O Violão Emudeceu
Eu sempre pensei que fosse de outro planeta. Enquanto todas
as crianças e adolescentes da minha época escutavam “Legião Urbana”, “Paralamas
do Sucesso”, “Kid Abelha” e as bandas que iniciaram o pagode nos anos 90, eu
nos meus 13/14 anos já conhecia, pelo menos, 400 músicas de Chico Buarque.
Posteriormente veio Caetano Veloso, Vinícius de Moraes, Gilberto Gil, Toquinho,
Novos Baianos, MPB-4, Quarteto em Cy, Tom Jobim e outros.
Fui envelhecendo e aí comecei a querer escutar o que meu pai
gostava, foi aí que o samba entrou literalmente na minha vida. Escutava
repetida e exaustivamente Paulinho da Viola. Aprofundei-me bastante e foi aí
que percebi que eu realmente era de outro planeta. Por volta dos meus 17 anos
já ouvia viciadamente Noel Rosa, Ismael Silva, João Nogueira, Sambas da Bahia,
Cartola, Nelson Cavaquinho, Geraldo Pereira, Donga, Pixinguinha, João da
Baiana, Silas de Oliveira...
Passei a não gostar mais de ir a lugares onde tinha voz e
violão por que nunca ninguém sabia ou conhecia aquilo de que eu gostava. Sempre
procurava o “novo”. Não o “novo” na idade, muito pelo contrário, eu pesquisava
aquele sambistazinho lá de longe o qual ninguém sabia que existia e queria
passar a conhecer e aí veio: Beto sem Braço, Waldir 59, Mano Décio da Viola,
Jorge Veiga, Roberto Paiva, Roberto Silva, Almirante, Zé Keti...
Nesse tempo eu já achava tudo que não era samba, um saco. Já
quase não ouvia os cantores que iniciei. Bares que tinha música ao vivo então,
perdi completamente a vontade de ir. Foi quando há exatos 3 anos e 8 meses, na
esquina de Santa Luzia com Campos tomando uma cervejinha e escutando samba que
vinha de dentro do meu carro, uma voz rouca que vinha da outra mesa me chamou e
disse: “Ei menino, aumente esse som aí...Você gosta de samba é?” Era Emmanuel!
Conheci Emmanuel Dantas e seu tão amado grupo “Na Ponta da
Língua”, o que me fez mudar completamente meu estilo de vida. Eu agora tinha
com quem conversar sobre música, sobre samba, sobre a história de cada sambista
e o motivo de cada música composta. Não andava mais com frequência com meus
antigos amigos, pois só queria tá perto do cara que me entendia perfeitamente e
que podia falar de música sem ser motivo de piada.
Emmanuel ligava pra mim todo santo dia, tinha muitos sonhos
com o grupo, queria lançar um disco, queria tocar para um grande público,
queria que sua música fosse ouvida, sem contar os casos de sua grande paixão
que era o carnaval do "Carro Quebrado" o qual ajudou a criar.... Eu
compartilhava dessa mesma empolgação, acho que por isso ficamos tão ligados em
tão pouco tempo de convivência.
Sempre quis que Lucas (meu irmão) e meu pai tivessem o
conhecido e tivesse me visto tocar junto com ele, mas a vida proporcionou esse
encontro à maneira dela. Vá em paz meu amigo Emmanuel Dantas, você no violão,
meu pai no pandeiro e Lucas cantando farão grandes sambas aí no céu dos
sambistas e sempre serás lembrado em cada roda de samba que estivermos.
Vou Partir
(Nelson Cavaquinho).
Vou partir nãoo sei se voltarei...
Tu nao me queiras mal
Hoje é carnaval
Partirei para bem longe
Nao prescisas te preocupar
So voltarei pra casa
Quando o carnaval acabar, acabar
Vou partir não sei se voltarei...
Tu nao me queiras mal
Hoje é carnaval.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 5 de outubro de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário