Foto: Facebook /José Clementino.
Foto: Carllos.costa/panoramio.com/photo
Roteiro antigo.
Por Petrônio Gomes.
Quando se fala do desenho quadriculado das ruas de Aracaju,
muitos ainda pensam que somos a única cidade assim traçada em sua parte antiga.
Na realidade, o desenho em xadrez foi usado em outras cidades mais velhas do
que o próprio Brasil, além do fato de não estarmos sós quanto a este aspecto.
Entretanto, podemos afirmar que o desenho em xadrez, aliado à topografia de
nossa capital, faz desta cidade a mais simpática assim esboçada, em que pese
nosso olhar suspeito de coruja...
Existirão vantagens práticas no traçado em linhas uniformes?
Sim e não. O Dr. Fernando Figueiredo Porto, figura ilustre e estimada, foi um
engenheiro civil e professor universitário que já prestou excelentes serviços
na Prefeitura de Aracaju. Em suas aulas de Geografia Física, costumava comentar
os problemas de nossa capital, sendo um grande estudioso do assunto.
“Uma ambulância que partisse do centro da cidade poderia
chegar mais rapidamente ao Hospital de Cirurgia, se houvesse que percorrer uma
rua em diagonal.” E não é verdade? Se o caminho mais curto entre dois pontos é
uma linha reta, como podemos economizar tempo fazendo volta em torno de
quarteirões? E ainda comentando sobre nossas ruas, o dr. Fernando Porto
confessou: “Além do mais, a série de quadrados torna a cidade monótona, pelo
menos para mim. A rua mais simpática de Aracaju é a rua da frente, que por ser
tão desprezada, ficou sendo a rua de trás”.
De perfeito acordo, Dr. Fernando. A Avenida Rio Branco,
seguida da Avenida Ivo do Prado, uma divisão que nunca chegou a ser decorada
pelo povo, compõe de fato a rua mais poética e mais bonita de Aracaju: a Rua da
Frente, que assim deveria ser batizada nos registros da Prefeitura. Tanto isto
é verdade, que todas as fotografias que exportamos para mostrar a beleza da
cidade são aquelas que trazem a Rua da Frente em primeiro plano.
Desde criança, tem sido ela o meu roteiro, muito antes que
houvesse chegado para nós essa torrente de automóveis. Para cumprir minhas
ordens domésticas, eu seguia pela calçada vizinha ao rio e gostava de ver as
canoas que iam e vinham. Por qualquer razão difícil de se explicar, havia um
tráfego mais movimentado do que hoje, várias dezenas de anos depois. Quando
chegavam as horas da maré baixa, era uma aventura gostosa continuar a caminhada
pela areia, observando a corrida medrosa dos siris que se afastavam dos nossos
pés.
Eram também fascinantes as marés de março para os olhos
infantis, pois as crianças preferem admirar, sem procurar entender. Talvez por
isso mesmo fosse mais risonho o mundo, mais alegre a vida.
E ainda prefiro seguir meu roteiro antigo de criança quando
tenho que cumprir os deveres externos de sempre, agora enfadonhos e sem graça.
Mas continuo falando a sós com o rio, meu silencioso amigo que me viu de calças
curtas.
Quando passam por mim os automóveis ruidosos e zangados,
esbaforidos e mal educados, olho as águas mansas do rio e respiro a
tranquilidade do seu caminhar perene. Quando o mormaço começa a abafar a cidade
com o seu hálito quente e indesejado, procuro o abraço fresco do rio, como um
segredo de velho companheiro.
E sinto-me, outra vez, com vontade de chutar as pedrinhas da
calçada...
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 22 de abril de 2014.
Nenhum comentário:
Postar um comentário