Infonet - Blog Luíz A. Barreto, em 26/01/2012.
Santo Sousa e sua Poesia.
Por Luíz Antônio Barreto.
É certo que a poesia tem perdido o encanto e os leitores,
mas sobrevive como um lastro de sentimento e de reflexão, básico à história
humana. Em todas as sociedades a poesia cumpre um papel aglutinador, lúdico,
estético, aparentado com a identidade que os povos conquistam no curso da
história. Pobre ou rica, a sociedade faz da palavra fragmento de versos e com
eles edifica a sensibilidade diante da vida e do mundo que não se explicam em
si mesmos. A regra vale para a terra sergipana, berço de grandes poetas e de
outros literatos, entre os quais ocupa lugar destacado SANTO SOUZA.
Nascido há exatamente 93 anos (o dia do aniversário é 27 de
janeiro), em Riachuelo, fez do cheiro das moendas de açúcar a referência
identificadora do lugar, como exaltou os engenhos com seus nomes poéticos.
Filho de uma mulher que emergiu da escravidão, SANTO SOUZA foi batizado como
José, nos caminhos da vida trocou SANTOS por SANTO e fez do seu nome uma legenda,
pela capacidade que teve de entender o mundo e a vida que há nele. Poeta,
sempre poeta, trabalhou em muitos ofícios, aprendeu a simplicidade da vida
escorrendo pelos fatos e emoções, antes de traçar, com o escopo simbólico das
palavras, o discurso com o qual faz a interpretação das coisas do mundo e da
vida.
O poeta, com sua obra de mestre, bastou-se no manejo das
palavras, desfilando em livros todo o saber que sua reflexão criou. Os livros
do poeta são verdadeiros códigos, onde os velhos segredos e longínquas
mitologias ganham, revelados, a intimidade dos leitores. O poeta negro de
Riachuelo deposita, há várias décadas, nos ouvidos dos sergipanos, a magia que
a sua poesia foi capaz de guardar para as posteridades. Livros e mais livros,
órficos como uma centelha reveladora, ferramenta decodificadora dos prantos
vencidos do passado. SANTO SOUZA é a sua poesia e quase centenário poeta faz da
poesia o seu itinerário, a sua comunicação, a construção de sua própria
identidade.
SANTO SOUZA ocupa todas as geografias por onde tem vivido,
mas é universal com sua obra vasta. O molde de um prêmio Nobel de Literatura
lhe cai bem, lhe será justo, e atrelará a geografia da sua história pessoal de
sergipano, universalizado na decodificação de todos os saberes transformados em
versos e estrofes belos. Aliás, por ser resultado de um talento e uma
competência majestosas, a honraria de há muito lhe é devida. E como seria bom
ver Riachuelo enfeitada para a festa, testemunhar o poeta calçando os sapatos
da sua humildade, empetecado para receber uma homenagem que de há muito lhe
pertence. Quem quiser conferir a magnitude da obra santosozeana que abra
qualquer dos seus livros, em qualquer página, e leia em voz alta o que está
escrito. Não há quem não ouça o efeito das palavras rasgando a nossa
ignorância. SANTO SOUZA faz leitura universal das civilizações, mesmo morando
na Rua Rio Grande do Sul, no Bairro Siqueira Campos.
Aos 93 anos, rodeado de filhos, e de outros descendentes, o
poeta celebra a vida longa e imprevista. Suas saudades de Fia, a mãe, de
Mariana, a companheira esbarram na alegria dos sobreviventes, náufragos como
ele, na solidão das ausências. Dia de festa para o poeta, risos e abraços,
versos libertos pelos cômodos da casa, amigos e admiradores trocando visões de
críticos, enquanto uma pequena e velha biblioteca guarda os saberes do mundo, e
guarda a ideia emocionada do poeta com seus livros. Os sergipanos, irmãos de
penúria e de angústia, que sobreviveram equilibrados na linha do tempo, também
estão em festa, porque o poeta não se pertence, não é da casa nem da família,
mas sendo de tudo um pouco, ele é um mago com suas palavras penetrantes,
reveladoras, lindas como os arco de cores que se formam e se dissipam no transe
emocionante da beleza. Do alto do pedestal de sua obra mística, SANTO SOUZA é
porta-voz de sofrimentos e angústias, desconfianças e suspeitas, tendo em seu
favor a oficina das palavras, moldadas na observação, fundidas no calor das
crenças, como armas penetrantes que tomam a reflexão e agasalham a sobrevivência.
Foto e texto reproduzidos do site:
infonet.com.br/luisantoniobarreto
Postagem originária da página do Facebook/Minha Terra é SERGIPE, de 20 de fevereiro de 2014.
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