Publicação do site nenoticias, em 11/11/2013.
A biografia de um grande sertanejo.
Por Rangel Alves da Costa*
Distante das recentes polêmicas envolvendo os escritos
biográficos, onde parte das figuras públicas pretende que suas vidas sejam
relatadas apenas pelo lado positivo e despolemizado, no último dia 1º de
novembro foi lançada, na cidade de Poço Redondo, a biografia de um grande
sertanejo: Alcino Alves Costa. A autoria é de Rangel Alves da Costa, seu filho,
e articulista que assina acima.
Alcino, ou “O Caipira de Poço Redondo” ou ainda “O Vaqueiro
da História”, como se identificava em alguns textos, falecido em 1º de novembro
de 2012, aos 72 anos, certamente não acolheria a polêmica das restrições
biográficas. Pelo contrário, sorriria o seu sorriso largo como agradecimento
pelo reconhecimento de suas realizações enquanto cidadão sertanejo, autodidata,
mas que trilhou pelos caminhos da pesquisa para oferecer ao povo as raízes de
sua história, suas lutas, suas crenças e sua fé.
Como no poema drummondiano, Alcino um dia teve ouro,
riquezas, influência política, mas todo esse passado de poder e posses se
transformaria apenas em um retrato na parede. Mas que não lhe doía. E não lhe
amargurava porque abandonou os meandros do poder e da política para enveredar
de vez pelas trilhas da história sertaneja e, mesmo sem ter tal pretensão, se
tornar seu guardião maior. Daí em diante sua grande riqueza passou a ser seus
escritos.
A saga do povo sertanejo era o seu exercício de toda hora. E
assim fez até suas forças permitirem. Com seu jeito sempre cativante de ser,
sempre calçado nas suas inconfundíveis havaianas, cortando as ruas de seu Poço
Redondo ou recebendo amigos de outras plagas enquanto ouvia Tonico e Tinoco,
acabou se transformando em referência obrigatória acerca de tudo que dissesse
respeito a sertão. E alguém já lembrou que poucas pessoas receberam tantas
homenagens em vida como as que Alcino havia recebido. E foram realmente muitas.
Verdade é que o político escondia no seu verso uma outra
feição muito mais prazerosa de lidar, que era a de pesquisador, poeta,
colecionador de vinis da autêntica música caipira, apaixonado pela história
cangaceira. O seu tio materno, Zabelê, cangaceiro do bando de Lampião, lhe
servia de orgulho e inspiração. Foi a partir do interesse pelo destino do tio
que foi cavando as raízes cangaceiras até se tornar num dos mais respeitados
historiadores sobre o tema.
Não conformado com as mesmices nem com as inverdades
escritas e asseveradas em torno da saga bandoleira, Alcino se propôs a dar
outra feição à história. E conseguiu logo no primeiro livro publicado: “Lampião
Além da Versão - Mentiras e Mistérios de Angico”. E mais tarde surgiram “O
Sertão de Lampião” e “Lampião em Sergipe”. Mas guardava escritos para muitos
outros livros discutindo, contando e recontando, o percurso daqueles valentes e
tantas vezes incompreendidos homens das caatingas e dos carrascais agrestinos.
Trouxe ao presente o conhecimento de personagens importantes
da história nordestina; procurou desvendar os mistérios de Angico e da epopéia
lampiônica, e com isso se tornou um dos escritores mais lidos e requisitados do
fenômeno cangaço; colocou a música caipira e a viola cabocla no seu devido lugar
de importância e reconhecimento. Revisitando seus arquivos, percebi o quanto de
sertão existente em livros, recortes, correspondências, manuscritos,
fotografias. Sertão, talvez este seja também outro nome de Alcino.
Tantas realizações não poderiam ficar apenas na memória do
seu povo, nas recordações dos amigos. Como filho, desde muito que já escrevia
sobre sua obra. Esforcei-me ainda mais depois que as enfermidades lhe
acometeram e já tinha ciência do que não demoraria a acontecer. Eis que quando
o inevitável foi anunciado, a sua trajetória de vida já estava quase toda
escrita. Depois de concluída, escolhi o título mais apropriado: Todo o Sertão
num só Coração - Vida e Obra de Alcino Alves Costa.
Com 288 páginas, a obra está dividida segundo as muitas
artes ou os muitos afazeres do biografado. Vai desde o nascimento, em 1940, às
homenagens póstumas. Daí que aborda o homem sertanejo, o político, o poeta e
compositor, o pesquisador e escritor, bem como sua apaixonada e contínua busca
pela história nordestina, onde se sobressaem as vinditas de sangue, o mundo
cangaceiro e coronelista, as estradas ladeadas por jagunços e fanáticos, toda a
saga de um povo. Tais foram os aspectos mais pesquisados e abordados por Alcino
na sua literatura.
A biografia é, pois, a história desse grande sertanejo. Do
Alcino prefeito por três vezes de seu município; do homem simples que buscou
nas raízes sertanejas a motivação para a pesquisa e a escrita; do radialista do
programa “Sertão, Viola e Amor”; do escritor da saga cangaceira e de tantos
outros livros; do compositor gravado por artistas famosos. Mas principalmente
do Alcino que incutiu nas jovens mentes poço-redondenses a importância da
valorização de sua história e a preservação de sua cultura.
O livro poderá ser adquirido com o próprio autor na Av.
Carlos Bulamarqui, 328, Centro, em Aracaju. Contato através do email:
rac3478@hotmail.com
*Rangel Alves da Costa. Advogado e escritor.
Foto e texto reproduzidos do site: nenoticias.com.br
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 8 de janeiro de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário