sexta-feira, 25 de abril de 2014

Senhora dos bordados


 (Senta que lá vem poesia)

Senhora dos bordados

Desde que sentei aqui tento acomodar
o meu roliço travesseiro de bilros
entre as pernas.

É no chão onde exerço a função de feiticeira,
ágil senhora dos complicados labirintos,
onde se entrelaça o destino das anáguas.

Mal consigo esconder o inchaço das coxas,
o dedo rombudo de espiar espinhos,
o olho furado de espetar estrelas.

Tão velha,
já não consigo matraquear os bilros
ruídos que tecem o branco esplendor dos meus bordados.

Vim fazer alvos bicos de fino lavor,
peças de cambraia para o colo das matronas,
beiradas de califon,
guarnições núbias de irresistíveis tentações
e porta moringas também.

De cócoras, gemendo os reumatismos, enfio uma tirinha Gaudí de góticos furinhos no velho travesseiro e,
mais ágil do que nunca,
matraqueio nos velhos bilros cansados de inventar belezas
os fios finais da minha arte velha,
aqui sentada neste chão com meus tortos alfinetes
tontos.

Vocês me desculpem a bocetona exposta.

Desde que cheguei aqui
tento acomodar o meu roliço travesseiro de bilros entre as pernas.

Amaral Cavalcante.

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 22 de abril de 2014.

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