Publicado originalmente na página do Facebook de Petrônio
Gomes.
Apenas Ontem.
Por Perônio Gomes.
Quando voltei, haviam construído um grande edifício em
Aracaju, na esquina da rua Laranjeiras com a João Pessoa: era o prédio da
“Moda”, de João Hora, o segundo a possuir um elevador; o primeiro ficava no
“Serigy”, Praça General Valadão, depois Secretaria da Saúde. Os pavimentos
superiores do prédio da Moda eram alugados para consultórios e escritórios
diversos.
A “Livraria Regina” de minha infância estava a todo vapor,
tendo à Frente o sr. José Apóstolo de Oliveira Neto, um perfeito cavalheiro, perito
em seu ramo. José Apóstolo era fotógrafo nas horas vagas e tinha em seu acervo
as mais belas fotografias da cidade. Cultivavam o mesmo passatempo os meus
colegas do Banco do Brasil, Hugo Ferreira e Carlos José Cabral Duarte, irmão de
Dom Luciano Duarte.
A loja de “P. Franco & Cia.” era a campeã dos
eletrodomésticos, tendo por proprietário-gerente o sr. Francisco Franco, com
sua proverbial tranquilidade. Comecei a comprar em sua loja os meus inumeráveis
LPs, dos quais ainda guardo muitos exemplares, a despeito do ostracismo em que
foram jogados. Aliás, minha primeira geladeira também foi comprada no mesmo
endereço. Sabem que trabalhava na primeira fila do atendimento dos aparelhos
domésticos? Heribaldo, dono do posto de combustíveis da rua de Laranjeiras e
Raimundo, também empresário de sucesso.
O “Ponto Chic” continuava com o galardão de lugar principal
da cidade, tal como nos meus tempos de menino, quando os frequentadores do
Cinema Rio Branco se retiravam depois do espetáculo para o costumeiro sorvete.
Depois, o passeio em volta da praça Fausto Cardoso para aquela “paquera” à moda
antiga, misturada com medo.
“Marinete” ainda era o apelido dos ônibus, que faziam ponto
na rua da frente. Ainda não se pensava na construção da Rodoviária pelo
Governador Luiz Garcia, o que veio a acontecer pouco depois. As “marinetes”
vieram substituir os meus queridos bondes, aqueles simpáticos veículos
balouçantes que transportavam passageiros vestidos de linho branco e usando
chapéus de panamá. Era comum o gesto de ceder o lugar a uma senhora e continuar
a viagem no estribo do bonde, com terno branco e tudo...
A “Associação Atlética de Sergipe” era ainda o elegante
clube da Vila Cristina, onde aconteciam as melhores festas, a “menina dos
olhos” do dr. Bragança, que morava na rua de Itabaiana, esquina com a rua
Boquim, onde mais tarde a “Varig” resolveu montar sua agência.
“A. Fonseca & Cia. Ltda.” era, de longe, a primeira no
ramo de ferragens e materiais de construção, e continuava assim quando voltei.
Depois, vieram os anos de crepúsculo, o definhamento progressivo, que tanto
pode acometer o corpo dos homens quanto o fruto do seu próprio trabalho. Não
falarei mais sobre o mesmo que aconteceu a tantas firmas que eu sempre julguei
como verdadeiras rochas, esquecido de que somente um Rochedo existe.
Quando voltei, trazia no coração a ideia tola de encontrar
minha cidade do mesmo modo, tal como os brinquedos que ia buscar quando voltava
do colégio. Voltei para assistir à passagens dos anos difíceis, aqueles que
marcam as transições inelutáveis da vida.
“Setenta anos é a vida do homem”, reza um dos Salmos. “Os
mais fortes chegam aos oitenta, a maior parte ilusão e sofrimento.”
Fiz o possível para não escrever aqui nada que lembrasse o
sofrimento, preferindo a parte da ilusão, a coisa mais parecida que existe com
a esperança...
(imagem: sergipeemfotos.blogspot.com.br onde se pode ver em
destaque o prédio de 'A Moda' na esquina, seguido de o "Ponto Chic",
a "Livraria Regina" e a "Joalheria Safira").
Texto e imagem reproduzidos do Facebook/Fan Page/Petrônio
Gomes.
Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 22 de setembro de 2014.
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