Publicado originalmente no site Memórias da Ditadura.
Wellington Mangueira.
Do grêmio do Atheneu a resistência à ditadura
Por Camila Silva Santos.
Meio século se passou e a memória é vívida. Mas recontar o
pesadelo da ditadura militar ainda é doloroso, pois por diversas vezes foi
preso e torturado pelo regime que manchou a história do Brasil. “Cada vez que
conto, o faço ainda seguindo a orientação do meu médico, Antônio Garcia Filho,
de que estou expulsando os meus fantasmas”. O relato é do Secretário de Estado
Adjunto da Cultura, Wellington Dantas Mangueira Marques, filiado ao PPS, mas
sentimentalmente ligado ao “velho” Partido Comunista Brasileiro (PCB), para o
qual contribui regularmente.
Marxista é como se autodenomina. Diz sentir saudade do velho
partido, que valeu a pena lutar e que ainda militaria nele com todo amor.
Nascido em Aracaju, no dia 21 de agosto de 1945, é dono de um coração que luta
por ideias, por um mundo mais justo, mais humano e mais fraterno. É pai de três
filhos, sendo uma adotiva, todos criados dentro da sua ideologia. E é com muita
simplicidade, cordialidade e simpatia que ele nos enriquece com o relato de
parte significativa de sua história.
Em 1964 estudava do Colégio Atheneu, chamado na época de
Colégio Estadual e pouco antes do golpe vivenciava tempos de euforia. “A
juventude, os intelectuais, trabalhadores de um modo geral, estavam vibrando,
entusiasmados com a luta desenvolvida em torno de questões de importância
central para a nação. O Brasil estava se descobrindo e provando, para nós
mesmos e para o mundo, a sua grandeza”, recorda Wellington Mangueira.
Contribuíram para este contexto otimista, entre outros fatos, a construção de
Brasília, o título mundial de futebol conquistado na Suécia, onde em meio aos
loiros altos e de olhos azuis, Pelé com 1,68m se tornava rei.
“Tudo isso enchia de orgulho o povo brasileiro na sua luta
para superar o atraso, mas sentíamos que dois obstáculos históricos ainda
precisavam ser removidos: o latifúndio improdutivo e o imperialismo econômico
comandado pelos Estados Unidos que nos queria fazer de colônia”, aponta. Não se
acreditava, portanto, no triunfo de um golpe de estado. O então secretário
geral do PCB, Luiz Carlos Prestes, chega a dizer que não haveria clima para que
os militares estabelecessem a ditadura.
“No comício do dia 13 de março, no Rio de Janeiro, o
presidente João Goulart juntou milhares de pessoas, quantidade nunca dantes
vista no país. Diante de seus ministros e de pessoas importantíssimas,
inclusive o nosso governador Seixas Dória, fez um belíssimo pronunciamento
assegurando aos brasileiros que caminhávamos celeremente para o aprofundamento
da democracia”, relata Mangueira, com a segurança de quem contemporizou o
importante período histórico.
O Golpe de 64 e a 1ª prisão.
Para Mangueira, ele começou a se processar no dia 31 de
março, mas se concretizou no dia 1º de abril.
“Esse golpe trouxe desamor, violência, perseguição, tortura,
exílio e assassinatos de vários brasileiros. Milhares foram presos logo no
primeiro momento sob a acusação de subversão”. O arcebispo de Aracaju, Dom José
Vicente Távora, de ideias e ações progressistas, foi considerado comunista e
ficou impedido de sair da cúria. “O governador Seixas Dórea foi preso em
Fernando de Noronha porque, além de não aceitar, ele assinou manifesto contra o
golpe. Agonalto Pacheco, principal líder do PCB no estado, fugiu para São Paulo
graças à força e a coragem do Major do exército João Teles, que era comunista.
Robério Garcia e centenas de companheiros foram presos, entre eles estudantes
menores de idade que eram logo depois soltos, mas sob vigilância”, conta.
As liberdades democráticas foram suprimidas, a União
Nacional dos Estudantes (UNE) foi posta na clandestinidade, os centros
acadêmicos foram desconstituídos e até os grêmios escolares sofreram
intervenção. Wellington Mangueira, presidente do grêmio do Colégio Estadual,
foi preso e transportado para o campo da pólvora em Salvador. O constrangimento
atingiu também professores como Ofenísia Freire, Tétis Nunes e Silvério Leite
Fontes, que foram proibidas de ensinar ou sofreram muitas restrições. Uma
paródia da época feita por estudantes denunciava as perseguições na escola:
“Eu vou contar para todos a história do estadual, de uma
diretora que era muito má, seu nome era Lobão, gostava de suspender, mas um
dia, porém, veio a tal revolução e muitos estudantes foram expulsos por Lobão,
Mário Jorge, Abelardo e Anderson, Wellington, Jackson e Alceu, tiveram suas
matrículas caçadas no Atheneu. Eles foram para a justiça e ganharam a questão e
a tal diretora pediu demissão.”
A militância.
Poucos meses após o golpe Mangueira, Mário Jorge, Abelardo
Silva Souza e Apolônio Carvalho da Paixão já se reuniam. No colégio Tobias
Barreto Félix Mendes, Marcélio Bomfim e Serivaldo Pereira também começavam, de
forma muito sutil, a se movimentar contra a ditadura. “Veio o dia do estudante
e organizamos um encontro no Cine Vitória dizendo que era para assistir
‘Marcelino pão e vinho’. Um filme bobo, sentimental, mas de qualquer maneira
organizava os estudantes para discutir a liberdade”, explica. As datas
históricas eram aproveitadas para os manifestos.
No plano intelectual sergipano, nomes como José Rosa
Oliveira Neto, Renatinho Chagas, Ivan Valença e Orlando Dantas, dono da Gazeta
de Sergipe, merecem destaque. Por sugestão de Oliveira Neto foi organizado em
1965 o Seminário de Filosofia, na Galeria de Arte Álvaro Santos, com o objetivo
de reunir pessoas para reaprender a pensar politicamente. A filiação de
Wellington Mangueira ao PCB aconteceu em janeiro de 1966 e sua atuação foi
prioritariamente na frente legal do partido. “Quando eu fiz coisas clandestinas
não foram dentro do aparelho. O que fiz foi distribuir jornal, ir para um
ponto, pegar dinheiro com Caetano Veloso, mas não era um clandestino permanente”,
esclarece.
Surgem os jornaizinhos das faculdades: ‘A Verdade’, dos
estudantes de Direito “que dizia coisas aparentemente despretensiosas, mas
apontava na direção que o velho PCB orientava: anistia a todos os presos
políticos, assembleia nacional constituinte, eleições diretas”. Na faculdade de
Filosofia criou-se ‘O Coruja’; na de Medicina ‘O Bisturi’. “Procurávamos
estimular a criação de jornais para denunciar aquilo que a Gazeta de Sergipe
não denunciava por causa da censura. Raul Barbosa, jornalista ligado ao PCB,
nos informava o que era cortado e a gente colocava nos jornais”, acrescenta.
A movimentação contra a ditadura que sempre existiu em
Sergipe, em parte financiada com recursos de pessoas que não queriam se expor,
mas amavam a democracia. “Pegamos dinheiro até de Joaquim Ribeiro, dono da
fábrica Confiança, e ele sabia que era para o PCB. Pegávamos dinheiro com o
arcebispo Dom José Vicente Távora, que dava discretamente”. Além disso,
sorteios de máquinas de datilografia e participações em concursos no rádio
também faziam finanças. “Num desses a irmã de Jackson Barreto ganhou, mas quem
fazia as cartas era ele, que já era dedicado atuante contra a ditadura. Como
conhecia a geografia de Aracaju, a gente distribuía os panfletos tarde da noite,
com certa segurança, porque ele sabia por onde entrar e sair, sobretudo nos
bairros periféricos”, relembra.
De acordo com Mangueira, o governador Jackson Barreto foi
importante quadro do PCB, cumprindo tarefas no plano legal, mas também no plano
da solidariedade. “Quando viajei para Moscou ele cuidava da mãe de minha
mulher, que era viúva e sem condições. Realizou tarefas também de organização,
financeira, de agitação e propaganda. Qualquer hora eu até escrevo sobre
isso…”. Artistas também confrontaram o regime. Um exemplo é a peça de teatro
“Recital sem opus”, de João Costa e Luiz Antônio Barreto, que denunciava a
violência, se colocava contra qualquer forma de ditadura. Ela foi apresentada
no auditório do Atheneu e no Cotinguiba e toda a renda foi para o PCB.
AI5, novamente preso.
O ano de 1968 registrou no Rio a primeira vez em que 100 mil
brasileiros marcharam enfileirados com o mesmo intuito. Nesse período é
decretado o Ato Institucional nº 5 (AI5) e os anos de chumbo se tornaram ainda
mais cruéis. Mesmo assim universitários do Brasil inteiro se reuniram na
clandestinidade em Ibiuna (SP) para o 30º Congresso da UNE. Sergipe teve
representantes: Wellington Mangueira, Benedito Figueiredo, João Augusto Gama,
José Alves da Silva, Laura Ribeiro Marques (esposa), Euze dos Santos, Janete
Correia, Antônio Vieira, José Jacobias Polito, Bosco Rolemberg, entre outros.
Os cerca de mil estudantes foram todos presos. Em dezembro do mesmo ano estava
entre os mais de 50 estudantes e intelectuais que passaram o final de ano
presos no 28º Batalhão de Caçadores. “Quando saímos tivemos nossos mandatos de
dirigentes estudantis cassados. Não pude mais ser presidente do centro
acadêmico Silvio Romero, da Faculdade de Direito, Jackson Barreto que era meu
vice-presidente também não e tantos outros”.
Exílio, retorno a Aracaju e torturas.
A militância acontecia discretamente até que, muito visado o
casal foi para Moscou em 1971, a mando do partido. Voltaram dois anos depois
quando o Superior Tribunal Militar os inocentou. “Era uma armadilha. Fomos
presos, levados para a Bahia e barbaramente torturados. Despiram-na, colocaram
numa mesa, ameaçando manter relações com ela se eu não contasse o que eles
queriam saber. De lá nos levaram para Brasília e depois para o Rio de Janeiro.
Nos soltaram quando, de tanto me torturar e eu também querendo me enlouquecer,
eles acharam que eu estava louco. Disseram que depois de uns dias eu teria que
fazer contato com eles”, revive a angústia.
Solto como doido teve nos familiares, nos amigos e no
partido o apoio para fugir e entrar na clandestinidade sem atender à
determinação feita. A casa de Marenice, viúva de Mário Jorge, se tornou um
aparelho do partido onde o casal passou ali mais de 90 dias até que se
comprovou a gravidez de Laura, era a primeira filha, hoje juíza. Com a
confirmação planeja-se uma fuga, quase cinematográfica, num fusca verde, para o
Rio de Janeiro. (Comprado pela irmã de Wellington Mangueira, o carro ainda
existe e é conservado por ela como um troféu).
O relato da prisão em Porto Alegre.
Para sair do Rio as opções eram poucas. A escolha foi sair
do país por Porto Alegre (RS), de onde o casal pretendia seguir para o Uruguai.
Mas, com as passagens compradas foram presos pela Polícia Federal. “Eu engoli
uma oração que minha tia Alvina tinha feito. Temi que eles exigissem que eu
dissesse de quem era aquela letra, já que eu disse não conhecer ninguém.
Angustiado, eu batia a cabeça na parede… Disse a eles que Laura estava grávida
e colocaram ela numa mesa, o mesmo método, que era o ensinado pela polícia
americana para constranger os maridos quando um casal era preso. Eles, que não
eram médicos coisa nenhuma, fizeram exames locais, que na verdade eram para me
indignar. Ao cabo de algum tempo disseram ‘ela está grávida mesmo’ e nos
jogaram em celas separadas. Na noite seguinte um delegado bem grande, chamado
por um sobrenome italiano, me disse: ‘para o aparato policial vocês são mais
perigosos do que se estivessem armados. Vocês fazem a parte da inteligência, o
líder de vocês é Luiz Carlos Prestes’”. “Se colocar a relação dos policiais
federais de 1973, da PF do Rio Grande do Sul pelo nome eu identificarei”,
garante.
Foi levado por ele para o terraço da PF de Porto Alegre.
“Aqui você vai dizer o que quer e o que não quer. Teve gente que já se jogou daqui
de cima, eu não sei, é uma questão de escolha. Lembrei de um companheiro que
anos antes tinha sido assassinado e divulgaram que ele tinha se jogado de um
prédio. Não, eu não vou me jogar não. ‘Então quer dizer que você não vai dizer
o que a gente quer e não vai se jogar, mas você pode ficar tonto e cair’… e
isso demorou … até que a gente desceu”. No dia seguinte, o casal foi levado de
avião para o Rio, novamente para a prisão Barão de Mesquita, onde ficaram por
meses permeados por infinitos dias e diferentes tipos de torturas, mas
resistiram corajosamente, sempre negando saber quem era Luiz Carlos Prestes.
Numa das torturas, chamada de geladeira, após acordar lhe
jogam um capuz e o levam a uma sala grande, uma câmara fria. O fazem sentar
numa cadeira pequena como de uma criança de dois anos. Numa espécie de tribuna
há um torturador dizendo que poderia discutir o que quisesse com ele enquanto
lâmpadas fortes lhe eram direcionadas. E isso seguiu continuamente. “Eu, que na
primeira vez já tinha demonstrado estar com as faculdades mentais debilitadas,
com características de loucura, senti como um mecanismo de defesa da minha
mente que deveria estimular a situação. Raspava o pulso no cimento, escrevia
com sangue, mas não tinha coragem de ir até o fim”, revela. “Laura, grávida,
sofreu toda sorte de constrangimentos morais. O sanitário era um buraco no
chão, com meia parede, o chuveiro era ali mesmo totalmente aberto. A cela era
de portas pesadas, tinha uma janelinha e um olho mágico e aquela tampa onde
colocava comida. Não foi fácil!”, resume Mangueira.
A volta e o enlouquecimento.
Soltaram o casal, certamente para os seguir. Wellington
completamente enlouquecido e Laura já com a barriga grande. Foram colocados num
ônibus que os deixou em Maruim, onde, numa Brasília foi resgatado pelo cunhado,
era 1973. “Voltei como doido e a situação era tão grave que eu achava que
estava cheio de microfones dentro de mim. Na minha cabeça, como eu não tinha
dito o que eles queriam e mesmo assim me soltaram, mas alguém me procuraria.
Eles me enlouqueceram e eu contribuí para a loucura que foram aquelas prisões.
Então cheguei em casa e peguei uma caneta e papel e não queria falar de jeito
nenhum. Escrevia, pedia fogo e queimava. E assim eu passei dias só escrevendo”,
conta.
O jornalista Paulo Barbosa relata em seu livro ter ficado
impressionado com aquela situação de terror presenciada ao visitá-lo meses
depois. Pelo dia tomava Reativan, para dar alegria de viver e Valium à noite,
para dormir. “O Doutor Antônio Garcia Filho fez isso num momento crucial porque
eu estava enfurecido, acuado! Passado um mês escutei ele falar ao meu pai que
eu ficaria viciado, então não quis mais tomar remédio nenhum. Dei muitos chutes
nas paredes dormindo e acordava achando que estava sendo torturado. O médico
disse que eu tinha que cansar o físico de dia e à noite ler muito até ter sono
para dormir tranquilamente. Foi o que ele chamou de Labor terapia e disse que
assim eu conheceria os gigantes da alma”.
No Cotinguiba o reencontro com a vida.
O médico acreditava que para o reequilíbrio psíquico ele
precisaria se dedicar a uma paixão e o Cotinguiba foi envolvido nesta missão no
final de 73. Era um método para elevar sua autoestima. “O Cotinguiba estava se
reconstituindo com Cássio Barreto, a quem eu rendo as minhas eternas
homenagens. Esse é o amigo e o irmão que teve a coragem de assumir essa
responsabilidade, de me registrar e ser a minha garantia, minha segurança. No
Cotinguiba eu comecei a me reencontrar com a vida”.
Operação Cajueiro.
Em 76, quando tudo parecia mais tranquilo, e já não tinha
participação direta nas ações do partido, ocorre a Operação Cajueiro.
Wellington Mangueira não foi julgado, assim como outros comunistas também não.
“Não fui porque meus companheiros foram tão dignos que, mesmo diante da
tortura, me isentaram de qualquer responsabilidade. Por pena, porque sabiam o
que tinha acontecido comigo antes, ou até porque era uma verdade indiscutível,
eu não estava mais participando. Mas não se deram por satisfeito e quiseram me
desmoralizar”, conta Mangueira, que foi novamente torturado e obrigado a
escrever e assinar uma carta onde renegava a maconha e o comunismo.
“Eu relutei, mas assinei e a carta foi publicada. Nunca
fumei maconha nem cigarro nenhum, então ficava a ideia de que eles estavam forjando
aquilo. Dentro do peito batia um coração comunista e vou afirmar até morrer as
minhas convicções”, testemunha. Segundo Mangueira, ninguém deu credibilidade
aquilo, tanto que o partido nunca o recriminou. Ao contrário, por nunca
esconder nada do seu partido, às vezes sofria. “Sofri, para mim era melhor não
falar muitas coisas que falei, mas não prejudiquei ninguém. Modéstia à parte eu
me comportei com dignidade. Não há um aparelho do partido que tenha caído ou
companheiro preso porque diante das torturas eu abri o jogo”, desabafa.
A luta pela anistia.
Com a Anistia em 1979 todos puderam voltar às ruas.
Wellington Mangueira foi escolhido em 1982 como delegado para o Congresso do
PCB, que ainda não era legal, realizado em São Paulo e onde todos foram presos.
Sob seu comando, Sergipe foi um dos nove estados que conseguiu os percentuais
exigidos pelo Tribunal Superior Eleitoral para a filiação do partido. Em 86 foi
candidato a deputado estadual. “Assumi o partido publicamente, deixei de
advogar para o grupo Votorantim, agradeci ao grupo CCPA onde lecionava História
e fiquei dirigindo o partido até ele mudar de nome. Atualmente estou no PPS,
que é filho da fama, mas ele não se constituiu como nós esperávamos. Estamos em
crise, o partido e eu também”, revela, apesar da volta do PCB.
A ideia de um livro.
“Acho que deveria ter escrito um livro, gravado um
depoimento bem amplo, bem detalhado. A cada vez que a gente conta lembra mais
um detalhe e às vezes se torna doloroso. É ruim por um lado, por outro vejo a
importância e é por isso que eu me submeto. As novas gerações tem que
desenvolver um espírito democrático de tolerância, mas também generoso,
humanitário e humanista. Que tenha a disposição que a nossa geração teve de
lutar por um mundo, como disse o poeta, longe da fome, do medo e da
ignorância”.
Para ele povo que não tem memória dos seus antepassados é um
povo alienado e por isso sente-se na obrigação de contar. “É obrigação de todos
contar o terror que foi o Golpe Militar de 1964, o terror que impôs ao povo
brasileiro a ditadura militar, de forma sórdida e cruel, fingida, muitas vezes
se apresentando como aristocrática até, quando na verdade nos seus calabouços
fazia torturas que vilipendiavam o nome do próprio Brasil e da democracia. É
importante contar essas histórias para que isso nunca mais aconteça”, ressalta
e aponta culpados:
“Em Sergipe foram torturadores o Sargento Vieira, que era
muito violento; o tenente Rabelo, homem perigosíssimo; sargento Souza que foi
vereador; Roberto ex-goleiro do Confiança e policial civil; Calango, que não
era torturador, mas era irritante, tirava as impressões digitais com gozação e
mesquinhez. Nacionalmente o coronel Teixeira, que se fez passar por doutor
Cézar, foi quem mais torturou a mim e a minha mulher. Um tal de um Teodoro,
doutor Rebouças que não sei se é o verdadeiro nome, tem muita gente que
precisava ser chamada”.
“Muita gente tem ciúme, inveja, despeito, mas assim foi
minha vida e a escrita é capital”.
Imagem e texto reproduzidos do site:
memoriasdaditadura.agencia.se.gov.br
Foto: Ascom/SECULT.
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 15 de abril de 2014.
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