Publicado originalmente no Facebook/Araripe Coutinho, em
11/09/2014.
Fedro Portugal.
Por Araripe Coutinho.
Fedro viveu a história de Sergipe como ninguém.
Fedro Portugal faz parte de uma linhagem de médicos que
dignificam o Estado de Sergipe. É um homem que merece ser biografado. Dono de
uma memória privilegiada, Fedro viveu a história de Sergipe como ninguém, tendo
marcado época em tudo que participou com brilho intenso e presença rara. Na
Universidade Federal de Sergipe e no Hospital Universitário, ultrapassou os
limites do afeto e do respeito, sendo endeusado pelos alunos e colegas sempre
com aquele jeito europeu de ser. Além de sua atuação acadêmica percorrendo os
corredores das didáticas, Fedro solidificou-se mesmo como médico, atendendo em
consultório pessoas da sociedade, anônimos e celebridades sociais, que logo
viam nele um amigo, um mestre a cuidar das feridas do corpo e da alma também.
Agradável ao extremo, refinado, Fedro sempre foi adepto de uma boa mesa, de um
aconchegante hotel e de um vinho de rara safra. Elegante em seus ternos
cortados pelo alfaiate Valdir, era íntimo de pessoas nobres e importantes, como
o monsenhor Claudionor Fontes, que o fez fiel depositário de seus bens. Casado
com a também médica Selma Portugal, uma joia rara de pessoa, vivem um amor
eterno, de cumplicidade. Tem três filhos: Joana Angélica, Maria da Glória e
Fedrinho, que ingressou no ramo da Gastronomia com o seu restaurante Baco.
Ninguém nunca viu Fedro gritando com ninguém, sempre
cordato, altruísta e humano ao extremo. Faz a liturgia de médicos como Augusto
Cesar Leite, José Augusto Barreto, Dietrich Wilhelm Todt, Maria Luiza Dórea,
Antonio Garcia Filho, pai do poeta Eduardo Conde Garcia, José Calumby Filho,
Hyder Gurgel, Amilton Maciel, Cleovansóstenes Pereira de Aguiar, José Abud,
Petronio Gomes, José Fernandes de Magalhães, José Machado de Souza, José
Rezende, José Teles de Mendonça, João Machado de Aguiar Melo, Marcos Almeida,
Almir Santana, Lucio Prado, William Soares, Ilma Fontes, Marcelo Ribeiro, Gélio
Albuquerque, Raimundo Sotero, Zairson Franco, José Maria Rodrigues e tantos
outros nomes. Fedro é uma pessoa extraordinária, com gosto para Arquitetura
(sua casa tem portão de Osiris Rocha, projeto de Paulo Rehm), louco por ópera e
cinema, admirador dos artistas sergipanos, incentivador dos mesmos - comprando
livros, quadros, peças de antiquário. Fedro toca piano e é um memorialista de
sua terra, tendo vivido os tempos áureos do Cine Guarany, Vitória, Rio Branco e
Cine Pálace, a sorveteria Yara, a Cascatinha, o Cacique Chá com painéis de
Jenner Augusto, a Cinelândia de seu Araujo com seu sorvete de coco, e Russo e
seu sanduíche inesquecível de queijo do reino e pão de cachorro-quente, a
Luzitânia com seu bolinho de bacalhau incrível até hoje, e as festas de Natal
na Praça da Catedral, com a pipoca lírio do vale. Como Fedro sempre foi um
intelectual, frequentou a fase áurea da Livraria Regina, onde podia-se
encontrar livros de várias nacionalidades: italianos, franceses, espanhóis,
além dos nacionais, em diversas áreas do conhecimento.
Vários intelectuais tiveram livros impressos pela Regina,
como Mário Cabral, Santo Souza, Alberto Carvalho, José Calazans, Pires Wynne, entre
outros com quem mantinha amizade. A tarde de autógrafos desses lançamentos não
só era um entretenimento da Rua João Pessoa, mas, sobretudo, um encontro de
intelectuais. Fedro também sempre foi um apaixonado pelo Jornalismo e comprava
todo final de semana os jornais do Sul: "O Globo", "Folha de S.
Paulo" e "Estadão", dando sempre uma passada na Charutaria Chic,
de Moacir. Católico, Fedro é um admirador de Dom Luciano Cabral Duarte, ouvindo
a hora católica da Rádio Cultura, sempre aos domingos, ao meio-dia.
Nasceu em Aracaju, Sergipe, no dia 1° de julho de 1944,
sendo seus pais o famoso Francisco Nascimento Portugal e Maria da Glória
Menezes Portugal. Fez o curso de Humanidades em sua cidade natal, onde
frequentou o Colégio Tobias Barreto, conceituado estabelecimento de ensino da
capital sergipana. Em 1962, ingressou na Faculdade de Ciências Médicas da
Universidade Federal de Sergipe. No curso de seu tirocínio acadêmico, lecionou
Biologia no Colégio Estadual de Sergipe, no Colégio Tobias Barreto e no Colégio
Arquidiocesano. Quando estudante de Medicina, foi um dos fundadores do curso
BETA, destinado à preparação de alunos para o concurso vestibular. No último
ano de seu tirocínio médico, estagiou no Hospital das Clínicas Prof. Edgard
Santos, da UFBa, e no Instituto de Dermatologia, sob orientação do Prof. Newton
Guimarães, em Salvador, Bahia. Concluído o estágio curricular, diplomou-se na
primeira turma de Medicina da Universidade Federal de Sergipe, UFS.
Em 1972, prestou concurso para professor auxiliar de ensino
da Faculdade de Ciências Médicas, iniciando, assim, sua carreira docente em sua
universidade de origem. De 1976 a 1978, fez residência médica na Universidade
Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Naquela ocasião, seu currículo profissional
contava com 54 participações em congressos e 49 cursos de pós-graduação na área
de Dermatologia, 34 participações como palestrante em eventos da especialidade,
além de aprovação em concurso público para professor substituto de
Dermatologia.
É membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, do Colégio
Íbero-Americano de Dermatologia, da Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia, da Associação Brasileira de Hansenologia, da Sociedade Médica de
Sergipe e da Academia Sergipana de Medicina. É fundador da Secção Regional da
Bahia e de Sergipe da Sociedade Brasileira de Dermatologia. É detentor de
diversos títulos e honrarias, tais como a de Honra ao Mérito da Sociedade de
Cirurgia Plástica e de Queimados, da Sociedade Norte/Nordeste de Dermatologia e
da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Como ser humano, Fedro Portugal nos enobrece pelos gestos
comedidos, coração grande, percepção humana invejável. Continua atendendo
humildemente em seu consultório, dando aula aos residentes do Hospital
Universitário, ministrando palestras pelo mundo afora e, recentemente, quando
se encontrou internado, os seus alunos deram plantão no hospital, além de ter
visitado o poeta no HU com as suas lindas alunas o acompanhando. Fedro é como
dizem os mais velhos: não existe. É um mito, uma lenda. Um Bagavadguitá. Uma
canção de Deus. O texto, escrito em sânscrito, relata o diálogo de Krishna (uma
das encarnações de Vixnu) com Arjuna (seu discípulo guerreiro) em pleno campo
de batalha. Arjuna representa o papel de uma alma confusa sobre seu dever e
recebe iluminação diretamente do Senhor Krishna, que o instrui na ciência da
autorrealização. Seria assim a alma de Fedro Portugal. Um diamante raro, de
cuidadosa lapidação própria, esculpido no mais nobre amálgama do tempo e da
vida. É um luxo ser amigo de Fedro Portugal. Uma honra tal como o diamante
Koh-i-noor, o Diamante dos Imperadores.
Gostaria de ter a capacidade de falar deste homem. Mas
escassa é a palavra e inútil o significado diante do amor que sentimos por ele.
Tantas vezes atendendo meu pai em seu consultório, sem lhe cobrar nada. Quanto
a mim (ah!, meu Deus!), quantos anos! Sempre me honrando com palavras
imerecidas de apoio, numa discrição e polidez únicas. Tal como um filme de
Luchino Visconti com o sensível e refinado "Morte em Veneza" (1971),
protagonizado por Dirk Bogarde e baseado na obra de Thomas Mann. O filme conta
a história de Gustav Aschenbach, um compositor que vai passar férias em Veneza,
e acaba por viver uma grande e inesperada paixão, que iniciaria a sua completa
destruição. O filme faz uma abordagem do conceito filosófico de beleza, assim
como a passagem do tempo e a importância da juventude nas nossas vidas. Assim,
em meio a tantas paixões em sua vida: pelas artes, pela ciência e pelo ser
humano, Fedro Portugal pode repetir com Drummond: “As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis à palma da mão.
Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas,
ficarão”.
Foto e texto reproduzidos do Facebook/Araripe Coutinho.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 12 de setembro de 2014.
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