A escritora Lilian Rocha na Bienal de SP. (Ago/2014).
Foto reproduzida do Facebook/Letícia Gomes.
Publicado originalmente no site de Osmário Santos, em
15/02/2008.
Lilian Rocha: De pedagoga a autora de livros e peças
teatrais.
Por Osmário Santos.
Lilian Gomes Rocha, nascida a 3 de junho de 1958, é natural
de Aracaju, é a 4ª filha de Maria Noemi e do escritor Petrônio Gomes, de quem
herdou o gosto por escrever."Meu pai sempre foi um leitor inveterado. Ele
lia nas poucas horas vagas que tinha e inventava horas vagas que não tinha para
ler. Sua biblioteca pessoal é gigantesca e ele tem uma cultura fenomenal. Essa
paixão pelos livros ele nos foi passando desde a infância. Aos domingos, por
exemplo, antes de irmos jantar na casa do meu avô, meu pai passava na Chic,
para comprar o jornal, e todos os seis filhos tinham direito de escolher a
revistinha que quisessem, era uma festa! E não era raro ele chegar do trabalho
com o primeiro volume de uma longa coleção para a gente, que para o nosso
deleite, era alimentada semanalmente... Sem dúvida, a influência do meu pai em
minha vida é bastante significativa!".
Sua mãe, funcionária pública aposentada, compõe o outro lado
da moeda em quem Lílian também se inspira. "Enquanto meu pai representa a
leitura, o estudo, minha mãe representa a ação. Um completa o outro. Minha mãe
é o meu mais perfeito exemplo de coragem, mas não uma coragem que sai gritando
pelos seus direitos, mas uma coragem silenciosa e serena, que a tudo suporta,
de pé, com dignidade, fé e valentia. Costumo dizer que minha mãe é ‘inventada’,
não é de verdade. Ela é um anjo!".
Lílian fez o primário no Educandário Brasília e garante que
tudo o que aprendeu de português veio de lá. Para fugir do exame de admissão,
preferiu ir para o Arqui, ao contrário de seus irmãos mais velhos, que seguiram
para o Colégio de Aplicação. Do Arqui, tem lembranças inesquecíveis, como o
primeiro namorado, as primeiras amigas e o clima de amizade que reina até hoje
entre alunos e professores.
Como sempre gostou de brincar de professora, escolheu
Pedagogia como sua profissão. Formou-se na UFS, em julho de 1980, aos 21 anos,
mas já com quatro de sala de aula. "Quando entrei na faculdade, em 1976,
havia essa exigência: todos os alunos de Pedagogia tinham que ter pelo menos seis
meses de experiência em sala de aula. Foi por isso que aos 17 anos e com cara
de 13 saí batendo nas portas de algumas escolas atrás de emprego. Para minha
sorte, a escola que me acolheu foi justamente o Brasília. Mas em vez de aulas
"normais", ofereceram-me duas turmas de francês! Engoli em seco e
perguntei de novo, tentando ganhar tempo, mas não havia escolha. Ou eu aceitava
ou ficava sem os meus seis meses de experiência, exigidos pela UFS. Foi assim
que, da noite pro dia, me tornei professora de francês, com um francês muito
pior do que qualquer aluno iniciante... Meus alunos nunca souberam, mas
‘aprendemos’ francês juntos!"
Depois de formada, fez o concurso para o Estado e foi
lecionar na Escola Normal, onde conheceu a professora Marlene Calumby, que
também se tornaria importante em sua vida. "Marlene me dava carona até em
casa e como ensinávamos a mesma disciplina dividíamos muitas idéias para
trabalhar em sala de aula. Nossa amizade foi se fortalecendo a tal ponto que
para todos os lugares onde Marlene ia ela me convidava para trabalhar com ela.
Foi assim no Colégio Atheneu, quando ela assumiu a direção e me convidou para
ensinar português; foi assim no Conselho de Educação, quando ela assumiu a
presidência e me convidou para ser a secretária da Câmara de 1º grau; foi assim
na Fundação Aperipê, quando ela assumiu a superintendência e me convidou para
chefiar o departamento de produção educativa da rádio e foi através dela que o
monsenhor Carvalho me convidou para ensinar no Arquidiocesano. Por isso, tenho por
ela uma profunda gratidão, pois foi ela quem me descobriu e me deu a primeira
oportunidade de mostrar o meu trabalho".
Os quatro anos que passou na Aperipê (1991-1995) Lílian
guarda com carinho, pois acredita que foi quando mais desenvolveu sua criatividade.
Dentre suas criações radiofônicas estão: "Sem medo de errar", que
mais tarde também ganhou uma versão para a TV, dava dicas de português, um
horóscopo educativo, uma radionovela e o programa semanal "Vivendo e
Aprendendo", que fazia uma retrospectiva dos fatos marcantes ocorridos no
Brasil durante o século XX e que mais tarde também ganhou uma versão para a TV,
ensinando o significado dos nomes das ruas e resgatando a história de Aracaju.
Quando saiu da Aperipê, foi convidada pelo monsenhor
Carvalho para ensinar português e literatura no Arqui e "nas horas vagas
ser uma espécie de mãe para os alunos.
Essas ricas experiências em sala de aula lhe renderam um
livro de crônicas, intitulado "O Bilhete", lançado em novembro de
2006. ‘"O Bilhete’" é, pra mim, uma declaração de amor a todos os
alunos que, ao longo desses 30 anos como professora, passaram por mim".
Como fruto do seu trabalho com a língua portuguesa e
apostando numa proposta de ensino-aprendizagem mais concreta e divertida,
criou, em 2000, o Festival da Língua Portuguesa, que consiste em ensinar
português através de peças teatrais, escritas por elas.
"Essas peças são minha verdadeira paixão. Primeiro
porque não são histórias comuns, os personagens são termos da gramática;
segundo, porque a peça é encenada pelos meus próprios alunos e isso é uma
verdadeira façanha, pois não é fácil reunir no palco quase vinte adolescentes,
com horários e interesses diversos e o que é pior, sem nenhum interesse
financeiro, apenas por amizade! Todo esse meu encantamento pelo teatro eu devo
a Ricardo Monteiro, meu grande amigo, que consegue tornar possíveis todos os
meus sonhos. Por ele, Denys e Gênesis, tenho um carinho especial".
Em 2002, foi vencedora de um concurso de aulas de
multimídia, em nível nacional, com uma aula sobre fonética e em 2004 venceu o
Prêmio Banese de Literatura, com a obra infanto-juvenil "Deu a louca no
meu guarda-roupa". "Esse livro foi lançado na Bienal do Livro/RJ
(2005) e adotado em nove escolas de Aracaju e em três de Maceió.
Em 2005, Lilian recebe outro convite inusitado de Marlene
Calumby e vira roteirista e apresentadora de televisão. "Esse convite foi
um dos maiores desafios da minha vida! Eu tinha que criar um programa
educativo, que falasse de temas diversos, a partir da mistura esquisita de um
ator, uma jornalista e uma professora! Foi assim que nasceu o ‘Palavrear’ e que
Júlia, Pascoal e César Macieira entraram na minha vida".
Desafio ou não, o certo é que o "Palavrear",
apresentado aos domingos, pela TV Aperipê, graças ao seu formato leve e
descontraído caiu no gosto do povo e o que era para durar apenas três meses
passou um ano e meio no ar. "Em junho, quando recebi a notícia da morte de
César, fiquei me sentindo um pouco ‘viúva’. Nós tínhamos uma relação muito boa,
parecia que éramos amigos de longa data, de tão leve que o texto fluía! Ele era
um profissional de mão cheia, seguia à risca os meus roteiros e fazia de tudo
pra cumprir todos os personagens que eu escolhia pra ele. Seu talento e
profissionalismo sei que vão ficar pra sempre na minha memória".
Em 2007, percebendo a boa aceitação que o seu livro tinha
entre as crianças, Lilian resolve adaptar a história para o teatro, criando
mais um projeto inovador, a fim de estimular ainda mais nas crianças o gosto
pela leitura.
É assim que, em maio e agosto de 2007, o espetáculo
"Deu a louca no meu guarda-roupa", dirigido por Gênesis Rocha, é
apresentado no Teatro Atheneu, sendo visto por cerca de três mil crianças e
adultos. "Essa peça representou um marco na minha carreira. Pela primeira
vez tive a honra de trabalhar com atores profissionais e ainda ganhei dois
presentes bastante significativos: uma trilha sonora, composta por Gilton Lobo
e Ricardo Monteiro e gravada por Simone Rigo e Álvaro Muller, e uma coreografia
lindíssima, assinada por minha ex-aluna,, Renatinha Mello. Ver meus personagens
no palco, cantando e dançando para uma platéia imensa de crianças silenciosas e
atentas, foi algo que nunca vou esquecer".
Entusiasmada com esses resultados, em novembro de 2007
Lilian lança seu segundo livro infantil, "O Chá das Oito", que em
menos de um mês já integra a lista dos paradidáticos escolhidos nas principais
escolas de Aracaju. "Meus livros não teriam graça nenhuma se não tivessem
o toque mágico de Valter Schueler, meu ilustrador. É impressionante como ele
consegue traduzir em desenhos o que está dentro da minha cabeça. É um parceiro
valiosíssimo pra mim".
Este ano, prepara-se para realizar mais dois grandes sonhos:
a montagem de outro espetáculo infantil, "O Chá das Oito", e o
lançamento do seu 4º livro, "Rasgando o Verbo", projetos
contemplados, respectivamente, pelo Programa Aracaju + Cultura, coordenado pela
Funcaju, e Programa BNB de Cultura, o que lhe possibilitará a continuidade do
seu projeto "Livro no Palco".
Lilian é casada com Austeclino Rocha e tem cinco filhos:
Felipe (23), Júlia (21), Letícia (20), Gustavo (17) e Victor (14). "Todo
mundo se espanta quando digo que tenho cinco filhos, pergunta logo se são todos
meus e eu confesso que sinto o maior orgulho de dizer que sim. Eu e Austeclino
namoramos e casamos em apenas três meses e estamos juntos há 24 anos. Muito
mais que um marido, ele é pra mim um companheiro que topa tudo e respeita muito
essa minha natureza inquieta e criativa. Ninguém mais teria a mesma paciência
comigo..."
Texto reproduzido do site:
usuarioweb.infonet.com.br/~osmario
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 4 de setembro de 2014.
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