O Sangue de Agosto na História de Sergipe.
Por Luiz Antônio Barreto
Aracaju guarda em sua memória, fatos dolorosos ocorridos em
agosto de 1942 e 1954, que tingiram de sangue a sua história. Na madrugada de
16 de agosto de 1942, aos 12 minutos, o submarino alemão, comandado
Aracaju guarda em sua memória, fatos dolorosos ocorridos em
agosto de 1942 e 1954, que tingiram de sangue a sua história. Na madrugada de
16 de agosto de 1942, aos 12 minutos, o submarino alemão, comandado pelo
Capitão de Corveta Harro Schacht, torpedeou o navio “Baependy”, que navegava
pela costa sergipana com suas luzes acesas, indicando a neutralidade
brasileira, no conflito mundial. Na mesma madrugada foi torpedeado o navio
“Araraquara”, e ainda no dia 16 foi a pique, pelo submarino alemão, o navio
“Aníbal Benévolo”. Os torpedeamentos não ficaram por aí, marcando o dia 16 de
agosto, Outros navios, como o “Itagiba”, o “Arará”, e os cargueiros “S.S.Clymer”
e “Jacira”, à vela, completaram o ato beligerante do submarino alemão U-507.
Foram dias de horror, de medo, de choro e de morte, mobilizando os sergipanos
para o socorro possível, ao longo da costa sul.
Aracaju acolheu os náufragos, tratou feridos, enterrou os
mortos e reuniu familiares das vítimas, vindas de várias partes do País,
acompanhar a tragédia. O Aero Clube de Aracaju, com seus dirigentes e
associados e seu pequeno avião superou-se em solidariedade, sendo um exemplo
que foi seguido por vários grupos sociais da capital sergipana, no sentido de
dar atendimento a todos. O trauma do ataque traiçoeiro e premeditado levou a
população às ruas, politizando-a com os fatos, e demonstrando a coragem de uma
reação pronta e imediata. Súditos alemães e italianos que viviam em Aracaju e
no interior do Estado foram responsabilizados por uma colaboração, que ainda
hoje não está devidamente esclarecida.
Nicola Mandarino, italiano, em Sergipe há muito tempo,
comerciante destacado, teve sua casa na praça Olímpio Campos, onde atualmente
está sediada a Cúria Metropolitana, invadida, móveis quebrados, livros
queimados, acontecendo o mesmo com a sede de sua Fazenda Iolanda, antigo
Colégio dos Jesuítas, no município de Itaporanga. A suposição era a de que
Nicola Mandarino teria um rádio, pelo qual informava ao Capitão do submarino, a
rota e a posição dos navios.
Nada ficou provado, mas sabe-se, hoje, que o submarino
alemão recebia colaboração de italianos, na costa brasileira. E isto porque os
a missão dos torpedeamentos tinha sido dos submarinos italianos, cumprida
anteriormente, sem resultados. Nicola Mandarino continuou vivendo em Aracaju e
em 1958 passou por outro trauma, quando seu genro, o médico Carlos Firpo, com
quem morava, foi assassinado, na casa da rua de Campos, tendo a filha Milena
sido apontada como cúmplice, de um crime passional, que envolvia um amigo da
família, o Coronel Afonso Ferreira, da Aeronáutica. Mudando de Sergipe para o
Rio de Janeiro, Nicola Mandarino morreu em 1973.
Em 1954, no dia 24 de agosto, Sergipe, como o resto do
Brasil, amanheceu surpreso com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, no seu
quarto do Palácio do Catete, pondo fim a uma crise moral, que abatia o Governo.
A reação foi imediata, e logo as ruas de Aracaju foram tomadas por políticos,
trabalhadores, lideranças sindicais, eleitores do Partido Trabalhista
Brasileiro - PTB, todos buscando identificar na população e nos blocos
políticos de adversários, os responsáveis pelo fim trágico do “Pai dos Pobres”.
As passeatas pelas ruas de Aracaju tinham destinos certos,
antes de fazer concentração na praça Fausto Cardoso, centro de manifestações
políticas. A Rádio Liberdade, na rua de Itabaianinha, de propriedade de Albino
Silva da Fonseca e porta voz da União Democrática Nacional – UDN, e o sítio da
avenida Desembargador Maynard, residência do deputado federal Leandro Maciel,
foram alvos da ira do povo. Por pouco, muito pouco, não houve uma tragédia,
liquidando figuras destacadas da política e da vida sergipana.
Um homem comum, trabalhador, pai de família, foi a vítima da
concentração da praça Fausto Cardoso. Embora getulista, Lídio Paixão tentou
fazer a defesa de Leandro Maciel, com quem tinha relações pessoais. Alguém, no
palanque, atiçou a multidão, apontando Lídio Paixão como inimigo. O povo
enfurecido fez o “justiçamento”, salpicando de sangue os canteiros da velha
praça e enlutado uma família que carrega, há 53 anos, a dor e a saudade de um
homem de bem, trucidado pelos ânimos exaltados da multidão.
Os dois fatos – o torpedeamento dos navios e o assassinato
de Lídio Paixão – sugerem uma leitura da história de Sergipe, que permita
enquadrá-los e compreendê-los, em todos os seus contornos e
desdobramentos".
Texto: reproduzido do site socurticao.net
Foto do Navio Baependy (Divulgação).
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, em 14 de agosto de 2012.
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