segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Dom Távora: Cem Anos do Bispo dos Operários


Dom Távora: 100 Anos do Bispo dos Operários.
Publicado em 29 de Julho de 2010 no Blog de Mércia Oliva.

Nesta segunda-feira, dia 19 de julho/2010, será celebrada uma missa na Catedral Metropolitana de Aracaju, em comemoração aos 100 anos de nascimento do primeiro arcebispo e fundador da Arquidiocese de Aracaju, Dom José Vicente Távora. Dom Távora. Ele era conhecido por um bispo muito popular e humanitário aquém da sua época e impulsionou as comunicações no Estado, sendo o mentor intelectual na criação da Rádio Cultura, que foi criada em 1958 e a revitalização do Jornal Impresso da Arquidiocese, A Cruzada, criado em 1935, pelo primeiro bispo Dom José Thomaz e extinto no ano 1969.

A vida deste servo de Deus começou em Orobó, Pernambuco, em 19 de julho de 1910. Filho de Severino da Silveira Távora e Antônia de Albuquerque Távora, o menino José Vicente, desde os primeiros momentos já despertava vocação para a vida religiosa. E depois de ter cursado o Seminário Menor de Nazaré da Mata, foi para o Seminário Maior de Olinda, quando foi ordenado padre pelo bispo Dom Ricardo Ramos de Castro Vilela, em maio de 1934, com 23 anos de idade. Depois de ordenado passou a evangelizar principalmente a classe operária, junto ao seu grande amigo Dom Helder Câmara, que chegou a ser bispo de Olinda, em Pernambuco, sendo chamado e reconhecido como “o padre dos operários”.

Ainda como padre, em 1950, chefiou a peregrinação da Juventude Operária Católica – JOC, a alguns países da Europa, com o objetivo de celebrar o Ano Santo. Os países visitados foram Portugal, França, Bélgica, Holanda, Suíça e Itália, considerados centros desenvolvidos da Ação Católica. Em 1952, no mês de outubro, com vários cardeais, arcebispos e bispos se reuniram extraordinariamente na Capela do Palácio São Joaquim para instalar a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, onde foi nomeada a Comissão Permanente para dirigir a Conferência, que teve como seu presidente o cardeal Dom Carlos Carmelo Motta e Dom Helder Câmara foi aclamado como primeiro secretário-geral.

Em 26 de julho de 1954, no dia consagrado a Sant’Anna e São Joaquim – pais de Nossa Senhora, o Papa Pio XII, nomeou o monsenhor Távora como Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, que foi ordenado pelo cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Jaime de Barros Câmara, quando depois de atuar passou a ser conhecido como “o Bispo dos operários”. Neste mesmo ano, o Brasil passou por um grande acontecimento trágico, quando em 24 de agosto, o presidente do Brasil, o gaúcho de São Borja, Getúlio Vargas, morreu praticando suicídio, no Palácio do Catete; e foi exatamente Dom Távora quem deu a notícia.

Já com o título de Bispo dos Operários com o padre Antônio Fragoso, que depois foi Bispo de Crateús, no Ceará, em janeiro de 1956, participaram do VI Encontro Regional da Juventude Operária Católica do Nordeste, encontro realizado no Colégio Salesiano, em Aracaju. Na ocasião, Dom Távora aproveitou o ensejo e fez uma visita à Redação do Jornal A Cruzada, jornal da Diocese de Aracaju. Durante o Congresso, foi procurado pelos jornalistas para conceder uma entrevista, cujo tema foi a JOC. Uma das perguntas da entrevista foi qual a posição da JOC no movimento operário. Mais foi em 1957, em 26 de novembro, por determinação do Papa Pio XII, que Dom José Vicente Távora começou o seu trabalho, em Aracaju, quando contava com apenas 46 anos de idade foi nomeado Bispo de Aracaju, sucedendo o então bispo Dom Fernando Gomes, o segundo Bispo de Aracaju, que estava deixando a Diocese porque fora nomeado para ser o primeiro Arcebispo de Goiânia. Este também era envolvido com as questões sociais na Ação Católica.

Aracaju - A chegada do novo Bispo a Aracaju, somente aconteceu em 1958. Mas assim que Dom Fernando Gomes tinha deixado o Bispado de Aracaju, em seu lugar, responsável pela Diocese vacante, ficou o monsenhor Carlos Carmélio Costa, em junho de 1957, que em dezembro deste ano, fez uma circular ao Clero que foi registrada no 2º volume do Livro de Tombo da Arquidiocese de Aracaju, na página 156, comunicando a Nunciatura Apostólica; ou seja, a nomeação de Dom Távora, para a Diocese, em 27 de novembro. A publicação oficial foi feita pelo Jornal do Vaticano, o L’Osservatore Romano.

Em meados de dezembro, depois do comunicado oficial, uma equipe de reportagem do Jornal A Cruzada foi até o Rio de Janeiro, para entrevistar o novo Bispo, no Palácio São Joaquim. Dentre as perguntas estava a seguinte: Quais são seus planos? A sua resposta foi ...Tudo para todos, desejaria dizer, como São Paulo. No meu brasão de Bispo está uma expressão, como lema, que exprime, agora, minha confiança nos sergipanos, que são o grupo humano a quem estas palavras se dirigem: “Em vossas mãos repousa a minha sorte”. Sorte do meu apostolado. Sorte de minhas alegrias de Pastor. Sorte da realização de um programa de progresso espiritual e humano. Fico nas mãos do Clero. Entrego-me à bondade do povo sergipano.

Na sua chegada em Aracaju, em 22 de março de 1958, para assumir o bispado, Dom Távora foi recebido pelo seu amigo Dom Helder Câmara, pelo governador do estado, à época Leandro Maciel, vice-governador José Machado de Souza, o prefeito de Aracaju, Roosevelt Cardoso de Menezes, além de religiosas e religiosos, padres, seminaristas, dirigentes da Ação Católica e o Círculo Operário de Aracaju, as Associações Religiosas e o vigário Capitular Monsenhor Carlos Costa, o bispo de Penedo, Dom José Terceiro e familiares de Dom Távora (seu pai e dois irmãos, um deles frei). Todos os jornais do Nordeste publicavam notícias pertinentes a sua chegada. “Dom José Vicente Távora, Bispo dos Pobres, humilde, corajoso, sincero”, era a estampa do Jornal O Nordeste; “Desde ontem que Sergipe, operário e cristão, está em festa pela chegada do Pastor. Possui um dos grandes Bispos. Dom José Vicente Távora é uma voz nacional que clama pelos humildes”, A Cruzada. O ano também foi marcado por um período eleitoral. A Diocese de Aracaju já convocava e estimulava a população do Estado a assumir seu exercício de cidadania e dizia que os eleitores deveriam votar, e votar bem para o Governador do Estado, senadores, deputados estaduais e federais e vereadores.

Posse - A posse se deu em frente à Catedral Metropolitana de Aracaju, na praça Olímpio Campos, quando o monsenhor Carlos Correia Costa, que estava ocupando o cargo até a chegada do novo Bispo, o empossou e lendo a Bula do Papa Pio XII e, fazendo uso da palavra, disse que todo bispo é portador da Boa-Nova e sucessor legítimo dos apóstolos, com a tríplice função de ensinar, reger e santificar. Disse também que ele dá testemunho da verdade e que é pai, nome que envoca todas as manifestações de amor e de ternura; e a este pai entregava Sergipe, pupilo inteligente, bom, travesso, trabalhador, com seus pequenos defeitos e grandes qualidades.

Em seu primeiro pronunciamento, explicou o significado do seu brasão episcopal. “Em nosso brasão, encimando os dois campos em que se divide, há uma coroa – a coroa de Nossa Senhora, a protetora, rainha, mãe e madrinha de vosso Pastor, caríssimos filhos e cooperadores. E o lema deste brasão é um versículo da Sagrada Escritura – Salmo 31,6 –expresso nestes termos: In manibus tuis sortes meae, isto é “Em vossas mãos ponho o destino de minha vida”.

Grandes realizações - Dentre as realizações de Dom Távora se tornando o primeiro arcebispo da Arquidiocese de Aracaju, que neste ano completou 50 anos de fundação, estão a criação das Dioceses de Estância e Propriá, um sonho começado pelo primeiro bispo Dom José Thomaz e continuado pelo seu sucessor, Dom Fernando Gomes, mas concretizado por Dom Távora, que criou a Província Eclesiástica de Aracaju. Correspondendo a três dioceses, pois naquele tempo a Diocese de Aracaju tinha ligação com todo o estado de Sergipe. Em maio de 1958, visitou primeiro a cidade de Propriá em seguida a cidade de Estância e em 13 de junho de 1958, enviou o relatório à Roma, via Nunciatura Apostólica.

No mês de abril, de 1960, o Papa João XXIII, através da Bula Ecclesiarum Omnium, criou a então Província Eclesiástica de Aracaju, desmembrando-a da Província Eclesiástica de Maceió, Alagoas. Elevou a capital de Sergipe, a cidade de Aracaju, a sede Arquiepiscopal, tendo Dom Távora como o seu primeiro arcebispo e administrador das duas dioceses recém-criadas.

Como um homem além do seu tempo, o bispo recém- empossado, lançou à população sergipana um manifesto em prol da construção da Rádio Cultura de Sergipe, em 29 de novembro de 1958. No manifesto, foi colocado: “O caminho seguro para um povo realizar-se não se encontra sem sacrifícios, sem lutas e sem coragem de decisão. A história contemporânea, o progresso alcançado, mesmo em regiões de nosso país, que um dia foram atrasadas, são o espelho dessa realidade. Uma comunidade humana que encontra em seu interior grupos de homens decididos a descobrir os seus problemas para enquadrá-los, debatê-los e lutar por soluções acertadas, pode considerar-se um território humano destinado a superar suas dificuldades e vencê-las...Vamos lançar uma Empresa de Divulgação e Cultura que tenha, entre outros objetivos, a finalidade imediata de editar um jornal diário e organizar uma emissora que se unam, pelo seu programa e pelas suas campanhas, aos outros órgãos de publicidade da terra, para lutarem juntos, cada vez mais, em plano alto, pelo nosso Bem Comum”...

Movimento de Educação de Base

Para o padre Isaias Nascimento, autor do livro Dom Távora o bispo dos operários, que faz um alto estudo da vida do bispo, diz em suas palavras que as palavras de Dom Távora são tão atuais. “Eu gostaria de deixar tudo isto de lado, o lado pragmático desta hora e, em vez de estar nesta tribuna, me colocar, no meio de vós, falando convosco, dialogando, fazendo sair de dentro de cada um de vós o riso, o brado, a contestação e às vezes, descobrir nas intermitências dos nossos silêncios, os mundos insuspeitados que estavam adormecidos dentro do homem medíocre que a busca do diploma tenha criado em nós. Se estivéssemos sentados numa encosta, na encosta de um recanto que nos houvesse acolhido, eu vos falaria assim:

Já para o jornalista João Oliva, que trabalhou diretamente com Dom Távora, sendo o redator do jornal A Cruzada, e se tornou grande amigo, relatou, sobre o bispo em março de 1958, nomeado pelo Papa Pio XII, na Diocese de Aracaju, desenvolveu uma atuação das mais profícuas que durou 12 anos até a sua morte, ocorrida em 03 de abril de 1970. Começou pelas providências para transformar a Diocese numa nova Província Eclesiástica - criada pelo mesmo Pontífice - que elevou Aracaju a Arquidiocese e criou mais duas Dioceses – as de Estância e Propriá – dinamizando a religião e mesmo todas as atividades sociais, culturais e econômicas em todo o Estado. Na Arquidiocese, reestruturou, logo à sua chegada, o jornal diocesano “A Cruzada” e fundou a Rádio Cultura (1959), tornando esses dois veículos grandes propagadores do pensamento cristão (na Rádio Cultura criou o MEB – Movimento de Educação de Base – destinado a formar os trabalhadores na consciência dos seus direitos e deveres).

Criou mais diversas novas paróquias, novos Centros catequéticos, um Centro de Treinamento Religioso e Social para estudos e treinamentos de sacerdotes, religiosas e leigos e um Centro de Assistência e Organização Social de mães e de empregadas domésticas. Finalmente ampliou as sedes diocesanas do SAME e também fundou a JOC – Juventude Operária Católica, para desenvolver na classe operária, a conscientização sobre a doutrina social cristã. Mas não só no interior da Igreja sua ação se fez presente, em Sergipe, mas também em vários setores da vida social, cultural e mesmo técnica ele com o seu prestígio de Bispo e sua cultura procurava apoiar e dinamizar, sempre pregando sua palavra e seu exemplo de humanismo e bondade cristã. Seu objetivo era a conciliação de todo o povo sergipano e de todas as classes, num clima de justiça e de respeito aos direitos democráticos. Era assim o Dom Távora que Sergipe conheceu e cuja memória merece, no Centenário do seu nascimento ser invocada como exemplo de verdadeiro cristianismo para todos.

Texto: Mércia Oliva
Foto: Acervo do Instituto Histórico de Sergipe
Matéria publicada no Correio de Sergipe, em 18 de julho de 2010.

*Foto e texto reproduzidos do blog: merciaoliva.blogspot.com.br/

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 10 de fevereiro/2013.

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