Foto reproduzida de postagem feita por Antônio Rollemberg,
na página do Facebook/MTéSERGIPE.
O Circo Amoras e Amores.
Por Amaral Cavalcante.
Jorge Lins de Carvalho, visionário de uma geração vizinha a
minha, definiu-se melhor do que muitos de nós que ainda andamos por ai,
tentando nos entregar a qualquer destino que nos reconheça. Jorge Lins sempre
soube o que queria: seu destino era o teatro.
Ele era menino quando se maravilhou pelo palco. Vinha de
família metida com essas coisas de arte e cultura - irmão do mestre Lineu que
deu à fotografia sergipana status de modernidade e do professor Fernando Lins,
um grande intelectual que até hoje nos brinda com a sua inteligência.
Era um guapo moreno de cabelos cacheados, porte de
Adamastor, dono de opinião e voz tonitruante, incapaz de passar despercebida em
qualquer ato público, ou nas intimidades etílicas. Junto com Eduardo Oliva e
César Macieira - sem esquecer Caio Matos e Vinicius Dantas – eram os cabeças de
ponte resguardando a interação entre a minha geração e a deles. Trabalhamos
juntos.
Jorge foi sempre teimoso. Tanto que ainda menino só queria
saber dos proscênios. O teatro era, definitivamente, a dele, enquanto para
muitos de nós, amalucados pela sofreguidão da juvenilidade, era o que desse e
viesse. A vida pela arte e a arte toda em conjunção com ela, era o esotérico
farnel que nos nutria nos caminhos parangolés dos idos 80. Complicados, doidos
de invenção e irresponsabilidades, éramos a experimentação de tudo. Alguns,
como eu, seguiram jogando com a cintura, outros capitularam.
De modo que Jorge Lins é, hoje, o que ele sempre quis ser:
um ícone da sua geração, o único que permaneceu ativo na produção do teatro sem
condução político/ideológica, um fazedor de arte pela arte, um produtor ativo
em nossa cena.
Jorge Lins, contido unicamente nas trincheiras do teatro,
faz bonito.
Nos idos de 1980 ele instalou na Atalaia, lá pros lados da
recém instituída Praia dos Artistas criada pela Folha da Praia em busca da
amplidão Atlântica, o Circo Amoras e Amores: uma lona de circo sobre chão de
brita, palco amplo com iluminação e sonoplastia possível, dezenas de mesinhas
de ferro com os devidos logotipos de cervejarias e uma programação de shows pra
lá de querida: músicos sergipanos, sketches teatrais, artistas alternativos e
muita birita, para aguentar o negócio.
Lá, todo mundo ia. A proximidade do mar e a sensação de
estarmos surfando a vida a seco, a arrebentação dos nossos mergulhos no marulho
de um mundo intemporâneo, faziam-nos deslizar sobre a crista da onda.
Bela loucura juvenil, inesquecível. Aracaju nunca foi mais
bonita do que quanto pôde surfar as ondas do Atlântico bebendo no Circo Amoras
e Amores.
Hoje, Jorge Lins dirige e produz um grupo de teatro, mora no
Mosqueiro com a mulher que ama, conta com filhos de vários casamentos, mas
ainda vive o mesmo sonho: a viabilização econômica do teatro sergipano.
Quando é que o seu sonho vai se tornar possível?
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 27
de fevereiro de 2012.
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