As Almas de Itabaiana Grande.
Samarone comenta um movimento literário independente que
surge em Itabaiana.
Antonio Samarone de Santana.
Ceboleiro do Beco Novo.
Brota em Itabaiana um vigoroso movimento cultural. Livros
são publicados, revistas circulam com regularidade, pesquisas, debates,
portais, blogs, quase tudo de elevado nível. O que está acontecendo? Para
ajudar a compreensão é necessário registrar a completa ausência do Poder
Público e das Universidades.O primeiro, voltado para o patrocínio dos shows das
"bandas" e das micaretas, e o saber acadêmico, assoberbado com suas
regras e imposições, suas produções protocolares, ignoram solenemente outros
predicados da vida cultural.
O forte em Itabaiana nunca foi a cultura, mesmo registrando
que no último século tivemos quatro historiadores de peso: Lima Junior, Sebrão
Sobrinho, Thetis Nunes e Vlademir Carvalho. Entretanto, a questão não é essa, a
produção intelectual sempre existiu: Alberto Carvalho, Antonio Oliveira, José
Crispim, etc., a novidade é a atual manifestação coletiva, independente da
capital e do capital, ou de qualquer outro centro. Não falo aqui da música,
pois esta tem raízes profundas na Vila de Santo Antonio e Almas de Itabaiana, e
está organizada a mais tempo.
O que está possibilitando esse renascimento cultural da
"aldeia", do nível local, do periférico, do regional? As profundas
mudanças nos meios de comunicação, a INTERNET, os satélites, a disponibilização
dos arquivos, bibliotecas e bancos de dados, o intercambio on-line, as novas
mídias, criaram condições de acesso imprevistas, permitiram ao bom pesquisador
as mesmas condições, e que seus estudos chegassem ao mundo sem o filtro do
poder. Essa nova realidade nas comunicações pode ser parte da explicação?
Não estou deslumbrado com o populário, com manifestações
primárias da cultura, com resistências do folclore, etc. também não estou
negando o seu valor; o que estou discutindo é a produção da alta cultura,
universal, que começa a nascer na periferia. O que estou chamando a atenção é
para o movimento de resistência a cultura de massas, alienante, centralizada,
distribuída pela indústria cultural para o consumo; e que só aceita as
manifestações locais, como subalternas, exóticas, secundárias. A Aldeia Global
não pode ter uma única direção - centro/periferia - queremos colocar nossos
temperos, discutir modos de vida, visões de mundo, beber em nossas raízes.
Ninguém desconhece a importância da Semana de Arte Moderna
de 1922 para a cultura brasileira, contudo, nesse mesmo período, Gilberto
Freire liderou um movimento pela regionalização cultural, com manifesto público
e tudo. Estava Gilberto Freire sendo provinciano? Existe alguma contradição
insanável entre o universal e o particular? "Mas o Tejo não é mais belo
que o rio que corre pela minha aldeia", diz Pessoa num de seus versos
famosos.
É essa volta às raízes, sem abrir mão do universal, o que
está ocorrendo em Itabaiana. Uma revalorização do nosso modo de vida, nossas
festas, músicas, danças, culinária, crenças, um reavivar da nossa memória, da
nossa história, dos nossos vilões e heróis, santos e demônios, de nossas raízes
latinas, ibéricas, da influencia africana e tupinambá.
Se essa força estiver se manifestando em outras comunidades,
em Lagarto eu já constatei, teremos uma grande reviravolta cultural nos
próximos anos. Ainda ouviremos falar muito dessas mudanças em Itabaiana. Mais
cedo ou mais tarde. Qual é o papel do Poder Público e de suas políticas
culturais? Está franqueada a palavra...
Foto e texto reproduzidos do site:
itnet.com.br/materia-15826
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 7 de fevereiro de 2013.
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