Santo Souza: Um poeta órfico em Sergipe ¹
Introdução:
O presente trabalho pretende direcionar os acadêmicos do
Curso de Letras sobre a importância de resgatar a cultura sergipana através da
valorização de poetas consagrados em nosso Estado a fim de conhecer suas obras
e a relevância das mesmas para a nossa cultura.
O trabalho foi dividido em três partes: a primeira refere-se
a uma pesquisa de campo realizada na Academia Sergipana de Letras; a segunda
destina-se a entrevista com o poeta Santos Souza e por fim pesquisas
bibliográficas. A pesquisa de campo teve como colaborador Dr. Pascoal, advogado
e acadêmico da citada instituição que nos proporcionou conhecer sobre
importantes informações a respeito do poeta Santo Souza, sua contribuição para
a academia sergipana de letras e alguns segredos de suas obras.
A segunda parte do trabalho foi realizada na tarde de 01 de
junho de 2013, onde grupo compareceu à residência do poeta Santo Souza, sendo
coordenado por sua neta Ilmara Cristina Souza, jornalista e também acadêmica da
Academia Sergipana de Letras que nos dera importantes informações nos
proporcionando uma maior abrangência a este trabalho.
O poeta pouco disposto, embora muito lúcido, nos recebeu com
uma imensa alegria. Era possível perceber no momento de sua fala o lacrimejar
dos olhos por está diante de jovens dispostos a conhecer um pouco da cultura do
seu Estado. No primeiro momento o poeta tímido falou sobre sua infância, seus
trabalhos e a indignação em perceber o grande número de crianças que não são
escolarizadas e a falta de apoio dos governantes aos que buscam preservar a
cultura, logo depois falou sobre suas obras, seus prêmios, seus amigos, seus
amores e recitou alguns poemas.
A terceira parte foi destinada as pesquisas bibliográficas
que nos favoreceu algumas informações contidas em suas obras, as críticas
destinadas a esse autor, a relevância do mesmo fora do Estado, a sua
contribuição para a literatura brasileira e o trabalho de outros autores que
teve como referência o poeta, Santos Souza.
Santo Souza - Biografia:
José dos Santos Souza nasceu em 27 de janeiro de 1919 no
município de Riachuelo no Estado de Sergipe. Filho da arrumadeira, Dona
Hermínia “Filhinha”, uma mãe solteira e descendente de escravos, que deu a luz
a ele na casa dos patrões.
Com seis anos de idade, Santo Souza começou a trabalhar na
área de farmácia.
Estudou até a 3ª série, se tornando um autodidata com um
vasto conhecimento tais como aritmética, história, psicologia, esoterismo,
línguas como latim, hebraico, grego, etc, procurando estudar sobre tudo.
É considerado um dos maiores poetas do Estado de Sergipe e
do país e suas influências literárias, segundo ele, não tem influências diretas
de coisa alguma. Sua cultura se concretizou através da descoberta sobre a
cultura de vários países, principalmente, a Grécia.
Para ele a poesia é algo que não pode ser explicada por ela
nascer com o indivíduo. Essa sua afirmação se dá pelo fato dele ter começado a
escrever pequenos versos com 10 anos de idade com a pouca instrução que tinha.
Santo Souza residiu em Riachuelo até os 17 anos trabalhando
em farmácia, e em Aracaju, continuando a trabalhar na área onde aprendeu a
manipular medicamentos com o mesmo dom de produção de poemas.
Aos 15 anos estudou música, e por ter sido expert em
aritmética, aprendeu a tocar em três meses, compondo para clarineta algumas
valsas para a namorada.
O poeta conheceu diretamente importantes poetas brasileiros
como Mário de Andrade e Carlos Drummond de Andrade. É membro da Academia
Sergipana de Letras, ocupando a cadeira de número 03, cujo patrono é Fausto de
Aguiar Cardoso, e o fundador é Cleômedes Campos de Oliveira. Foi também membro
efetivo da Associação Sergipana de Imprensa, e Membro Correspondente da
Academia Paulista de Letras.
Entre os poetas sergipanos, Santo Souza é o poeta com maior
número de obras e sua poesia é fundamentada no orfismo, corrente que trata de
temas sacros, o bem e o mal contidos na natureza humana. Através dessa
corrente, percebe-se que sua poesia busca mostrar as condições humanas, as
divindades e os heróis mitológicos, criando, assim, um elo entre o passado e o
presente em que o poeta se torna um intérprete do futuro.
No Brasil houve poucos seguidores do Orfismo, e, pelo que se
sabe, além do poeta em estudo, houve também o poeta Cyro Pimentel do Estado de São
Paulo.
Jackson da Silva Lima, importante historiador da literatura
sergipana, considera a poesia de Santo Souza como filosófica, comparando-o a
importantes escritores como Fernando Pessoa, Rilke, Valéry, Eliot, buscando dá
uma visão sobre o homem através dos tempos e da história.
As obras de Santo Souza foram lançadas, principalmente, pelo
Estado de Sergipe. E através de José Augusto Garcez, criador do Movimento
Cultural de Sergipe, este se tornou o encarregado de distribuir seus livros
pelo Brasil, tornando-o conhecido, especialmente em São Paulo.
A primeira obra de Santo Souza, Cidade Subterrânea, lançada
no ano de 1953, fora muito bem recebida por um grande crítico literário da
época, Luís da Câmara Cascudo, que inclusive, produziu o seu prefácio.
Durante o Regime Militar a obra Pássaro de Pedra e Sono fora
censurada e o livro Decreto Lei Nº 13 que haveria um lançamento na Bahia não
pôde ser realizado por conter ideias subversivas. Mas, felizmente, não houve
problemas maiores com o escritor.
Santo Souza recebeu inúmeras condecorações e premiações pelo
Estado de Sergipe, e em dezembro de 1995, ele ganhou um prêmio literário pela
APCA (Associação Paulista de Críticos e Arte).
Através de informações coletadas na obra A Construção do
Espanto, décimo segundo livro do autor, lançado no ano de 1998, no capítulo
“Opiniões sobre o autor”, que trata da análise das principais obras de Santo
Souza, além de vários comentários que o elogiam, fora notado alguns detalhes
quanto suas obras. Esses detalhes são referentes, principalmente, às obras,
Cidade Subterrânea e Ode Órfica.
Em Cidade Subterrânea, de acordo com Luís da Câmara Cascudo
em seu prefácio, revela que na obra está contida a ideia de maldições divinas,
vividas por uma sociedade que sofre um cataclisma, mas que aguarda por
esperanças.
Ode Órfica, quatro livro do autor, considerado o principal,
e lançado em 1956, de acordo com comentário de Sérgio Millet, considera a obra
como uma meditação sobre os mistérios da vida, bem como a desilusão dos homens.
Nelson de Araújo reforça a ideia, considerando Ode Órfica como o canto moderno
dos homens.
De acordo com Luís Antônio Barreto no livro A Construção do
Espanto, sua obra está dirigida para questionamentos essenciais da vida humana,
retratando um pouco o nordeste, o canto do povo sem destino, o grito do negro
escravo. O crítico sergipano ainda o considera como um poeta da cosmovisão,
espécie de mediador entre o céu e a terra, e sua obra A Construção do Espanto
pode ser considerada como sendo um desfecho das demais obras por está sendo
refletida a aventura humana entre deuses, demônios e presságios.
Hoje Santo Souza reside na capital de Sergipe, Aracaju,
tendo 94 anos, um pouco debilitado, que o fez encerrar com suas atividades
artísticas para se dedicar, exclusivamente, à sua família e à leitura de
jornais, revistas e livros.
Ao perguntar a ele o motivo pelo qual não mais escreve, ele
afirma que foram os deuses que o mandaram parar.
A grande importância desse poeta que não pode ser esquecido
deu ao município de Riachuelo uma escola que leva seu nome, Escola Municipal
Santo Souza, bem como a obra Deus Ensanguentado de 2008, que houve versão em
espanhol, e um livro em linguagem simples que ajuda a compreender seus poemas,
Esboço para uma análise do significado da obra poética de Santo Souza, da escritora
Gizelda Morais.
O presente texto se finaliza com uma importante citação de
Luiz Antonio Barreto contida na obra A Construção do Espanto: “Santo Souza é um
poeta de Sergipe, mas também o é do Brasil e da língua, com sua obra órfica,
mas, também, com a vastidão do toque cotidiano, da vida, do ser, da beleza e da
reflexão diante do mundo pulsante de todos os dias, como se a poesia fosse uma
crônica, a inventar e reinventar a realidade”. (SOUZA p. 129)
Obras:
· Cidade Subterrânea (1953) (com prefácio de Câmara Cascudo)
· Caderno de Elegias (1954)
· Relíquias (1955)
· Ode Órfica (1956)
· Pássaro de Pedra e Sono (1964)
· Oito Poemas Densos (1964)
· Concerto e Arquitetura (1974)
· Pentáculo do Medo (1980)
· A Ode e o Medo (1988)
· Obra Escolhida (1989)
· Âncoras de Arco (1994)
· A Construção do Espanto (1998)
· Rosa de Fogo e Lágrima (2004)
· Réquiem para Orféu (2005)
· Deus Ensanguentado (2008)
· Crepúsculo de Esplendores (2010)
Referências Bibliográficas:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/sergipe/santos_souza.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Santo_Souza
PROJETO SANTO SOUZA: um poeta órfico. Produção de Ilmara
Cristina, Gleydiomar Souza, e Alessandra Gama. Orientado por Edilson Moura.
Sergipe, 1998. Disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=wZm4-fnaFDY>. Acesso em: 01 jun. 2013.
SOUZA, Santo. A Construção do Espanto. Aracaju. Sociedade
Editorial de Sergipe, 1998.
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¹ Trabalho apresentado pelos acadêmicos, Allan Tenório Bastos
de Oliveira, Corália Cirilo Santos, Edione Oliveira, Gicélia Souza, Géssica
Ramiro, Márcia Mendes, e Vanessa Reis, do Curso de Letras-Português da
Faculdade São Luís de França, como requisito para avaliação da disciplina
Optativa II – Expoentes da Literatura Sergipana, ministrada pelo Prof. José
Costa Almeida.
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Foto e texto reproduzidos do blog:
literaturasergipana.blogspot
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 3 de outubro de 2013.
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