sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Lilian Rocha: De pedagoga a autora de livros e peças teatrais.

A escritora Lilian Rocha na Bienal de SP. (Ago/2014).
Foto reproduzida do Facebook/Letícia Gomes.

Publicado originalmente no site de Osmário Santos, em 15/02/2008.

Lilian Rocha: De pedagoga a autora de livros e peças teatrais.
Por Osmário Santos.

Lilian Gomes Rocha, nascida a 3 de junho de 1958, é natural de Aracaju, é a 4ª filha de Maria Noemi e do escritor Petrônio Gomes, de quem herdou o gosto por escrever."Meu pai sempre foi um leitor inveterado. Ele lia nas poucas horas vagas que tinha e inventava horas vagas que não tinha para ler. Sua biblioteca pessoal é gigantesca e ele tem uma cultura fenomenal. Essa paixão pelos livros ele nos foi passando desde a infância. Aos domingos, por exemplo, antes de irmos jantar na casa do meu avô, meu pai passava na Chic, para comprar o jornal, e todos os seis filhos tinham direito de escolher a revistinha que quisessem, era uma festa! E não era raro ele chegar do trabalho com o primeiro volume de uma longa coleção para a gente, que para o nosso deleite, era alimentada semanalmente... Sem dúvida, a influência do meu pai em minha vida é bastante significativa!".

Sua mãe, funcionária pública aposentada, compõe o outro lado da moeda em quem Lílian também se inspira. "Enquanto meu pai representa a leitura, o estudo, minha mãe representa a ação. Um completa o outro. Minha mãe é o meu mais perfeito exemplo de coragem, mas não uma coragem que sai gritando pelos seus direitos, mas uma coragem silenciosa e serena, que a tudo suporta, de pé, com dignidade, fé e valentia. Costumo dizer que minha mãe é ‘inventada’, não é de verdade. Ela é um anjo!".

Lílian fez o primário no Educandário Brasília e garante que tudo o que aprendeu de português veio de lá. Para fugir do exame de admissão, preferiu ir para o Arqui, ao contrário de seus irmãos mais velhos, que seguiram para o Colégio de Aplicação. Do Arqui, tem lembranças inesquecíveis, como o primeiro namorado, as primeiras amigas e o clima de amizade que reina até hoje entre alunos e professores.

Como sempre gostou de brincar de professora, escolheu Pedagogia como sua profissão. Formou-se na UFS, em julho de 1980, aos 21 anos, mas já com quatro de sala de aula. "Quando entrei na faculdade, em 1976, havia essa exigência: todos os alunos de Pedagogia tinham que ter pelo menos seis meses de experiência em sala de aula. Foi por isso que aos 17 anos e com cara de 13 saí batendo nas portas de algumas escolas atrás de emprego. Para minha sorte, a escola que me acolheu foi justamente o Brasília. Mas em vez de aulas "normais", ofereceram-me duas turmas de francês! Engoli em seco e perguntei de novo, tentando ganhar tempo, mas não havia escolha. Ou eu aceitava ou ficava sem os meus seis meses de experiência, exigidos pela UFS. Foi assim que, da noite pro dia, me tornei professora de francês, com um francês muito pior do que qualquer aluno iniciante... Meus alunos nunca souberam, mas ‘aprendemos’ francês juntos!"

Depois de formada, fez o concurso para o Estado e foi lecionar na Escola Normal, onde conheceu a professora Marlene Calumby, que também se tornaria importante em sua vida. "Marlene me dava carona até em casa e como ensinávamos a mesma disciplina dividíamos muitas idéias para trabalhar em sala de aula. Nossa amizade foi se fortalecendo a tal ponto que para todos os lugares onde Marlene ia ela me convidava para trabalhar com ela. Foi assim no Colégio Atheneu, quando ela assumiu a direção e me convidou para ensinar português; foi assim no Conselho de Educação, quando ela assumiu a presidência e me convidou para ser a secretária da Câmara de 1º grau; foi assim na Fundação Aperipê, quando ela assumiu a superintendência e me convidou para chefiar o departamento de produção educativa da rádio e foi através dela que o monsenhor Carvalho me convidou para ensinar no Arquidiocesano. Por isso, tenho por ela uma profunda gratidão, pois foi ela quem me descobriu e me deu a primeira oportunidade de mostrar o meu trabalho".

Os quatro anos que passou na Aperipê (1991-1995) Lílian guarda com carinho, pois acredita que foi quando mais desenvolveu sua criatividade. Dentre suas criações radiofônicas estão: "Sem medo de errar", que mais tarde também ganhou uma versão para a TV, dava dicas de português, um horóscopo educativo, uma radionovela e o programa semanal "Vivendo e Aprendendo", que fazia uma retrospectiva dos fatos marcantes ocorridos no Brasil durante o século XX e que mais tarde também ganhou uma versão para a TV, ensinando o significado dos nomes das ruas e resgatando a história de Aracaju.

Quando saiu da Aperipê, foi convidada pelo monsenhor Carvalho para ensinar português e literatura no Arqui e "nas horas vagas ser uma espécie de mãe para os alunos.

Essas ricas experiências em sala de aula lhe renderam um livro de crônicas, intitulado "O Bilhete", lançado em novembro de 2006. ‘"O Bilhete’" é, pra mim, uma declaração de amor a todos os alunos que, ao longo desses 30 anos como professora, passaram por mim".

Como fruto do seu trabalho com a língua portuguesa e apostando numa proposta de ensino-aprendizagem mais concreta e divertida, criou, em 2000, o Festival da Língua Portuguesa, que consiste em ensinar português através de peças teatrais, escritas por elas.

"Essas peças são minha verdadeira paixão. Primeiro porque não são histórias comuns, os personagens são termos da gramática; segundo, porque a peça é encenada pelos meus próprios alunos e isso é uma verdadeira façanha, pois não é fácil reunir no palco quase vinte adolescentes, com horários e interesses diversos e o que é pior, sem nenhum interesse financeiro, apenas por amizade! Todo esse meu encantamento pelo teatro eu devo a Ricardo Monteiro, meu grande amigo, que consegue tornar possíveis todos os meus sonhos. Por ele, Denys e Gênesis, tenho um carinho especial".

Em 2002, foi vencedora de um concurso de aulas de multimídia, em nível nacional, com uma aula sobre fonética e em 2004 venceu o Prêmio Banese de Literatura, com a obra infanto-juvenil "Deu a louca no meu guarda-roupa". "Esse livro foi lançado na Bienal do Livro/RJ (2005) e adotado em nove escolas de Aracaju e em três de Maceió.

Em 2005, Lilian recebe outro convite inusitado de Marlene Calumby e vira roteirista e apresentadora de televisão. "Esse convite foi um dos maiores desafios da minha vida! Eu tinha que criar um programa educativo, que falasse de temas diversos, a partir da mistura esquisita de um ator, uma jornalista e uma professora! Foi assim que nasceu o ‘Palavrear’ e que Júlia, Pascoal e César Macieira entraram na minha vida".

Desafio ou não, o certo é que o "Palavrear", apresentado aos domingos, pela TV Aperipê, graças ao seu formato leve e descontraído caiu no gosto do povo e o que era para durar apenas três meses passou um ano e meio no ar. "Em junho, quando recebi a notícia da morte de César, fiquei me sentindo um pouco ‘viúva’. Nós tínhamos uma relação muito boa, parecia que éramos amigos de longa data, de tão leve que o texto fluía! Ele era um profissional de mão cheia, seguia à risca os meus roteiros e fazia de tudo pra cumprir todos os personagens que eu escolhia pra ele. Seu talento e profissionalismo sei que vão ficar pra sempre na minha memória".
Em 2007, percebendo a boa aceitação que o seu livro tinha entre as crianças, Lilian resolve adaptar a história para o teatro, criando mais um projeto inovador, a fim de estimular ainda mais nas crianças o gosto pela leitura.

É assim que, em maio e agosto de 2007, o espetáculo "Deu a louca no meu guarda-roupa", dirigido por Gênesis Rocha, é apresentado no Teatro Atheneu, sendo visto por cerca de três mil crianças e adultos. "Essa peça representou um marco na minha carreira. Pela primeira vez tive a honra de trabalhar com atores profissionais e ainda ganhei dois presentes bastante significativos: uma trilha sonora, composta por Gilton Lobo e Ricardo Monteiro e gravada por Simone Rigo e Álvaro Muller, e uma coreografia lindíssima, assinada por minha ex-aluna,, Renatinha Mello. Ver meus personagens no palco, cantando e dançando para uma platéia imensa de crianças silenciosas e atentas, foi algo que nunca vou esquecer".

Entusiasmada com esses resultados, em novembro de 2007 Lilian lança seu segundo livro infantil, "O Chá das Oito", que em menos de um mês já integra a lista dos paradidáticos escolhidos nas principais escolas de Aracaju. "Meus livros não teriam graça nenhuma se não tivessem o toque mágico de Valter Schueler, meu ilustrador. É impressionante como ele consegue traduzir em desenhos o que está dentro da minha cabeça. É um parceiro valiosíssimo pra mim".

Este ano, prepara-se para realizar mais dois grandes sonhos: a montagem de outro espetáculo infantil, "O Chá das Oito", e o lançamento do seu 4º livro, "Rasgando o Verbo", projetos contemplados, respectivamente, pelo Programa Aracaju + Cultura, coordenado pela Funcaju, e Programa BNB de Cultura, o que lhe possibilitará a continuidade do seu projeto "Livro no Palco".

Lilian é casada com Austeclino Rocha e tem cinco filhos: Felipe (23), Júlia (21), Letícia (20), Gustavo (17) e Victor (14). "Todo mundo se espanta quando digo que tenho cinco filhos, pergunta logo se são todos meus e eu confesso que sinto o maior orgulho de dizer que sim. Eu e Austeclino namoramos e casamos em apenas três meses e estamos juntos há 24 anos. Muito mais que um marido, ele é pra mim um companheiro que topa tudo e respeita muito essa minha natureza inquieta e criativa. Ninguém mais teria a mesma paciência comigo..."

Texto reproduzido do site: usuarioweb.infonet.com.br/~osmario

Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 4 de setembro de 2014.

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