Milton Coelho.
Foto: arquivo de Osmário Santos/Infonet.
Wellington Mangueira.
Foto: arquivo jornal Gazeta de Sergipe.
Jornaldacidade.Net, em 15/01/2014.
Operação Cajueiro vai render um documentário.
Vítima de toda a sorte de torturas e suplícios infligidos
pelos militares, Milton foi obrigado a tatear o mundo pelo resto de seus dias,
mas a cegueira derivada dos abusos não o jogou nas sombras.
Por: JornaldaCidade.
Sob os confetes e serpentinas do Carnaval de 1976, milhares
de vozes abafadas. A Operação Cajueiro, manifestação mais pungente do
autoritarismo que manchou o território sergipano durante os anos de chumbo,
consta entre as muitas páginas subtraídas à história brasileira, um livro
pontuado por silêncio e dúvida. Segundo Fábio Rogério, Vaneide Dias e Werden
Tavares, produtores e diretores do curta-metragem Operação Cajueiro, um
carnaval de torturas (ainda em fase de finalização), a sombra que pesa sobre o
episódio constrange a memória local e fragiliza a noção de liberdade vigente.
Para Vaneide, a mácula da Operação Cajueiro deveria fazer
parte da afirmação do indivíduo sergipano. “Depois de conversar com tanta gente
que pagou por suas convicções com a própria carne fica muito fácil perceber que
a minha geração não tem uma dimensão muito justa do que significa governar o
próprio destino, a partir das certezas que cada um carrega. Os sergipanos então
torturados pelos militares eram jovens, com a idade de meus amigos, e foram
silenciados na base da violência. Essa é uma história que tem de ser revelada”,
diz ela.
O documentário financiado pelo Edital de Apoio a Produção de
Obras Audiovisuais de Curta Metragem da Secretaria de Estado da Cultura
(Secult/SE) passa essa história a limpo e localiza o triste episódio no tempo,
sem esquecer os desdobramentos que o fazem tão importante nos dias de hoje.
Para tanto, os diretores procuraram os homens sangrados pela experiência. Gente
como Milton Coelho, ex-militante do PCB, que foi mantido preso no quartel do
28º Batalhão de Caçadores da Polícia Militar durante 50 dias. Vítima de toda a
sorte de torturas e suplícios infligidos pelos militares, Milton foi obrigado a
tatear o mundo pelo resto de seus dias, mas a cegueira derivada dos abusos não
o jogou nas sombras.
“Eu sou partidário de que é preciso identificar todas as
ocorrências. É preciso identificar todos os que participaram daquelas
atrocidades para que as novas gerações sejam municiadas e não permitam que tudo
se repita”, disse ele.
Segundo o diretor Fábio Rogério, não poderia haver momento
mais oportuno para a realização do documentário. “Nos últimos anos, diversos
encontros e seminários em lembraram a criação da Comissão de Anistia do
Ministério da Justiça. Familiares, ex-presos políticos e organizações da
Sociedade Civil estão empenhadas para trazer os abusos criminosos da ditadura à
tona. Não se trata apenas de homenagear/indenizar familiares de mortos e
desaparecidos, perseguidos, presos, demitidos, torturados e exilados. Mas de
alertar a sociedade brasileira para que as barbáries perpetradas não se
repitam”, garantiu.
Para Werden, a construção do filme tem ar de dever histórico
a ser cumprido. “A missão do realizador é buscar uma forma através da junção de
imagens e som que comunique a sua verdade com o mundo. O momento político atual
com essas manifestações e toda a tentativa de se entender pede uma reflexão
maior sobre o passado de luta, pra que se caia nem no discurso reacionário nem
no discurso anacrônico. A gente não pode aceitar que a nossa geração não
conheça algo com tanto conteúdo quanto a Operação Cajueiro”, considerou o
diretor
Operação Cajueiro.
O endurecimento do regime militar instaurado pelo golpe de
64 não tardaria a fazer as primeiras vítimas. As covas abertas a partir de
1975, contudo, tinham objetivo definido. A ordem era dizimar o proscrito
Partido Comunista Brasileiro (PCB) e acabar com a influência exercida em
diversos órgãos da sociedade e do Estado.
Em fevereiro do ano seguinte, véspera de Carnaval, ocorreu
em Aracaju e Operação Cajueiro. Uma força especial oriunda da Bahia, sob as
ordens do general linha-dura Adyr Fiúza de Castro, comandante da 6ª Região
Militar, sediada em Salvador, prendeu arbitrariamente 25 sergipanos, processou
18 deles, além de processar também o então Deputado Estadual e atual Governador
de Sergipe Jackson Barreto, à época, filiado ao MDB mas ligado ao PCB.
O documentário Operação Cajueiro, Um Carnaval de Torturas,
um protesto contra a umidade dos porões onde a historia permanece encarcerada,
ouviu os presos políticos da operação, entre eles, Antônio José de Góis,
Wellington Mangueira, Delmo Naziazeno, Rosalvo Alexandre e Milton Coelho.
Texto reproduzido do site: jornaldacidade.net
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 15 de janeiro de 2014.
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