Publicado originalmente no Blog Luiz Eduardo Costa, em
18/09/2011.
Cabral, Mário Cartas Abertas.
Vem, outra vez, Marcelo Ribeiro a publicar mais um livro.
Marcelo é um escritor que não apenas publica mais um livro. Pelos caminhos das
letras que tem palmilhado, ele se foi tornando um mestre. Começou com poemas,
fez um depoimento político, quase um libelo como ex-deputado que cedo
desencantou-se. Poderá merecer pertinentes contestações, mas, ninguém retirará
dele a autoridade moral que tem para produzir critica, até para se permitir ser
contundente.
Mas essa é uma página definitivamente virada. O médico que
fez uma breve opção pela política, deu consistência a uma outra vocação, esta,
que o acompanhará por toda a vida: a do fascinante ofício do fazer literário.
Nisso, ele encontra a prazerosa alternativa de plena realização existencial.
Ganham os leitores, cresce a tradição cultural de Sergipe que anda a tentar
reerguer-se. O novo livro de Marcelo Ribeiro, Cabral, Mário Cartas Abertas, é
algo que ele doa para essa obra de agiornamento sergipano.
Interessante constatar que a admiração por Mário Cabral, o
imenso afeto que uniu duas famílias, a de Cabral bem mais idoso, a dos Ribeiro,
ai representada por Marcelo e seu irmão Wagner , o helênico poeta, nasceu a
partir de um desencontro, de uma indignação. Jose da Silva Ribeiro Filho, pai
de Marcelo, publicou uma ácida carta Aberta a Mário Cabral, protestando contra
o que entendeu como ofensa a seu pai, honrado comerciante, que construíra
vistoso prédio, depois transformado em lupanar imenso, e ao qual o aracajuano
sarcástico, logo passou a chamar de Vaticano. A ofensa estava contida no livro
Roteiro de Aracaju, ou¨ livrinho¨, como o classificou um magoado Silva Ribeiro.
O leitor encontrará então, no livro de Marcelo sobre Mário, o desenrolar de uma
exemplar recomposição, de atávica e constrangedora desavença numa amizade plena
de convergências, culturais, humanas, uma visão de mundo forjada ao longo do
tempo na parceria de dois irmãos ainda jovens, e um velho, com seus tormentos,
suas ânsias, decepções, sonhos, e muito mais esperanças. Tudo isso se
corporifica em cartas, naquele esquecido hábito epistolar, que resiste ainda ao
celular e à Internet, cartas, trocadas entre Mário e Marcelo. O livro tem essa
beleza, por não deixar de ser poesia, enquanto fluem depoimentos, excertos
biográficos, opiniões, história, estórias. E, sobretudo, vida.
Texto reproduzido do blog: luizeduardocosta.blogspot.com.br
Foto: Divulgação.
Postagem originária do Facebook/Grupo Minha Terra é SERGIPE, de 20/09/2014.
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