Publicação do site nenoticias, em 25/10/2013.
Professor Vilder Santos, se todos fossem iguais a você...
Por Rangel Alves da Costa*
Igual peregrino em busca da montanha para alongar sua visão
de mundo, tal qual o sábio que espera um discípulo para as boas palavras, como
o viajante que na humildade e simplicidade dialoga com pássaros e outros seres,
eis a caminhada de Vilder Santos. Ou alguém que anda por aí envolto de luz e
sabedoria.
Tarefa difícil qualificá-lo nos seus afazeres,
diferentemente de delineá-lo no seu jeito de ser. Professor, radialista, poeta
do triverso, pesquisador incansável, é uma verdadeira biblioteca ambulante. Das
páginas de sua memória surgirão respostas para todo tipo de questionamento,
pois homem culto sem ter a intelectualidade pedante dos especialistas. Folheia
mentalmente desde impensáveis manuscritos aos conhecimentos mais atualizados.
Por isso mesmo também reconhecido como verdadeiro baú de
antigas curiosidades, de fatos pitorescos de outros cotidianos, de histórias e
mais histórias desde que era Aracaju era terra de cajueiros e papagaios. Traz
sempre consigo fatos, datas, números, contextos; enfim, o passado na
acessibilidade da informação mais confiável. Mas lhe dói recordar o parque
Carrossel do Tobias, pertencente a seus pais e tão importante nas tardes
natalinas do Aracaju de outros tempos.
Vez por outra o jornalista Luiz Eduardo Costa faz constar de
sua página dominical no Jornal do Dia alguma importante relembrança trazida
pelo Professor Vilder. Um dado histórico sobre o futebol, o exsurgir das cinzas
de um acontecimento já desprezado pelas transitoriedades da vida, precisamente
aquilo que não pode ser relegado pelos anais da história sergipana. Acessível a
todos, terá sempre como honra ser abordado nas ruas para uma indagação.
De muitos já ouvi que quem não conhecer o Professor Vilder o
acaba tomando por um simples caminhante que passa apressado para comprar o pão
e o leite; de outros ouvi que dificilmente o passante imaginaria quanta
potencialidade intelectual e tamanha grandeza humana acompanha aquele homem de
baixa estatura, magro, cabelo baixo, de tez amorenada e sorriso sempre
aguardando um chamado. Realmente, Vilder Santos contrasta a primeira visão,
pois pequenino e imenso, silencioso e gritante, pacato demais e tão importante.
Importante sim, e de uma importância fundamental para a vida
cultural, educacional, histórica e humana de Sergipe. Nascido em família com
longas raízes políticas, filho de político atuante, pois seu pai, o saudoso
Milton Santos, teve assento garantido na câmara municipal em sete legislaturas
e foi figura das mais prestigiadas na política aracajuana, ainda assim Vilder
reservou para si outro destino. Frequentou com avidez os bancos escolares, foi
estudar em outras cidades, procurou se aprofundar em lições da religiosidade no
Curso de Teologia Pedagógica e talvez até tivesse pensado no sacerdócio.
Porém, como dito, seu destino era outro. Abraçou os livros
como abraça a vida, fez da busca do conhecimento toda sede e fome que possam
existir num homem, percorreu seu caminho como alguém que precisava urgentemente
chegar. Mas chegar aonde? Ao berço sólido do conhecimento, à indestrutível
seara da formação acadêmica e humana. Daí ter se formado em Letras e Direito
pela UFS, além de haver percorrido muitos outros caminhos do saber. E
certamente não quis permanecer nas lides jurídicas porque sua concepção humanista
e educacional lhe mostrava outro caminho.
Enveredou de vez pelos caminhos da educação, ensinando e
aprendendo para ensinar, e se tornou conhecido como Professor Vilder. Seu
percurso no magistério é dos mais profícuos. Ensinou no Ginásio Municipal Belém
de Maria (em Pernambuco), no Atheneu, no Colégio 15 de Outubro, no Instituto de
Educação Rio Barbosa, no Colégio Alcebíades Melo Vilas Boas e em outros centros
educacionais. Pela sua cátedra passaram disciplinas como Português,
Linguistica, OSPB e Moral e Cívica. Colocado à disposição da UFS durante 15
anos, lecionou Estudos de Problemas Brasileiros e depois Psicologia Geral e
Português Instrumental.
É também radialista profissional e verdadeiramente
apaixonado pelo rádio. Sua paixão é tanta por tudo que aconteça no rádio que
atualmente ruboriza emocionado, como num idílio juvenil, ao falar numa locutora
de uma emissora paulista que, segundo diz, possui a voz de despertar corações.
Já manteve programa radiofônico regular, mas hoje parece gostar mais de participar
como ouvinte ou dando pequenas entrevistas. Por isso que não é difícil
encontrá-lo ouvindo um radinho de pilha.
Encontro-o sempre pelas ruas com seu caminhado de cabeça
baixa, pensativo, reflexivo, ou no mercadinho pelos lados da seção de frutas e
verduras. Parece ser adepto apenas da horta e do pomar. Solteiro, não fuma nem
bebe, mas convive e se embriaga com a imensidão de livros que se avolumam e se
espalham na sua moradia. Dorme com os livros, sonha com os livros. Sua vida são
páginas de todos os livros num só livro pequenino e singelo. E quanta sabedoria
em cada página.
Assim é o Professor Vilder. Alguém que anda por aí
carregando uma pastinha com poucos escritos. Mas a pujança de sua bagagem está
na mente, na inteligência, no conhecimento. Quem dera professor, quem dera
amigo Vilder, que todos fossem iguais a você.
*Rangel Alves da Costa, advogado e escritor.
Texto reproduzido do site: nenoticias.com.br
Foto reproduzida do site: stertsergipe.com.br
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 8 de janeiro de 2014.
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