Foto reproduzida do Facebook/Rosa Maria Sampaio.
Uma Rosa.
Rosinha Sampaio era da turma de Guerrinha, dos Villa
Nova...turmas que respeitávamos - e temíamos - no caldeirão social da
Associação Atlética de Sergipe, na década de setenta. Era um lugar de
empertigada distinção social, mas complacente para penetras catando ascensão.
Quem não estivesse na Atlética, estaria por fora, relegado aos frege-moscas dos
cabarés ou comendo pipoca Lírio do Vale na Ponte do Imperador.
Conviviam lá os
emergentes dos cafundós (como eu) e a elite endinheirada de Aracaju. Quem não
tivesse acesso ao Clube, por extrema pobreza ou desgraçada inépcia, podia
recorrer ao beneplácito de Bota Fogo, negão afável e quase dono de tudo, antigo
funcionário que tinha poder e determinação para enfrentar qualquer diretoria e
subverter a portaria. Bota Fogo, anote ai, era um remoto agente de inclusão
social, antes que aqui alguém se interessasse por tais heroísmos. A palavra
“cidadania”, qualé? Nem existia.
Tínhamos, na periferia, o olho atento à programação da
Atlética e o cuidado de reproduzir , para freqüentá-la, os ditames da moda, às
vezes exagerados, que nos confundissem ali com os bem nascidos.
Naquele tempo havia lá, muito caracterizadas para nós, as
meninas de queixo duro que nem sequer nos concedia um alô! Eram, para nós, “as
bestinhas”.
Mas Rosa Sampaio, não! Era tão natural para ela ser
“simples” que ela talvez nem se lembre disso! Com a elegância que lhe veio do
berço, Rosa, bem vestida e “finesse”, concedia atenção aos periféricos e até,
suprema condescendência, aceitava, de vez em quando, um golinho de Crush
queimadinha com vodka que a galera da arquibancada, num misto de respeito e
admiração, lhe oferecia.
Quando fiz o meu primeiro filme em Super 8, “O Rapto “– um
pretenso policial cheio de suspenses juvenis, com Ilma Fontes no papel de
mocinha - foi na casa de Guerrinha, na prestigiosa Villa Cristina, que filmei
as mais complicadas tomadas. Certamente porque ela, a Rosa que influenciava
essa turma, apreciando os “artistas da terra”, intercedeu por nós. Ainda hoje
acredito piamente nisso.
Atualmente temos nos encontrado em elegantes rodas de vinho
e papos. Rosa Sampaio continua rica de vida, ainda ocupando o seu posto na
elite da inteligência, sempre magnânima e simples.
Amaral Cavalcante.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 10 de janeiro de 2012.
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