alvíssimo, potes de geleia de goiaba que vovó escondia para vovô. Polentas suculentas, presuntos defumados pendurados na dispensa, pickles (conservas) em vidros enormes, um fogão a lenha no quintal que só vivia acesso. Tinha ainda um gato preto, um papagaio, galinhas chocando e ninhada de pintinhos. Um jardim de flores, principalmente cravos, saudades e sorrisos que vovô cultivava. Havia também uma figueira cujos frutos só podiam ser colhidos por vovô e uma goiabeira de goiabas vermelhas deliciosas, fácil de ser escalada, onde os netos aprontavam muitas travessuras”.

“Nessa casa lembramos bem de vovô trabalhando no seu barracão (depósito), já naquela época reciclando material de construção, quando com paciência desentortava pregos, passava-os em óleo e guardava para serem outra vez utilizados. E o porão? Quem esqueceu o medo e ao mesmo tempo a excitação de lá entrar e se deparar com animais peçonhentos ou outros piores, frutos da imaginação infantil? Aquele lugar era a prova de coragem pela qual tinham que passar todos os netos Gentile”.
Seus primeiros trabalhos em Aracaju foram as restaurações das estátuas do Palácio Olímpio Campos e da residência do Sr. Adolfo Rollemberg, um grande amigo que muito o apoiava na sua profissão. O referido prédio, atualmente tombado pelo Patrimônio Histórico, é uma marca importante na arquitetura de Aracaju, que recebeu grande influência da arte italiana com a sua contribuição como construtor, a contribuição de Rafaelle Alfano como escultor e desenhista e de Oresti Gatti como pintor.

Trabalhador incansável, Federico Gentile era figura destacada e participava da sociedade sergipana, membro respeitado da loja Maçônica Capitular Cotinguiba, iniciado em 27 de julho de 1929. Várias publicações da época citavam-no, a exemplo da “História Política de Sergipe”, de Ariosvaldo Figueiredo, “O Tenentismo em Sergipe”, de José Ibarê Costa, e outras. Federico recebeu da Câmara Municipal de Aracaju o título de Cidadão Aracajuano.

Em 1988, 18 anos após sua morte, ainda recebeu uma homenagem póstuma da Diretoria Estadual da Liga de Amadores Brasileiros Rádio e Emissão (Labre), com uma placa de bronze fixada à frente da instituição pelos relevantes serviços ali prestados.

Na Revolta dos Tenentes do 28º Batalhão de Caçadores, em 1924, liderada em Sergipe pelo tenente Augusto Maynard Gomes, de quem era amigo, construiu a ponte do Banho Morno em São Cristóvão, local estratégico para a passagem das tropas. Com a vitória dos legalistas do governo, os participantes da Junta Governista foram presos e com eles todos os simpatizantes do movimento.

Federico Gentile, acusado injustamente de ter minado o aterro do Banho Morno, esteve preso junto a diversas personalidades da época, como o Dr. Zaqueu de Freitas Brandão, brilhante advogado, o general reformado José Calazans, os capitães-tenentes Soledade e Albuquerque, respectivamente da Capitania dos Portos de Sergipe e da Escola de Aprendizes de Marinheiro, Hormindo Menezes, proprietário da Farmácia Universal, o diretor proprietário do jornal Correio de Aracaju, o advogado Edson Ribeiro, Tomás Muti, chefe das oficinas da Estrada de Ferro, o oficial do Batalhão Policial, ten-cel Caetano José da Silva, o tenente Stanley Silveira e muitos outros.

Muitos reveses passaram naquele ano, com séria repercussão na saúde de sua esposa, e foi necessário enviá-la ao Rio de Janeiro para sua recuperação. Mas à custa dos bons amigos e com muito trabalho e suor, foi mais um capítulo vencido, demonstrando competência, decência, honestidade e fibra.

Diversas construções foram executadas sob a sua orientação e destacamos algumas: em Aracaju temos a restauração da residência de Adolfo Rollemberg, na Av. Ivo do Prado – tombada pelo Patrimônio Histórico, o palacete de Nicola Mandarino, atualmente sede da Arquidiocese de Aracaju, a residência do Sr. Paulo Vieira, que posteriormente abrigou o Samu e hoje é a Escola Professor Valnir Chagas, o Jardim de Infância Augusto Maynard Gomes, construído em 1931, o palacete do Dr. Pereira Lobo, governador do Estado na época, e a reforma da Penitenciária do Estado no governo do Dr. Eronildes de Carvalho, projeto inspirado nas linhas arquitetônicas do castelo de S. Giorgio, situado na região napolitana de Salermo, onde nasceu Rafaelle Alfano, que participou da obra. Também os coretos da praça Fausto Cardoso, em frente ao palácio do governo, construídos com óleo de baleia, gesso e piaçava, o palacete do Dr. Francisco Fonseca, no primeiro trecho da rua Estância, o Palácio de Veraneio, do governo, na Atalaia, o Banco do Brasil na Av. Rio Branco (demolido), a residência do Dr. Carlos Firpo, na rua de Campos, um pavilhão no Instituto de Química, um pavilhão no Orfanato Dom Bosco, reforma da Catedral Metropolitana, calçamento da praça Camerino até a Av. Barão de Maruim com os respectivos aterros, passeios e trottoir, construção do anexo do palácio do governo, estátuas e balaustradas confeccionadas na fábrica de ladrilhos e colocadas em muitas obras da cidade e o calçamento da colina de Santo Antônio.

No interior de Sergipe, destacamos o Cristo Redentor na cidade de São Cristóvão, um dos cartões de visita da primeira capital do Estado, a ponte do Banho Morno e o grupo escolar, diversas obras nas cidade de Boquim, Lagarto, Estância, Rosário do Catete, Propriá, Simão Dias, Riachuelo, Capela e Campo do Brito.

Durante a II Guerra Mundial, após o torpedeamento de alguns navios brasileiros nas costas de Sergipe por submarinos alemães, alguns italianos não naturalizados foram detidos, já que a Itália era aliada da Alemanha e acreditavam-se que os italianos daqui haviam passado informações via radioamador para os alemães.

Com Federico Gentile, foi detido outro italiano, seu amigo, Nicola Mandarino, que era radioamador. Esse amigo teve sua casa depredada, saqueada por turbas enfurecidas, sendo até o piano da família jogado da sacada. Um outro italiano radicado em Aracaju no ramo de hotelaria, Augusto Marozzi, proprietário do Hotel Marozzi, na rua João Pessoa, só não teve sua casa também saqueada porque estava com a bandeira nacional hasteada.

Revela Maridéia Gentile: “Nosso avô, por precaução, juntamente com sua esposa, foi retirado pelos filhos para a casa de sua filha Ledina Gentil Guedes e fatos importantes aconteceram nesse dia. Os filhos, com receio de que as pessoas achassem que nosso avô era inimigo, esconderam a bandeira da Itália e o retrato do Rei Victorio Emanuel e desmancharam as bananas de dinamite que Federico guardava no porão de sua casa para uso em construção. Após essa tarde tão agitada para os Gentile, Federico recebeu, à noite, ordem de prisão, já em casa de sua filha e passou 17 dias detido, solto após inquérito quando disse que já se sentia também brasileiro com seus filhos e jamais iria atentar contra a pátria que tão calorosamente o acolheu.

Em 9 de setembro de 1957, o casal Federico e Maria Santa teve a felicidade de completar 50 anos de casados e ofereceu uma grande festa, onde foram prestigiados pelo então governador do Estado e uma parcela representativa da alta sociedade sergipana.

Em 14 de setembro, depois de 53 anos de casados, Antonio Federico Gentile perdeu sua amiga e companheira de todas as horas, que muito o ajudou na educação da sua prole. Mulher forte e trabalhadora, Dona Santa Gentile, como era conhecida, trazia no sangue a fibra, a lealdade e a honradez da verdadeira mulher italiana, sempre auxiliando os necessitados que batiam a sua porta.

Em 18 de abril de 1964, aos 76 anos, contraiu núpcias pela segunda vez com Jair Dantas de Brito, uma brasileira de 60 anos.

O Estado de Sergipe muito deve a Federico Gentile, especialmente a cidade de Aracaju. O seu passado de beleza quando a cidade era considerada a “Sultana das Águas, teve seus primórdios no governo de Pereira Lobo, que trouxe para Aracaju a Missão Italiana com Federico Gentile, Oreste Gatti, Belando Belandi, Nicola Mandarino, Rafaele Alfano, Augusto Marozzi , Mário Noxentte, Tomás Mutti e muitos outros.

Hoje o clã dos Gentile iniciado no Brasil com Antonio Federico e Maria Santa Franzesi Gentile está espalhado em vários pontos do país e até no exterior. Atualmente são 215 membros, muitos deles com o gosto apurado para o belo como ele, se destacando não só na área da construção. Mas como doutores na ciência, nas leis, na tecnologia e na vida.

Texto e imagem reproduzidos do site: jornaldacidade.net

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 13 de julho de 2015.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Bocão: companheira fala dos últimos momentos


Corpo de Bocão na Aease: emoção e tristeza.
Foto: Cássia Santana/Portal Infonet.

Infonet >Noticias > 12/07/2015.

Bocão: companheira fala dos últimos momentos
Corpo de Rosalvo chega a Sergipe e está velado na Aease

Já está em Sergipe o corpo do engenheiro Rosalvo Alexandre Lima, o militante comunista que ganhou o apelido de Bocão decorrente da irreverência que sempre cultuou na condição de agente político. O corpo de Bocão está sendo velado na sede da Associação dos Engenheiros (Aease) e será sepultado às 10h desta segunda-feira, 13, na Colina da Saudade.

Em conversa com jornalistas, a funcionária pública Aline Aragão, companheira de Bocão, falou dos últimos momentos daquele que se tornou um dos mais influentes articuladores políticos da história de Sergipe pós-ditadura militar. Rosalvo Alexandre morreu na madrugada do sábado, 11, em um quarto de hotel em Belo Horizonte, capital mineira, onde o casal estava hospedado.

Bocão contrariou a orientação médica e seguiu para Belo Horizonte com a companheira e uma técnica de enfermagem que o acompanhava, tendo como objetivo adaptar o veículo para atender às limitações impostas por uma doença rara, Atrofia de Múltipolos Sistemas (MAS), diagnosticada há dois anos. “Os planos que a gente teve nada foi concluído”, contou Aline Aragão.

“O doutor José Barreto recomendou que ele não viajasse, mas ele disse ‘eu tenho que fazer o que eu quero, eu ainda sou dono de mim’. Ele sempre teve uma posição muito forte em relação às pessoas quererem comandar a vida dele, então a gente sempre fez tudo o que ele queria”, revelou.

Chopp no jantar

Na sexta-feira à noite, 10, o casal desceu para jantar e o último desejo dele foi, da mesma forma, atendido: tomar chopp. Depois da última alimentação e de tomar o tão desejado chopp auxiliado por um canudinho, Bocão e a companheira retornaram ao quarto. “Ele chamou a técnica que sempre nos acompanha, precisou ir ao banheiro e disse ‘Alda eu fiz o número two’, tomou banho e quando a gente o colocou na cama, ele foi ficando branco, foi algo que a gente não esperava porque ele estava bem, estava estável”, disse a companheira.

Rosalvo Alexandre e Aline Aragão tiveram 12 anos de convivência amorosa, há cinco anos estavam morando juntos. Ela esteve presente desde os primeiros momentos que a doença foi diagnosticada há dois anos e dele se tornou inseparável. “Rosalvo foi um homem brilhante e, para mim, foi tudo na minha vida, minha vida vai existir antes de Rosalvo e com Rosalvo”, desabafou, entre lágrimas.

Mas não compreende como a morte chegou tão de repente naquele quarto de hotel, exatamente aos 30 minutos da madrugada do sábado, 11, para silenciar o Bocão [conforme classificou o jornalista Milton Alves, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de Sergipe, um dos amigos do articulador político]. “Foi tudo muito rápido, estou em choque não consigo mensurar o tempo em que tudo isso ocorreu. O Samu chegou em dez minutos, foi tudo muito rápido”, disse Aline.

Bocão foi casado com Leila Lima, com quem teve três filhos. Leila, que se tornou braço forte de Rosalvo durante os anos de chumbo, especialmente no momento em que ele foi preso e torturado pelos militares, também acompanha o velório, sob forte emoção, amparada pelos filhos e amigos.

Por Cássia Santana.

Texto e imagem reproduzidos do site: infonet.com.br

Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 13 de julho de 2015.