terça-feira, 15 de abril de 2014

Aracaju: entre a evolução urbanística e a diversidade arquitetônica

 Foto reproduzida por MTéSERGIPE, do blog: coisasdoestadodesergipe.blogspot

Foto reproduzida por MTéSERGIPE, do blog: colegiomedici.blogspot

Publicado originalmente no site ufs.br, em 18/03/2009.

Aracaju: entre a evolução urbanística e a diversidade arquitetônica
Por Saulo Henrique Souza Silva

Em 1859 o viajante alemão Ave L’Allement registrou a seguinte impressão de Aracaju: “por toda parte se trabalha, por toda parte se constrói, se cria (...)”. Impressão natural visto que a cidade havia sido fundada há apenas quatro anos para ser a capital da província de Sergipe. Entretanto, um século e meio após a observação do explorador, Aracaju continua uma cidade mutante. Tais mudanças na paisagem aracajuana podem ser apreendidas por sua diversidade arquitetônica e urbanística.

Aracaju, como é do conhecimento geral, foi originalmente planejada por Sebastião José Basílio Pirro seguindo um plano em xadrez, cujas ruas, casas e edificações públicas suplantaram pântanos, braços de rio e areais. Cidade voltada para as margens do Rio Sergipe, pois nascera para ser portuária, o “tabuleiro de Pirro” é marcado pelo traço rígido das ruas e pela sua adaptação à curvatura do rio. Por essa razão, muito se tem dito que “Aracaju é obra voluntária dos homens. Nasceu artificialmente e foi imposta pela arte humana à natureza circundante” (FONTES, 2004, p. 112). Foi nesse ambiente onde se desenvolveu a vida urbana de Aracaju e onde a destreza humana ergueu, ainda no séc. XIX, seus primeiros conjuntos arquitetônicos, rente à antiga Rua da Aurora, conhecida popularmente como Rua da Frente.

São exemplos dessas construções antigas, o prédio da antiga Alfândega, situado na Praça General Valadão, o antigo Paço Provincial, hoje delegacia do ministério da fazenda, na Praça Fausto Cardoso, a igreja de S. Salvador de estilo eclético, localizada na esquina dos calçadões das Ruas Laranjeiras e São Cristóvão, a Ponte do Imperador, na verdade um atracadouro, construída em 1860. Outros monumentos históricos como o Palácio Olímpio Campos, de estilo neoclássico, e a Catedral Metropolitana, edifício eclético que permuta entre o neoclássico e o neogótico, estavam prontos ainda no século XIX. Esse caráter heterogêneo das edificações de Aracaju ganhou relevo na primeira metade do século XX com a construção dos mercados Antônio Franco e Tales Ferraz, e dos prédios de linhas déco, traçados pelo alemão Altenesch, como o “Palácio Serigy, na Praça General Valadão, o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, à Rua de Itabaianinha” (Aracaju e seus Monumentos, 2005, p. 18). Entre outras construções que embelezaram e diversificaram a arquitetura de Aracaju, a partir de então contando com água encanada, em 1908, iluminada pela luz elétrica, 1913, e em 1926 com bondes elétricos.

Porém, foi após os anos 50, com a diversificação da economia da cidade, influenciada pela vinda da Petrobras na década de 60, que a arquitetura de Aracaju passou a ter contornos notadamente modernistas. São construídas diversas residências, especialmente na área da Rua Villa Cristina, que seguem os padrões da arquitetura moderna. É nessa época também que Aracaju ganha seu primeiro arranha-céu. O Edifício Atalaia, de frente para o Rio Sergipe, inseriu de maneira ímpar os seus 10 pavimentos no cenário arquitetônico e urbanístico da cidade, comprovando “ser possível uma construção de tal porte em terrenos alagadiços e arenosos” (NERY, 2003, p. 25). A partir de então, Aracaju entrou de vez nos panoramas das altas edificações, as quais, concentradas peculiarmente na região da Praia 13 de Julho, exploram diversos estilos arquitetônicos. Aliado a isso, houve a construção de novos bairros, shoppings, pontes e viadutos, que mudaram rapidamente o cenário aracajuano; esses fatos correspondem à notável evolução urbanística da cidade, cuja população passou de 179. 276 habitantes, em 1970, para 536.785, segundo censo do IBGE de 2008.

Com efeito, a Aracaju do séc. XXI continua uma cidade visivelmente mutante. Entretanto, tais mudanças lançam importantes desafios à sua população e aos seus governantes. Entre eles, o dever de manter sua tradição de cidade planejada, a consciência de preservar seus monumentos mais antigos, a partir da revitalização do Centro Histórico. E, sobretudo, a responsabilidade de equacionar, através de uma discussão mais séria sobre o Plano Diretor da cidade, o crescimento urbano com o cuidado do meio ambiente. Talvez, esse último seja o maior desafio da capital sergipana.

Referências bibliográficas:
FONTES, José Silvério Leite. “A evolução de Aracaju”. In: Formação do povo sergipano. Aracaju: Governo do Estado de Sergipe, 2004.
NERY, Juliana C. “Registros: as residências modernistas em Aracaju nas décadas de 50 e 60”. In: V Seminário DOCOMOMO Brasil. São Carlos: CD-Rom do V Seminário DOCOMOMO Brasil, 2003.
SERGIPE, Governo do Estado. Aracaju e seus monumentos: sesquicentenário da capital Aracaju 1855 – 2005. Aracaju: Triunfo, 2005.

Currículo:
Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal de Sergipe (2005), é Mestre em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (2008). Pesquisador do Núcleo de Estudos em Filosofia da História e Modernidade (NEPHEM) da UFS, seus interesses giram em torno da filosofia política e modernidade, concentrando as pesquisas no pensamento político inglês do século XVII.

Texto reproduzido do site: ufs.br/conteudo/aracaju

Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, 15 de abril de 2014.

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