Publicado originalmente no Facebook/Lucio Prado Dias.
Meu pai, Antônio Conde Dias.
Por Lucio Prado Dias.
Seu Tonico, como era carinhosamente mais conhecido, nasceu
em 23 de outubro de 1911, em Itaporanga d´Ajuda, cidade localizada às margens
do histórico Vaza-Barris, filho de Aurélio Rezende Dias e Carmelita Conde Dias.
Toda a sua infância e adolescência passou entre a cidade e a
vida no campo, no Engenho Dira, então propriedade da família, com construções
históricas que hoje se constituem em patrimônio arquitetônico do Estado,
conforme se observa na publicação Arquitetura Sergipana do Açúcar, da arquiteta
Kátia Afonso Silva Loureiro, de 1999.
A casa-grande do engenho, implantada num amplo vale por
volta de 1670, apresentava na fachada frontal uma construção de estilo
colonial, que depois foi ampliada em novo figurino, dessa vez, neogótico,
mantendo, até hoje e de forma curiosa, os dois estilos.
No Dira, papai passa bons momentos de sua vida,
prazerosamente lembrados por crônicas que enfocam a doce vida no campo, da
singela carruagem puxada por carneirinhos e dos saraus literários que acontecem
na Casa Grande e que nele estimula o gosto pela literatura.
A morte prematura do meu avô Aurélio Dias e as
circunstâncias do momento forçam minha avó Carmelita a vender a propriedade e
se instalar em Itaporanga. Mais avançado nos estudos, papai passa a trabalhar
como coletor federal, em 1929, ano também que fica registrado pela publicação
na imprensa do seu primeiro artigo jornalístico.
A morte do pai obriga ele a cuidar da família, da minha vó
Carmelita, de duas irmãs, Jaci e Lucila (Lola). Esta permanece solteira até
falecer e Jaci casa-se com o poeta José Sampaio, ficando porém viúva muito
cedo, com dois filhos ainda jovens.
Em 1943 casa-se com a jovem Natália Sobral Prado, a quem
conheceu em Itaporanga, quando ela passa a residir na cidade, vindo de
Laranjeiras, onde nasceu e cresceu entre a cidade e o Engenho Pati e
posteriormente Aracaju. Mamãe sempre foi uma figura extraordinária na vida de
papai, pela fibra, tenacidade de fazer as coisas, companheirismo de todas as
horas e coragem de enfrentar os desafios, sem limites de generosidade. Fazia
exatamente o contraponto com a personalidade dele, que exigia sempre muita
cautela, moderação, equilíbrio e paciência. Ainda hoje, mamãe é exemplo de
destemor e perseverança.
Entre o trabalho na coletoria e seus escritos, papai teve
uma atuação destacada em todos os movimentos civis, políticos, sociais e
religiosos da cidade de Fellisbelo Freire, mesmo sem ter exercido cargos
políticos. No entanto, era o “orador oficial” da cidade. Quando ele próprio não
discursava, preparava os discursos dos políticos de então.
Juscelino Kubitschek de Oliveira, percorrendo o país em
campanha presidencial, esteve com sua comitiva em Itaporanga, nos idos de 1955,
sendo recepcionado por líderes políticos locais. Sua saudação foi escrita por
papai, que carregou nas letras toda a admiração que possuía pelo construtor de
Brasília, admiração esta que manteve por toda a vida.
Os escritos do jornalista Conde Dias são essencialmente
fundamentados na sua extraordinária religiosidade e o respeito que possuía
pelas instituições. Não foi à toa que escritora e poetisa Carmelita Pinto
Fontes, referindo-se a ele, ressaltou: “Antônio Conde Dias pautou a sua vida
pela integridade moral e o respeito que conservava pelos governantes (naquele
tempo os governantes se faziam respeitar...) e transmitiu para os seus filhos
exemplos de retidão de caráter, generosidade e humildade”.
Em 1947, por ocasião das comemorações do cinquentenário do
Apostolado da Oração, ele componhe, em parceria com o maestro Genaro Plech, o
Hino oficial dos festejos: “Irapiranga aqui reunida, vos consagra em seu
coração, genuflexa se rende contrita, glória, amor, filial devoção...”
No ano seguinte, escreve a letra do Hino da Padroeira da
cidade, Nossa Senhora d´Ajuda: "Terra nobre, pujante e querida, neste dia
de glória e louvor, vem render grandiosa homenagem, à excelsa Rainha do
Amor...”. O hino, em nova parceria com Plech, é homologado como oficial pelo
Monsenhor Carlos Camélio Costa, em 2 de dezembro de 1949, mas intrigas da
terrinha fizeram com que o mesmo fosse esquecido por anos, sendo substituído
por outro feito para comemorar o Congresso Eucarístico. A força da letra e a
evocação à santa fizeram, contudo, que o povo da cidade ribeirinha voltasse a
cantar o hino oficial, que se mantém até os dias de hoje, a cada 2 de
fevereiro.
No cortejo fúnebre que o levou da igreja ao cemitério, ao fechar os
olhos para a vida terrena e o abrir para a vida eterna, em janeiro de 1992, o
povo espontaneamente cantou o Hino de Nossa Senhora d’Ajuda, em momento de
forte emoção.
No momento em que a educação dos filhos necessita de uma
atenção mais rigorosa, traz-nos para Aracaju, em 1961, e passamos a residir na
Rua da Frente ( Av. Ivo do Prado, 198). Aposentando-se do serviço público
federal, começa a conviver mais de perto com jornalistas integrantes da
Associação Sergipana de Imprensa, como Eliéser Leopoldino, Zózimo Lima, Marques
Guimarães, Benvindo Salles de Campos Neto, entre outros, colaborando para o
engrandecimento da instituição. Em sua trajetória jornalística, escreve mais de
5 mil artigos, em inúmeros jornais e revistas de Sergipe e outros estados, a
exemplo de A Cruzada, O Nordeste, A Semana, O Mensageiro da Fé, a Semana
Católica, o Santuário de Aparecida e a revista Vida Doméstica, esta editada no
Rio de Janeiro.
Lembro-me, com intensa nostalgia, de vê-lo sentado na
pequena escrivaninha, virada para a janela, na sala de visita que dava para o
rio que corria preguiçosamente na nossa frente, datilografando, pausadamente,
na sua compacta Remington, os escritos que ele próprio levaria à redação do
jornal, no dia seguinte.
Nas comemorações dos seus 80 anos, em 1991, lança o livro
QUADROS DA VIDA, um breve resumo de sua vasta produção. Pouco depois, em 30 de
janeiro de 1992, papai falece, deixando-nos um legado da humildade e
fraternidade.
Sua lembrança, suave e luminosa, será sempre para mim uma
bandeira de incentivo e de vitória, uma clarinada de fé e de esperança, como um
facho imenso de glória que os tempos jamais apagarão.
Texto e imagens reproduzidos do Facebook/Lucio Prado Dias.
Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 9 de agosto de 2015.
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