Adeus ao “Homem Peixe” – “Zé Peixe”
Por Erik Azevedo
Poucos foram como ele, viveram por completo sua profissão
tão intensamente e com tanta dedicação quanto ao Prático “Zé Peixe”.
Falece hoje o mais famoso dos práticos da antiga geração
ainda em atividade, José Martins Ribeiro Nunes, o Zé Peixe, como ficou
internacionalmente conhecido, como o Fish Pilot do Brasil.
Nascido em Aracaju, no dia 5 de Janeiro de 1927, ele falece
aos 85 anos de idade bem vividos na barra do Rio Sergipe.
Nascido em Aracaju, filho de uma professora de matemática e
de um funcionário público; foi criado em uma casa em frente ao rio Sergipe,
próxima a capitania dos portos e que pertencera aos seus avós, onde vive até
hoje. Aprendeu a nadar com seus pais, e desde a infância brincava no rio ou o
atravessava a nado para pegar os frutos dos cajueiros da outra margem.
Com 11 anos já era um exímio nadador, enquanto os outros
meninos iam de canoa até a praia de Atalaia, ele ia a nado. Um dia o comandante
da marinha Aldo Sá Brito de Souza estava desembarcado na Capitania dos Portos
pois sua âncora tinha enganchado no fundo do rio, e ao observar a destreza do
garoto José Martins, o apelidou de “Zé Peixe”, alcunha que se firmou.
Seus pais também preferiam que Zé Peixe se ativesse aos
estudos e lições de casa, mas ele só queria saber de ficar na praia vendo o
fluxo dos barcos e desenhando navios, ou no rio orientando os capitães sobre as
mudanças dos bancos de areia de seu leito.
Quando Completou 20 anos ingressou no serviço de Prático da
Capitania dos Portos. Casou-se na década de 60, mas nunca teve filhos, e é
viúvo há 25 anos da sra Maria Augusta de Oliveira Nunes.
Seu jeito vigoroso, corajoso, independente e trabalhador
sempre foram vistos como exemplos de caráter e de um envelhecimento digno. Foi
tema de vários jornais, revistas, livros, entrevistas e reportagens televisivas
ao longo das décadas, tanto nacionais quanto internacionais. Foi uma das
atrações que conduziu a tocha pan-americana em Sergipe durante os Jogos
Pan-Americanos de 2007 no Rio, fazendo o trajeto de barco.
Antes de falecer se afastou do mar, pois sofria de Mal de
Alzheimer, que o deixou limitado e restrito à sua casa onde era assistido pela
família.
Praticagem
Em 1947, seu pai o fez ir até o serviço da Marinha, onde
mediante concurso foi admitido como Prático do Estado lotado na Capitania dos
Portos de Sergipe, profissão que exerceu por mais de meio século (naquela época
a remuneração do prático era bem mais modesta).
A barra do Rio Sergipe era uma das piores entradas portuárias
do país, Zé Peixe pela sua dedicação e seu conhecimento detalhado da
profundidade das águas, das correntezas e da direção do vento sempre se
destacou no serviço de praticagem.
Mas era seu modo peculiar de trabalhar que o fez famoso em
vários meios de comunicação; quando um navio tinha que sair do porto guiado
pelo prático, ele não se utilizava de lancha; subia a bordo e uma vez guiada a
embarcação para o mar aberto, amarrava suas roupas e documentos na bermuda e
saltava do parapeito da nave em queda livre de 17 metros até a água (prédio de
5 andares), nadava até 10 km para chegar a praia, e ainda percorria a pé outros
10 km até a sede da Capitania dos portos.
Nas chegadas dos navios ao porto, as vezes se utilizava de
uma lancha para ir em busca das embarcações mais distantes e as aguardava em
cima da boia de espera (a 12 km da praia) durante toda a noite ou mesmo durante
todo dia, até a maré ser propícia a aproximação e ao desembarque no porto.
Estes feitos eram realizados até em sua idade mais avançada, o que surpreendia
tripulação e comandantes desavisados; certa vez um comandante russo ordenou que
o segurassem antes do salto, pois pensou que o mesmo estava fora de si.
Várias outras situações demonstravam sua bravura na
profissão, o que lhe rendeu muitas homenagens. Já aos 25 anos salvou três
velejadores do Rio Grande do Norte. Quando vinha orientando uma embarcação a
vela para fora da barra, a mesma virou e lançou todos os tripulantes no mar
revolto; Zé Peixe e sua irmã Rita conseguiram trazer a salvo os velejadores até
a praia. Outro acontecimento foi com o supply Mercury; que vindo com
funcionários de uma das plataformas da Petrobras,incendiou se em mar aberto. O
prático chegou ao navio em chamas em um barco de apoio, e apesar do risco de
explosão, subiu a bordo e orientou a embarcação até um ponto mais seguro onde
todos pudessem saltar e nadar para terra firme.
Foi agraciado com vários prêmios e medalhas: pelo salvamento
da iole potiguar (barco a vela) recebeu a medalha ao mérito em ouro do Rio
Grande do Norte; por seus dedicados anos de trabalho recebeu a Medalha
Almirante Tamandaré ; homenageado com a Medalha de Ordem do Mérito Serigy, mais
alta condecoração do município de Aracaju e eleito o Cidadão Sergipano do
Século XX. Em 2009, com 82 anos e já enfermo, solicita junto à Marinha seu
afastamento definitivo da praticagem (Portaria N 141/DPC, 13/10/2009).
Fotos e texto reproduzidos do blog: blogmercante.com
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, em 13 de fevereiro de 2013.
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