Fundador da primeiro frota de ônibus de Sergipe
Por Alessandra Franco.
Falar de Manoel de Oliveira Martins é rememorar a história
da capital sergipana. Nos idos dos anos 40, quando o 'pequeno, mas
arrumadinho'¹ comércio da cidade concentrava-se nas ruas João Pessoa, José do
Prado Franco, Itabaianinha, Laranjeiras e São Cristóvão, o jovem de visão
promissora para os negócios deixou sua marca.
Um dos pioneiros a promover o desenvolvimento social e
econômico de Aracaju, deixou um importante legado ao transporte público da
cidade. Foi pelas suas mãos que os primeiros ônibus começaram a fazer o
transporte de passageiros. Ainda em madeira, a frota dos 'gostosões', como eram
chamados os veículos dada a sua beleza e conforto, substituiu os bondes
elétricos que saíram de circulação no ano de 1956.
É justamente essa época que o Setransp pretende reviver com
a terceira edição do Prêmio de Jornalismo. Essa viagem pelo tempo servirá para
trazer, ao momento presente, detalhes históricos que as novas gerações
desconhecem, além de fazer uma justa homenagem a um sergipano de mente
brilhante.
Comércio
Nascido no município de Maruim, em 29 de novembro de 1896,
Manoel de Oliveira Martins, o Oliveira Martins, como era conhecido na cidade,
começou a vida como marinheiro - alistou-se na Marinha de Guerra no ano de
1912. Em uma das inúmeras viagens que fez, ao desembarcar novamente em Sergipe,
decidiu abandonar a carreira militar e entrar para o ramo dos negócios.
Com o dinheiro que conseguiu economizar, fez o primeiro
investimento ao montar um armazém de secos e molhados, na Rua Laranjeiras. Logo
as vendas prosperaram e ele resolveu investir também no ramo de combustíveis
automotivos. Com esse novo comércio - que começou com uma única bomba e logo
evoluiu para um posto construído nas proximidades de onde hoje se localiza o
Grand Hotel, no Centro de Aracaju -, conseguiu dinheiro para comprar vários
terrenos na região. Nos locais, abriu outros negócios como filiais do armazém e
prédios de hospedaria.
Enquanto isso, a cidade se movimentava sobre os lentos,
porém charmosos, bondes elétricos. Os veículos transitavam pelas ruas de
Aracaju fazendo o transporte de pessoas entre os bairros Industrial, Santo
Antônio, 18 do Forte, Siqueira Campos e Centro. Em meados dos anos 50, no
entanto, ao saírem de circulação, os bondinhos deixaram uma lacuna que só começou
a ser preenchida a partir de uma ousada iniciativa de Oliveira Martins.
Após uma viagem ao Rio de Janeiro, conseguiu convencer um
marceneiro carioca a acompanhá-lo até Sergipe. Aqui, com a ajuda desse
profissional, em um galpão situado à Rua Apulcro Mota, começou a construir a
primeira frota de ônibus de Sergipe, a ETU – Empresa de Transporte Urbano São
José, com sede na Avenida Airton Teles.
Perfeccionista, juntamente com o empregado, trabalhou dia e
noite para deixar os ônibus impecáveis. Ficaram tão bonitos e modernos para a
época que foram apelidados de "Os gostosões de Oliveira Martins". Os
veículos já possuíam, além do motorista, catraca e cobrador, e passaram a fazer
as linhas que, anteriormente, eram feitas pelos bondes.
Viagem à Europa
Aventureiro e empreendedor, Oliveira Martins integrou a
comitiva que saiu de Sergipe rumo à Europa na década de 70, naquela que foi
considerada a primeira excursão de turismo do Estado. A viagem ampliou os
horizontes e aguçou a visão empreendedora dos que dela fizeram parte.
Não por acaso, vários dos nomes que estavam no grupo
marcaram o desenvolvimento de Sergipe, tais como Júlio Prado Vasconcelos,
pioneiro no ramo de supermercados no Estado; Carlos Mascarenhas, agente da
companhia aérea Cruzeiro do Sul; e Robson Santos, dono da Robson Turismo, 1ª
empresa de turismo sergipana.
Mudança de Ramo
Com o passar dos anos, Oliveira Martins não estava mais
sozinho no ramo de transporte de passageiros. A concorrência de empresas mais
modernas o fez abandonar o negócio optando por um cotidiano mais tranquilo.
Juntamente com a família, recolheu-se em um sítio localizado na Barra dos
Coqueiros, onde se dedicou ao cultivo e à venda de coco verde.
Com o negócio adquiriu outras propriedades e colaborou para
o desenvolvimento do município com a geração de empregos e a construção de
pontes. Amante da natureza, criou também uma espécie de refúgio que ainda hoje
é mantido pela família. No local, criou aves, peixes, preservou a vegetação
nativa e viveu intensamente, celebrando a vida até seus últimos momentos.
Avenida Gostosão
Ao deixar a lida com o transporte de passageiros, Oliveira
Martins reuniu os antigos ônibus em um terreno cravado no bairro 18 do Forte. A
localidade ficou conhecida como Avenida Gostosão e os veículos acabaram
servindo de moradia para pessoas desfavorecidas economicamente.
A rua que ganhou fama por abrigar parte da história da
capital sergipana, na realidade, chamava-se Manoel Carvalho Neto. Desde 6 de
março de 2001, no entanto, por força da Lei 2.907, sancionada pelo então
prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, foi rebatizada como Manoel de Oliveira
Martins.
Trata-se de um trecho de rua que guarda muito mais que um
nome, uma honrada história de vida cujo legado se reverencia no cotidiano da
cidade, no ir e vir de cada cidadão.
Iate Clube
Dono de uma vitalidade invejável, Oliveira Martins sabia
aproveitar a vida como poucos. As festas que costumava promover, principalmente
em celebração ao seu aniversário, eram assunto das rodas sociais durante dias.
E não era pra menos. As comemorações duravam até o dia raiar e eram marcadas
por discursos e homenagens regadas a muita música, comida e bebida farta.
Nas horas vagas, um de seus lugares favoritos era o Iate
Clube de Aracaju, cuja sede ajudou a construir adquirindo 15 títulos ao valor
unitário de Cr$ 5 mil, em agosto de 1958. Sócio de número 57, Oliveira Martins
era uma figura imponente. Com seu indefectível terno branco, deixou um lastro
de seriedade e respeito até hoje reverenciada.
Herdeiros
Oliveira Martins casou-se, pela primeira vez, na década de
20, com Marieta Lima de Oliveira. Dessa união, frutificaram sete filhos: Maria,
Raimundo, Geraldo, José Serapião, Zélia, Guido e Adailton. Todos já falecidos.
Ao ficar viúvo, teve outros dois filhos, Vera (falecida) e
José Roberto. Alguns anos depois, em 24 de fevereiro de 1976, oficializou a
união com Maria Lúcia Viana Martins, com quem teve mais quatro filhos: Manoel,
Amélia, Tânia e Acácia.
Toda sua vitalidade, no entanto, foi vencida por problemas
vasculares. Aos 83 anos, em 23 de dezembro de 1979, Manoel faleceu, vítima de
trombose. Seu corpo foi enterrado no cemitério Santa Isabel.
Passados 21 anos, em 04 dezembro do ano 2000, a atual sede
do Setransp foi inaugurada, no Distrito Industrial de Aracaju, sendo,
oportunamente, batizada de Manoel de Oliveira Martins.
* Texto produzido por Alessandra Franco, jornalista e
gerente de Comunicação & Marketing do Setransp, com informações obtidas
através de familiares e do memorialista Murilo Melins, que conheceu Manoel de
Oliveira Martins na infância/ adolescência através de uma grande amizade que
surgiu com Geraldo, um dos filhos de Oliveira Martins.
1 – Expressão tirada do livro 'Aracaju Romântica que vi e
vivi – anos 40 e 50', de Murillo Melins.
Postagem originária da página do Facebook/MTéSERGIPE, de 13 de outubro de 2013.
Mensagem de João Martins Silveira Junior, neto do Sr. Manoel de Oliveira Martins, via messeger do Facebook, em 8 de maio de 2021.
ResponderExcluir- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Boa tarde, Sr. Armando!
João enviou Ontem às 16:55
Meu nome é João Martins Silveira Junior, neto de Oliveira Martins.
João enviou Ontem às 16:55
Agradeço para maravilhosa homenagem ao meu avô.
João enviou Ontem às 16:55
Eu só gostaria de fazer um registro na matéria "Homenagem a Manoel de Oliveira Martins.
Fundador da primeiro frota de ônibus de Sergipe".
João enviou Ontem às 16:57
Ele foi em comitiva para a Europa e Estados Unidos em 1957. Lá ele visitou diversos empreendimentos e conheceu os supermercados, que ainda não existiam no Brasil. Acredito que o Sr. Gentil Barbosa estivesse com ele lá e aproveitou a ideia e criou sua rede de supermercados. Sou filho de Zélia, a filha caçula de seu primeiro casamento.
João enviou Ontem às 16:58
Um forte abraço para o senhor! Te desejo muita saúde!
Armando enviou Hoje às 9:41
Obrigado João. Vou postar sua mensagem no comentário do post, lá no blog.
João enviou Hoje às 09:50
Obrigado
Armando enviou Hoje às 09:54
João, o texto é de Alessandra Franco, jornalista e gerente de Comunicação & Marketing do Setransp, com informações obtidas através de familiares e do memorialista Murilo Melins, que conheceu Manoel de Oliveira Martins na infância/ adolescência através de uma grande amizade que surgiu com Geraldo, um dos filhos de Oliveira Martins.