Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 19/06/2009.
Um Centenário Estanciano - Raymundo Silveira Souza e seu
tempo.
Por Luiz Antônio Barreto.
Estância carrega o mérito de ter sido a porta e o berço da
civilização sergipana, por onde passaram os jesuítas da Catequese de 1575 e
onde requereram terras, como troféus, alguns dos soldados de Cristóvão de
Barros, que conquistaram Sergipe, em 1590. Nos anos seguintes as terras foram
ocupadas por colonos que se aventuravam nas lavouras e nos criatórios, formando
pequenos núcleos que o século XVIII foi transformando em Freguesias, cada uma
com seu Orago, dividindo o território que ia da margem direita do rio Real à
margem esquerda do rio São Francisco. É desse tempo a lendária presença de
Pedro Homem de Melo, tido por fundador da Estância.
O século XIX é um símbolo para Estância. É lá que aparecem
as primeiras folhas tipográficas, como o Recopilador Sergipano, editado a
partir de 1832, na Tipografia Silveira & Cia, do Monsenhor Antonio
Fernandes da Silveira, que também organizou partido político forte no sul da
Província, conquistando lugar destacado na organização da Província emancipada.
O jornalismo marcou Estância, cada jornal com sua coragem, como pode ser
exemplo A Razão, com sua verve, seu engajamento, vivendo cada fase com o vigor
dos seus jovens redatores.
A literatura sergipana nasceu na Estância, com poetas,
romancistas, teatrólogos, cuja síntese pode ser conferida na obra de
Constantino José Gomes de Souza, sem negar a poesia de Pedro Calasans e de José
Maria Gomes de Souza, cujas obras se tornaram referências da evolução estética
no Brasil. Jorge Amado, de família estanciana, refugiou-se na cidade e criou,
com uma geração de amigos e parceiros, um cenário para o ambiente de festa
cultural, que repercutiu em sua obra de romancista.
A educação na Estância é um capítulo grandioso para Sergipe,
não só pela geração dos Cardoso, que ocupou cadeiras e ainda, no começo do
século XX, ofereceu a Sergipe o Colégio Tobias Barreto, por ação de José de
Alencar Cardoso, o querido professor Zezinho, empreendida ao lado de Verçoza
Pitanga, mas porque os liceus, os cursos particulares, as escolas ocuparam
espaços e cuidaram da instrução dos estancianos.
A música da Lira Carlos Gomes, fundada em 1877, dos
pianistas, homens e mulheres que deram à cidade uma trilha sonora de qualidade,
acrescida das composições do Monsenhor Vitorino Fontes e de Ismênia Fontes,
muitas delas inéditas, nos arquivos da Escola Nacional de Música, no Rio de
Janeiro.
A vida econômica, produzindo no campo o sustento da
população, ou investindo na produção industrial, diversificada, revelando
talentos de empreendedores como Constâncio Vieira, Leopoldo Souza, Eliziário
Silveira, Júlio Leite, que soube aclimatar-se e deixar representação familiar
para seguir adiante com os empreendimentos. No bojo da presença das fábricas, o
bairro Bonfim ganhou visibilidade própria, com suas festas, cinema, equipe de
futebol, e toda uma organização para o lazer dos operários, e para atender,
socialmente, os trabalhadores e seus familiares.
Estância varou o tempo e contou com testemunhos especiais de
homens íntimos com o progresso civilizador da cidade, como é o caso de Raymundo
Silveira Souza, cidadão pleno, que viveu e historiou sua vida, empreendeu e
firmou posição política, continuou o caminho do pai, mas soube ser, por si
mesmo, um vitorioso. Neste ano de 2009, Raymundo Silveira Souza faz um século
de nascido. Evocar sua figura de homem público, de empresário, de chefe de
família, de administrador, é rever, com fidelidade, o progresso da cidade e do
município, sendo construído passo a passo, superando obstáculos, abrindo
frentes atualizadas de ação, renovando as velhas e válidas crenças, com as
quais Estância ganhou forma e sobreviveu.
Raymundo Silveira Souza foi um homem do seu tempo, mas teve
do passado o exemplo de casa, dado e deixado por Leopoldo Araújo Souza, a quem
seguiu e de quem herdou valores que foram incorporados na vivência cotidiana da
cidadania. Viveu 80 anos, mas foi, integralmente, um homem do século, e tudo
anotou no seu indispensável documentário Gente que conheci, coisas que ouvi
contar, que em forma de crônicas saiu no jornal Folha Trabalhista, e que
mereceu duas edições, que estão esgotadas.
O Centenário de Raymundo Silveira Souza é uma oportunidade
de Estância rever sua história, sua vida social e cultural, sua ação política e
administrativa, seu parque industrial e suas atividades econômicas, e, enfim, o
estágio de civilização que anima as novas gerações. Os campus acadêmicos,
repletos de estudantes em graduação, renova a paisagem estanciana, mas os
pianos que ainda não emudeceram, e a velha Lira que ainda anima festas, dão
ritmo constante a uma cidade eterna.
A Sociedade VIVA ESTÂNCIA, nascida e mantida graças aos esforços
de Maria Eugênia Teixeira, professora, intelectual e descendente das tradições
estancianas, organizou a programação de um evento que marcou, neste ano de
2009, em torno do dia 25 de maio, os 100 anos de Raymundo Silveira Souza. É um
momento raro, uma oportunidade de evocações, debates e reflexões, que
enriquecem a história de Estância e de Sergipe.
Foto e texto reproduzido do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem aqui, originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 12 de maio de 2014.
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