Foto: Macel Nauer.
Reproduzida do blog academialiterariadevida.blogspot
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Publicação do Blog Patrícia Dantas, em 2 de setembro de
2013.
Opinião.
A Primeira-Dama.
Por Patrícia Dantas Romero.
Toda mulher merece casar-se, mas não com o príncipe, nem com
o sapo, e sim com a consciência; a sabedoria suprema, e dela fazer-se companheira,
até o último instante. Assim fez Núbia Marques, uma sergipana, nunca
adormecida, que soube se deixar seduzir pela força da consciência e tornou-se a
verdadeira primeira-dama do Estado de Sergipe, o ícone feminino da literatura
destas terras, a representante do saber moreno, aquela que sabia versejar sobre
a dor do seu povo, sobre a condição de si própria, enquanto mulher, no contexto
da sua época.
Enquanto as moçoilas choravam as suas pitangas, solitárias,
noites a fora, esperando se casarem com os figurões da sociedade, para se
tornarem as primeiras-damas convencionais, Núbia, corajosa, já rodava, com
muita classe e inteligência, à baiana do saber, buscando ser a primeira-dama
por si mesma, falando alto para defender as suas ideias.
Moça, mulher, esposa, fêmea parideira, mãe, avó e
profissional talentosa, Núbia não pulou nenhuma etapa, foi inteira, do inicio
ao fim, com o seu bom gene da rebeldia. Dizem que era malcriada, prefiro dizer
que era consciente de si, do seu próprio valor.
Assim, a nossa Simone de Beauvoir dos trópicos, venceu
batalhas. Numa delas, uniu-se a Abelardo Romero, meu pai, e levantaram a
bandeira pelo ingresso de mulheres na Academia Sergipana de Letras. Talvez por
isso tenha sido ele o escolhido para fazer a Saudação à poetisa, quando da sua
entrada triunfal ao mundo dos imortais.
Segundo disse-me Luís Antônio Barreto, na nossa última
conversa no Instituto Tobias Barreto, em 2009, a dita boas-vindas do poeta à
primeira-dama da literatura sergipana, em 1978, foi tão ou mais efusiva do que
o próprio discurso de posse dele, em 1976. Naquele dia, entre perfumes, coletes
e gravatas, ele não parava de repetir: “Núbia é um grande talento”.
Dela tenho vaga lembrança, pois as visitas ao Sítio da
Catita, em Lagarto, eram esparsas. O rosto levemente avermelhado, contendo
sulcos de versos, falava por si só, como as mãos, que gesticulavam sem parar. A
varanda do nosso sítio ficava pequena, quase não comportava aquela conversa
envolvente entre a poetisa Marques e o poeta Romero. Lá de dentro eu ouvia
gargalhadas. E como sorriam! Falavam de quê, de quem? Eu, criança curiosa,
tentava alcançá-los, mas não conseguia. Só sei que comungavam da mesma hóstia,
a poesia.
Aprendi a admirá-la por tabela, pelos elogios que o meu pai
lhe dirigia, “Amélia, Núbia fez nova poesia”, “Núbia é muito boa”, “Gosto dos
versos de Núbia” e por aí vai. Mas foi num desses dias, bisbilhotando a Net,
que ela me arrebatou por completo, quando li, no blog
academialiterariadevida.blogspot, uma de suas últimas poesias, que transcrevo a
seguir. Ali, Núbia demonstra a consciência pura ao dizer, em outras palavras, o
quão importante é manter “as mãos limpas e o coração puro”. Não julgar as
atitudes do outro para não carregar fardos que não lhe pertencem, ou melhor
dito, numa frase “marquesiana”, não carregar “o vendaval nos cabelos”. Que
visão esplêndida! Leiam o poema abaixo e durmam com o beijo quente da
consciência. Boa noite!
CONCLUSÃO
Não seja eu
a que mutila
ou abandona
não seja eu
a que devora e aniquila
não seja eu
que transforma a praça
em tocaia e luto
não seja eu
a tornar o momento breve
em grave
não seja eu
a que carrega o vendaval
nos cabelos
nem a que
dorme todas as noites
no sangue derramado
do povo
não sendo eu
posso morrer na madrugada
tendo nos lábios uma rosa
e nos olhos
a última estrela da noite.
Texto reproduzido do blog: patriciadromero.blogspot
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 9 de janeiro de 2014.
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