quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Adeus ao “Homem Peixe” – “Zé Peixe”


Adeus ao “Homem Peixe” – “Zé Peixe”
Por Erik Azevedo

Poucos foram como ele, viveram por completo sua profissão tão intensamente e com tanta dedicação quanto ao Prático “Zé Peixe”.
Falece hoje o mais famoso dos práticos da antiga geração ainda em atividade, José Martins Ribeiro Nunes, o Zé Peixe, como ficou internacionalmente conhecido, como o Fish Pilot do Brasil.
Nascido em Aracaju, no dia 5 de Janeiro de 1927, ele falece aos 85 anos de idade bem vividos na barra do Rio Sergipe.
Nascido em Aracaju, filho de uma professora de matemática e de um funcionário público; foi criado em uma casa em frente ao rio Sergipe, próxima a capitania dos portos e que pertencera aos seus avós, onde vive até hoje. Aprendeu a nadar com seus pais, e desde a infância brincava no rio ou o atravessava a nado para pegar os frutos dos cajueiros da outra margem.
Com 11 anos já era um exímio nadador, enquanto os outros meninos iam de canoa até a praia de Atalaia, ele ia a nado. Um dia o comandante da marinha Aldo Sá Brito de Souza estava desembarcado na Capitania dos Portos pois sua âncora tinha enganchado no fundo do rio, e ao observar a destreza do garoto José Martins, o apelidou de “Zé Peixe”, alcunha que se firmou.
Seus pais também preferiam que Zé Peixe se ativesse aos estudos e lições de casa, mas ele só queria saber de ficar na praia vendo o fluxo dos barcos e desenhando navios, ou no rio orientando os capitães sobre as mudanças dos bancos de areia de seu leito.
Quando Completou 20 anos ingressou no serviço de Prático da Capitania dos Portos. Casou-se na década de 60, mas nunca teve filhos, e é viúvo há 25 anos da sra Maria Augusta de Oliveira Nunes.
Seu jeito vigoroso, corajoso, independente e trabalhador sempre foram vistos como exemplos de caráter e de um envelhecimento digno. Foi tema de vários jornais, revistas, livros, entrevistas e reportagens televisivas ao longo das décadas, tanto nacionais quanto internacionais. Foi uma das atrações que conduziu a tocha pan-americana em Sergipe durante os Jogos Pan-Americanos de 2007 no Rio, fazendo o trajeto de barco.
Antes de falecer se afastou do mar, pois sofria de Mal de Alzheimer, que o deixou limitado e restrito à sua casa onde era assistido pela família.

Praticagem

Em 1947, seu pai o fez ir até o serviço da Marinha, onde mediante concurso foi admitido como Prático do Estado lotado na Capitania dos Portos de Sergipe, profissão que exerceu por mais de meio século (naquela época a remuneração do prático era bem mais modesta).
A barra do Rio Sergipe era uma das piores entradas portuárias do país, Zé Peixe pela sua dedicação e seu conhecimento detalhado da profundidade das águas, das correntezas e da direção do vento sempre se destacou no serviço de praticagem.
Mas era seu modo peculiar de trabalhar que o fez famoso em vários meios de comunicação; quando um navio tinha que sair do porto guiado pelo prático, ele não se utilizava de lancha; subia a bordo e uma vez guiada a embarcação para o mar aberto, amarrava suas roupas e documentos na bermuda e saltava do parapeito da nave em queda livre de 17 metros até a água (prédio de 5 andares), nadava até 10 km para chegar a praia, e ainda percorria a pé outros 10 km até a sede da Capitania dos portos.
Nas chegadas dos navios ao porto, as vezes se utilizava de uma lancha para ir em busca das embarcações mais distantes e as aguardava em cima da boia de espera (a 12 km da praia) durante toda a noite ou mesmo durante todo dia, até a maré ser propícia a aproximação e ao desembarque no porto. Estes feitos eram realizados até em sua idade mais avançada, o que surpreendia tripulação e comandantes desavisados; certa vez um comandante russo ordenou que o segurassem antes do salto, pois pensou que o mesmo estava fora de si.
Várias outras situações demonstravam sua bravura na profissão, o que lhe rendeu muitas homenagens. Já aos 25 anos salvou três velejadores do Rio Grande do Norte. Quando vinha orientando uma embarcação a vela para fora da barra, a mesma virou e lançou todos os tripulantes no mar revolto; Zé Peixe e sua irmã Rita conseguiram trazer a salvo os velejadores até a praia. Outro acontecimento foi com o supply Mercury; que vindo com funcionários de uma das plataformas da Petrobras,incendiou se em mar aberto. O prático chegou ao navio em chamas em um barco de apoio, e apesar do risco de explosão, subiu a bordo e orientou a embarcação até um ponto mais seguro onde todos pudessem saltar e nadar para terra firme.
Foi agraciado com vários prêmios e medalhas: pelo salvamento da iole potiguar (barco a vela) recebeu a medalha ao mérito em ouro do Rio Grande do Norte; por seus dedicados anos de trabalho recebeu a Medalha Almirante Tamandaré ; homenageado com a Medalha de Ordem do Mérito Serigy, mais alta condecoração do município de Aracaju e eleito o Cidadão Sergipano do Século XX. Em 2009, com 82 anos e já enfermo, solicita junto à Marinha seu afastamento definitivo da praticagem (Portaria N 141/DPC, 13/10/2009).

Fotos e texto reproduzidos do blog: blogmercante.com

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 13 de fevereiro de 2013.

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