Foto reproduzida por MTéSERGIPE, do blog: coisasdoestadodesergipe.blogspot
Foto reproduzida por MTéSERGIPE, do blog: colegiomedici.blogspot
Publicado originalmente no site ufs.br, em 18/03/2009.
Aracaju: entre a evolução urbanística e a diversidade
arquitetônica
Por Saulo Henrique Souza Silva
Em 1859 o viajante alemão Ave L’Allement registrou a
seguinte impressão de Aracaju: “por toda parte se trabalha, por toda parte se
constrói, se cria (...)”. Impressão natural visto que a cidade havia sido
fundada há apenas quatro anos para ser a capital da província de Sergipe.
Entretanto, um século e meio após a observação do explorador, Aracaju continua uma
cidade mutante. Tais mudanças na paisagem aracajuana podem ser apreendidas por
sua diversidade arquitetônica e urbanística.
Aracaju, como é do conhecimento geral, foi originalmente
planejada por Sebastião José Basílio Pirro seguindo um plano em xadrez, cujas
ruas, casas e edificações públicas suplantaram pântanos, braços de rio e
areais. Cidade voltada para as margens do Rio Sergipe, pois nascera para ser
portuária, o “tabuleiro de Pirro” é marcado pelo traço rígido das ruas e pela
sua adaptação à curvatura do rio. Por essa razão, muito se tem dito que
“Aracaju é obra voluntária dos homens. Nasceu artificialmente e foi imposta
pela arte humana à natureza circundante” (FONTES, 2004, p. 112). Foi nesse
ambiente onde se desenvolveu a vida urbana de Aracaju e onde a destreza humana
ergueu, ainda no séc. XIX, seus primeiros conjuntos arquitetônicos, rente à
antiga Rua da Aurora, conhecida popularmente como Rua da Frente.
São exemplos dessas construções antigas, o prédio da antiga
Alfândega, situado na Praça General Valadão, o antigo Paço Provincial, hoje
delegacia do ministério da fazenda, na Praça Fausto Cardoso, a igreja de S.
Salvador de estilo eclético, localizada na esquina dos calçadões das Ruas
Laranjeiras e São Cristóvão, a Ponte do Imperador, na verdade um atracadouro,
construída em 1860. Outros monumentos históricos como o Palácio Olímpio Campos,
de estilo neoclássico, e a Catedral Metropolitana, edifício eclético que
permuta entre o neoclássico e o neogótico, estavam prontos ainda no século XIX.
Esse caráter heterogêneo das edificações de Aracaju ganhou relevo na primeira
metade do século XX com a construção dos mercados Antônio Franco e Tales
Ferraz, e dos prédios de linhas déco, traçados pelo alemão Altenesch, como o
“Palácio Serigy, na Praça General Valadão, o Instituto Histórico e Geográfico
de Sergipe, à Rua de Itabaianinha” (Aracaju e seus Monumentos, 2005, p. 18).
Entre outras construções que embelezaram e diversificaram a arquitetura de
Aracaju, a partir de então contando com água encanada, em 1908, iluminada pela
luz elétrica, 1913, e em 1926 com bondes elétricos.
Porém, foi após os anos 50, com a diversificação da economia
da cidade, influenciada pela vinda da Petrobras na década de 60, que a
arquitetura de Aracaju passou a ter contornos notadamente modernistas. São
construídas diversas residências, especialmente na área da Rua Villa Cristina,
que seguem os padrões da arquitetura moderna. É nessa época também que Aracaju
ganha seu primeiro arranha-céu. O Edifício Atalaia, de frente para o Rio Sergipe,
inseriu de maneira ímpar os seus 10 pavimentos no cenário arquitetônico e
urbanístico da cidade, comprovando “ser possível uma construção de tal porte em
terrenos alagadiços e arenosos” (NERY, 2003, p. 25). A partir de então, Aracaju
entrou de vez nos panoramas das altas edificações, as quais, concentradas
peculiarmente na região da Praia 13 de Julho, exploram diversos estilos
arquitetônicos. Aliado a isso, houve a construção de novos bairros, shoppings,
pontes e viadutos, que mudaram rapidamente o cenário aracajuano; esses fatos
correspondem à notável evolução urbanística da cidade, cuja população passou de
179. 276 habitantes, em 1970, para 536.785, segundo censo do IBGE de 2008.
Com efeito, a Aracaju do séc. XXI continua uma cidade
visivelmente mutante. Entretanto, tais mudanças lançam importantes desafios à
sua população e aos seus governantes. Entre eles, o dever de manter sua
tradição de cidade planejada, a consciência de preservar seus monumentos mais
antigos, a partir da revitalização do Centro Histórico. E, sobretudo, a
responsabilidade de equacionar, através de uma discussão mais séria sobre o
Plano Diretor da cidade, o crescimento urbano com o cuidado do meio ambiente.
Talvez, esse último seja o maior desafio da capital sergipana.
Referências bibliográficas:
FONTES, José Silvério Leite. “A evolução de Aracaju”. In:
Formação do povo sergipano. Aracaju: Governo do Estado de Sergipe, 2004.
NERY, Juliana C. “Registros: as residências modernistas em
Aracaju nas décadas de 50 e 60”. In: V Seminário DOCOMOMO Brasil. São Carlos:
CD-Rom do V Seminário DOCOMOMO Brasil, 2003.
SERGIPE, Governo do Estado. Aracaju e seus monumentos:
sesquicentenário da capital Aracaju 1855 – 2005. Aracaju: Triunfo, 2005.
Currículo:
Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal de Sergipe
(2005), é Mestre em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (2008).
Pesquisador do Núcleo de Estudos em Filosofia da História e Modernidade
(NEPHEM) da UFS, seus interesses giram em torno da filosofia política e
modernidade, concentrando as pesquisas no pensamento político inglês do século
XVII.
Texto reproduzido do site: ufs.br/conteudo/aracaju
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, 15 de abril de 2014.
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