Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 27/11/2008.
Dom Távora - O bispo dos operários.
Por Luiz Antônio Barreto.
O padre Isaias Nascimento, sergipano de Riachão do Dantas,
conhecido em todo o sertão do baixo rio São Francisco pela sua atuação
solidária com trabalhadores e populações marginalizadas, sendo um descendente
direto da ação da Diocese de Propriá, na quadra de tempo dirigida por Dom José
Brandão de Castro e agora retomada por Dom Mário Rino Sivieri, é autor do livro
Dom Távora o bispo dos operários (São Paulo: Paulinas, 2008), uma correta e
justa biografia, que recompõe, para a história política, religiosa e cultural
de Sergipe a presença, entre 1957 e 1970, de Dom José Vicente Távora, como
bispo e arcebispo de Aracaju.
Foi Dom Távora, com sua experiência de Bispo Auxiliar do Rio
de Janeiro, quem deu vida à Província Eclesiástica de Sergipe, criada em 1960,
que na prática transformou a Diocese de Aracaju em Arquidiocese, e criou duas
Dioceses no interior, uma em Estância, confiada a Dom José Bezerra Coutinho
(nascido no ceará em 7 de fevereiro de 1910 e falecido em 7 de novembro de
2008, em Fortaleza) e outra em Propriá, que trouxe a Sergipe o redentorista
mineiro Dom José Brandão de Castro, também já falecido.
Os três bispos, três José, deram à Igreja em Sergipe uma
contribuição que ainda não foi devidamente estudada, em toda a sua extensão e
grandeza.
Situados em suas Dioceses e responsabilidades, cada bispo
com suas virtudes e qualidades no contato com a realidade do povo, cumpriu com
fidelidade o papel que a hierarquia do Catolicismo recomendava. Em Aracaju, Dom
Távora tinha a imensa responsabilidade de substituir a um bispo que realizou
muitas obras importantes, Dom Fernando Gomes dos Santos, que era substituto do
venerando Dom José Tomás, que implantou a Diocese, criou o Seminário Sagrado
Coração de Jesús e que teve longa e profícua presença entre os sergipanos.
Preparado, experiente, Dom Távora exerceu, com visão de estadista da Igreja, um
papel renovador, que o padre Isaias Nascimento destaca, com muita justiça, no
seu livro biográfico. Mais do que avanços, Dom Távora deu exemplo de atitudes,
gestos que marcaram as relações, muitas vezes tensas, entre o Arcebispo e o
Poder sob a tutela militar deste 1964. Digno na sua autoridade, responsável em
seu governo, progressista na sua visão do mundo, Dom Távora honrou o clero,
resistindo até a morte ao patrulhamento e constrangimentos impostos pelos
tempos duros do regime militar.
Dom Coutinho teve um bispado mais tranqüilo, abarcando uma
região onde os conflitos de terra eram raros e a distribuição da riqueza era
menos concentrada. Dom Brandão, contudo, enfrentou um gueto de miséria, com
poucos muito ricos e uma multidão de famintos, que precisam ser assistidos,
antes que a adversidade e a injustiça os fizessem debandar do rebanho de Deus.
A ação política de Dom Brandão libertou do obscurantismo as populações
sanfranciscanas de Sergipe, que passaram a conquistar direitos com os quais
sempre sonharam. Acostumado a pregação, nas Santas Missões de Minas Gerais e da
Bahia, Dom Brandão fez do jornal da Diocese – A Defesa – porta-voz das
comunidades, na luta contra a política dos mesmos chefes e seus prepostos.
Tornou membro da Academia Sergipana de Letras e foi, até resignar-se e voltar a
Minas Gerais, um sergipanizado com uma folha de serviços notáveis e
inesquecíveis.
Padre Isaias Nascimento trata de Dom José Vicente Távora, da
sua chegada a Sergipe, como Bispo de Aracaju, sua promoção a Arcebispo,
capitulando as ações pastorais que marcaram o arcebispado, em capítulos
elucidativos, assim definidos: Dom José Vicente Távora, Bispo de Aracaju,
cobrindo 13 anos de intensa atividade, A criação da Província Eclesiástica de
Aracaju; A participação de Dom Távora no Concílio Vaticano II; Reações da
Igreja contra a fome e a miséria em Sergipe, arrolando uma prática de grande
apelo e repercussão social; Dom Távora e a noite escura de 1964; e Abril de
1970, data da morte do eminente prelado, vitimado pelas pressões que rebentaram
seu coração doce de homem bom e justo.
O livro tem, ainda, informações sobre as Paróquias criadas,
os padres ordenados por Dom Távora e, ainda, sua Primeira Mensagem Pastoral.
Padre Isaias Nascimento dá uma lição de como se pode e se
deve escrever uma biografia, com seu contexto, dando à historiografia de
Sergipe uma contribuição singular, tanto pela justeza e oportunidade de fazer o
resgate de uma vida, como se colocar os fatos na ordem seqüencial de suas
importâncias, situando um contexto que interessa a todos conhecê-lo. O livro
não encerra tudo o que diz respeito a Dom Távora, mas permite um contato
significativo das novas gerações com a obra pastoral do Bispo e Arcebispo de
Aracaju, que morreu há 38 anos, mas que ficou na memória de todos os do seu
tempo, pela lucidez, pela coragem, pelo destemor, pela responsabilidade e pelos
serviços que prestou a Sergipe, através do Movimento de Educação de Base - MEB,
da Rádio Cultura, do jornal A Cruzada, de obras criadas e mantidas pela
Diocese/Arquidiocese, e principalmente pelas lições cívicas que honraram a
história eclesiástica sergipana.
Fiel aos fatos, criterioso no uso das fontes, elegante no
texto, padre Isaias Nascimento expõe, nas 254 páginas do seu livro, um retrato
muito bem feito do seu biografado, adornando-o de tudo aquilo que colheu, nas
pesquisas, sobre aqueles tempos difíceis de luta e resistência, no qual aflora
com grandeza o vulto de Dom José Vicente Távora, sublinhado com o título de O
Bispo dos Operários.
As Dioceses de Estância e Propriá e a Arquidiocese de
Aracaju devem espalhar pelas mãos dos católicos de Sergipe, de todas as idades,
o livro do padre Isaias Nascimento com a bela biografia de Dom José Vicente
Távora.
Foto e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do facebook/MTéSERGIPE, de 10 de setembro de 2014.
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