Mário Cabral.
Por Luiz Antônio Barreto
Advogado e professor, poeta e crítico, ficcionista e
cronista de Aracaju, Mário de Araújo Cabral, nasceu em Aracaju e a esta cidade
dedicou parte de sua vida e de sua obra. Aqui iniciou-se no jornalismo,
publicando em 1934 artigo de desagravo à memória de Tobias Barreto, maltratado
pela virulência de Agripino Grieco. Começava ali uma vocação que duraria para
sempre e responderia por uma vasta obra que representa uma enorme contribuição
à cultura brasileira, com especialidade a Sergipe e a sua capital. Sócio de
Paulo Costa no Sergipe Jornal, velha folha política que serviu a Graccho
Cardoso e a Pereira Lobo, contando com as penas geniais de Clodomir Silva e
Artur Fortes, colaborou com A República, dirigido por Gonçalo Rollemberg Leite,
e com outros jornais sergipanos, deixando um rastro de luminosidade em suas
páginas.
Advogado, Procurador do Município e nesta condição Prefeito
de Aracaju, deixou seu nome gravado, de forma indelével, na edição primacial da
Revista de Aracaju, seleta de textos antológicos, de autores que formaram,
entre a primeira e a segunda década do século XX, na escola dos grandes que
dobraram o século XIX e fixaram seus nomes nas páginas da história cultural
brasileira. Mário Cabral é um sobrevivente da geração de Fernando Porto, José
Calasans, Lauro Fontes, Passos Cabral, Omer Monte Alegre, Raimundo Souza
Dantas, Paulo de Carvalho-Neto, José Sampaio, que ilustraram os jornais
sergipanos com seus ensaios, poemas, suas opiniões e posições políticas. E com
a morte dessa constelação ele permaneceu só, recluso em sua casa na Barra, na
capital baiana, mas atento aos amigos novos, aos intelectuais que surgiram,
estimulando com suas palavras sinceras, ajustadas ao espírito, a tantos quantos
batiam à sua porta ou se valiam da comunicação epistolar, a mais recorrente, ou
telefônica. A dois de abril de 2009, morreu, portanto, o último dos grandes.
Em 1995, na casa de José Calasans, estiveram reunidos
Fernando Porto, Mário Cabral e Lauro Fontes, ases de um jogo lúdico e lúcido,
cujas cartas revelavam Sergipe em todos os naipes, e Aracaju como o coringa.
Foi um encontro, que promovi e presenciei com Aglaé d'Ávila Fontes e Jackson da
Silva Lima, que fez de Aracaju o tema central de evocações e lembranças, visões
e sentimentos marcantes na biografia de cada um. Dos quatro, apenas Fernando
Porto ficou aqui, para expressar seu talento de pesquisador e de intérprete,
dentro e fora das salas de aula. Os demais tomaram a Bahia, onde estudaram e
adquiriram formação superior, para acenderem o facho luminoso de suas
inteligências, aumentando a riqueza da cultura brasileira na Bahia.
O capítulo biográfico de Mário Cabral na Bahia, porquanto
seja igualmente rico de vastidão crítica, sua obra, no geral, é uma obra
sergipana, mesmo quando universaliza suas leituras e exerce a crítica
literária. É que tudo em Mário Cabral lembra Sergipe, Aracaju, suas
recordações, suas amizades, conservadas carinhosamente por décadas seguidas.
Acadêmico da Academia Sergipana de Letras desde 1941, era o decano do
sodalício, ocupando a Cadeira que tem como Patrono o médico Ascendino Ângelo
dos Reis e como primeiro ocupante o magistrado e intelectual Manoel dos Passos
de Oliveira Teles, que foi responsável pelo primeiro ordenamento das Obras
Completas de Tobias Barreto.
Sua atuação cultural, desde os anos de 1930, foi coroada com
a entrada acadêmica e, posteriormente, com a cátedra das Faculdades de Direito
e Católica de Filosofia, novidades que abriram a década de 1950, pela visão de
homem público de José Rollemberg Leite. Parte de sua obra literária, como
Caderno de Crítica, Roteiro de Aracaju, e Crítica e Folclore, editados entre os
anos de 1944 e 1952, irretocável, serviu de peão de ordenamento para muitos
livros que expõem, para sempre, seu valor como intelectual. Um deles,
confeccionado na oficina da alma - Aracaju bye, bye, embora publicado somente
em 1995, é uma declaração de amor a sua cidade, um suspiro saudoso de suas
lembranças. O último deles, já resenhado neste espaço, foi Seleções, uma
antologia de versos, de 2008, o que significa que a velhice não retirou do
poeta seu poder criador.
A pesquisa sobre o folclore das crianças de Aracaju,
apresentada inicialmente em conferência, e depois incluída em livro, é um
registro do maior interesse, que salva a lúdica infantil do descaso e do
esquecimento, e merece, de há muito, nova edição, para servir, didaticamente,
às escolas aracajuanas e sergipanas. A Prefeitura de Aracaju, que expediu Nota
e decretou Luto pela morte de Mário Cabral, tem todas as condições de organizar
e editar uma seleta ou editar o livro de folclore infantil, como forma de
prestar a mais digna das homenagens, divulgando a obra do intelectual e
ex-prefeito.
Fonte: iaracaju.infonet.com.br/serigysite
Foto e texto reproduzidos do site:
palacioolimpiocampos.se.gov.br
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 2 de janeiro de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário