Infonet - Blog Luíz A. Barreto - 01/08/2007.
J. Inácio, artista da alma sergipana
Por Luiz Antônio Barreto.
Nem sempre a formalidade da crítica é capaz de revelar a
arte e seus artistas, quando eles fogem dos enquadramentos estéticos. J.
Inácio, nascido José Inácio de Oliveira, que também se assinou Igo, teve escola
e suas obras, embora pareçam anárquicas, são a mais próxima expressão da alma
sergipana. Não apenas pelas cores, fortes e repetidas, pelos objetos, tanto os
internos da casa, da cozinha, como os externos, bananeiras, jaqueiras, outras
fruteiras, que se fundem nas paisagens típicas da terra sergipana.
Vivendo muito, 96 anos, J. Inácio teve tempo de mesclar a
sua arte, mas preferiu afirmar-se na repetição, deixando para os críticos o
problema teórico da interpretação, como ele próprio prometeu, certa feita, ao
falar de si mesmo. É certo que seu filho Caã herdou formas e cores, ainda que
mantenha-se tímido, sem querer trafegar na esteira do modelo do pai. Outros
seguidores, por onde andam com suas telas?
J. Inácio não precisou da morte para ser “santificado” entre
os sergipanos. Sua vida errante, desapregada dos cânones tradicionais, não
justifica, apenas, as três viagens que fez, a pé, do Rio de Janeiro, nem mesmo
a convivência turbulenta com seu irmão santo, Padre Pedro. Sem casa, sem rumo
diário para o exercício da sobrevivência, simplesmente tocou o cotidiano, sem
requerer fortunas, ou mesmo soldos ou salários que pagassem suas magras contas.
Vendeu quadros geniais como quem vende bananas, sem qualquer preocupação em
diferenciar uma coisa da outra. Não raro foi tido como doido, eufemismo popular
de patologias diversas de loucura, mas a tudo resistiu, com uma ponta de
ironia, marcante em seu passeio de quase um século pelo mundo.
Não há, ainda, um inventário da obra inaciana. Nem da
quantidade, tarefa desafiante, nem da qualidade, que vai exigir análise
crítica. Há, contudo, alguma coisa escrita em torno da figura do artista, com
reprodução de sua arte.
Eu mesmo, em 1985, escrevi um texto sobre a Arte Sergipana,
para o livro A Arte do Nordeste (Rio de Janeiro: Spala Editora, 1986), no qual
destacava a presença de J. Inácio na história da arte em Sergipe, dizendo:
Um artista, mais que os outros de Sergipe, tem tido uma
trajetória singular. É J. Inácio, um tropicalista antes do Tropicalismo, um
ecológico, a insistir em fixar bananeiras, jaqueiras e mangueiras nas telas que
são, às centenas, espalhadas pelo Brasil. J. Inácio teve escola, passou pelo
Rio de Janeiro, mas desgarrou-se para ser, na individualidade do seu estilo, um
ponto de referência da arte sergipana.
Poeta e andarilho, J. Inácio fez o registro da vida do
interior sergipano, simbolizando na casa de farinha o fazer e o sobreviver de
uma gente sensível, que produz as mais diversas manifestações culturais e está
com as mãos prontas para aplaudir, nas festas do Natal, os Reisados e
Cheganças, Guerreiros e Pastoris, Cacumbís e Taieiras, ou, no São João,
Bacamarteiros e Batalhões, Sambas de Roda e Emboladores de Coco.
Além do visual tropicalista e ecológico J. Inácio fez, no
seu acervo de muitas obras, a parte fina de sua composição, ilustrando livros e
folhetos a bico de pena, assinando Igo.
Foto e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem aqui, originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 18 de maio de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário