Relatório de Viagem: Visita a Cidade de Aracaju
Tema: Aracaju, o projeto modernizador e seus revezes
(1910-1930)
Por Joemia Maria Gomes Mota.
Aluna do curso de graduação licenciatura em História/UFS.
Polo: Propriá/SE.
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Um Projeto Modernizado e Urbanístico - (Parte 4)
Os homens pobres ocupavam as margens do quadrado de Pirro,
suas condições de vida em Aracaju eram precárias, apontando outro lado da
modernização defendida pela elite aracajuana. Fora do plano urbanístico nasce a
outra Aracaju, Chamada ¨Cidade de Palha¨formada por camponeses pobres do
interior e ex-escravos sem empregos vindos de engenhos, compostas por milhares
de casebres de taipa atrás das altas dunas, sem saneamento, sem
organização.Nela moravam operários, trabalhadores do comercio, empregadas
domésticas, prostitutas e desempregados e os pobres migrantes do interior, e
muitos desses pobres trabalhavam nas fabricas de tecidos. (...).
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A CLASSE OPERÁRIA
Do final do século XIX para o inicio do século XX, o
operariado era uma classe pequena, girando em torno de 4.000 pessoas, mas os
números não pararam de crescer depois da virada do século. As condições de
trabalho dos operários sergipanos eram ruins, pelos seguintes motivos: não
existiam leis que protegessem os trabalhadores; Os salários eram baixíssimos; A
jornada de trabalhos chegava há 12 horas por dia. As precárias condições de
vida e de trabalho levaram a classe operaria a se organizar e lutar por direitos.
Foram criadas associações como o Centro Operário Sergipano, como também
diversos jornais defendiam os direitos dos trabalhadores da indústria, a
exemplo de ¨Operário¨ e ¨O Trabalho¨.
As greves realizadas pelos trabalhadores sergipanos, que na
maioria eram repremidas brutalmente pela policia estadual. A repressão talvez
seja a causa principal no levantamento de informações em torno do que pensavam
os homens pobres ou operários de fabricas de tecidos na maioria as informações
são omissas quanto a relação do cotidiano dos operários. Maria Antonia de
Oliveira, Dona Antonia como era chamada por todos, inicialmente trabalhou como
domestica, em seguida ingressou na ¨Sergipe Industrial¨ em meados da década de
1920. D. Antonia trabalhou nas duas fases antes e pós Thales Ferraz,
permanecendo trinta anos na mesma fabrica, não sendo uma única vez despedida,
diferenciando-se das operarias que não conseguiam ficar tanto tempo no mesmo
trabalho. D. Antonia considerava-se diferentes das demais colegas, pois não admitia
receber repreensão, assim procurava cumprir todas as suas obrigações e não
aceitava participar das ägitações¨contra a fabrica. Em sua vida fora da fabrica
D. Antonia era voltada para os afazeres domésticos, frequentava as missas ou
visitava doentes e, em períodos de festas juninas, participava das danças de
coco. Na época que trabalhava na ¨Sergipe Industrial¨. D. Antonia residia no
Santo Antonio, possuía as mesmas condições de vida das colegas de trabalho, e
demais vizinhos do mesmo bairro. Morava em casa de taipa e de palha, enfrentava
temporais e problemas diversos em torno de falta de saneamento e ganhava
somente o suficiente para sua sobrevivência. D. Antonia mantinha-se omissa a
realidade do mundo do trabalho falava pouco dos conflitos existentes na
fabrica, sempre deixava claro que existia uma fabrica sem problemas e
confrontos, e idealizava os seus patrões como homens bons, honestos e dedicados
aos trabalhadores. Em relação aos funcionários descontentes D. Antonia afirma
que quem não cumpria suas atividades não compreendia o trabalho, cometendo
erros na produção e provocando os rotineiros acidentes de trabalhos. Procurando
a todo o momento justificar que não houve problemas com ela, que cumpria as
atividades, era dedicada, eficiente e passiva. Em descrever-se D. Antonia
configurou-se no protótipo desejado por alguns segmentos sociais envolvido no
discurso modernizador. Entretanto D. Antonia não era tão omissa e passiva, pois
nunca deixou ser enganada por qualquer pessoa, tinha consciência de sua condição
de vida e dos preconceitos existentes na época, por causa de sua condição
financeira e sua cor. O operário em formação travou modos de lutas individuais
nas relações diárias com colegas, patrões, policia etc. de diversas maneiras. A
palavra falada era um instrumento essencial para descarregar as ofensas e as
opressões e com os depoimentos dos operários, percebe-se uma memória popular
viva, conflituosa. Essa memória retrata um passado não muito feliz, completo de
exploração, maltratos, multas e muitas confusões. Ela contradiz a visão de
¨progresso¨, de ¨modernização¨ defendida pelo discurso modernizador.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O processo modernizador trouxe diversas conquistas para
Aracaju, como é o caso das instalações das fabricas de tecidos, que representava
o símbolo de desenvolvimento em Sergipe. À medida que a cidade passava pelo
processo de urbanização, chamava a atenção das camadas pobres, ocorrendo à
imigração de homens pobres do campo em busca de melhores condições de vida.
Contudo ao chegar à cidade a realidade era outra, pois sua condições de vida
não se encaixam dentro dos padrões de modernidade estabelecido pela elite do
¨Quadrado de Pirro¨. Com isso a camada pobre foi excluída, explorada e
esquecida, tudo em favor da modernização aracajuana.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
SOUSA, Antônio Lindvaldo. Temas de História de Sergipe II,
São Cristovão: Universidade Federal de Sergipe, CESAD, 2010.
CORRÊA, Antonio Wanderley de Melo, ANJOS, Marcos Vinicius
dos, CORRÊA, Luiz Fernando de Melo. Sergipe nossa história: ensino fundamental
– Aracaju: Edição 2005. 96 p. : Il.
SITES
leiatrevida.blogspot.com – visualizado no dia 25.12.2012
neritacarvalho. blogspot.com – visualizado no dia
25.12.2012.
Foto e texto reproduzidos do blog:
joemiamota.blogspot.com.br
De: Joemia Maria Gomes Mota
(Editado por MTéSERGIPE, divulgação em 15.02.2013.
Foto: D. Antonia
Fonte: acervo prof°. Antônio Lindvaldo
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 15 de fevereiro de 2013.
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