Publicado originalmente no site Osmário Santos, em
03/06/2013.
Antônio Florivaldo Machado
Por Osmário Santos
A história do pioneiro da confecção em Sergipe, mostrando um
desbravador e toda uma vida repleta de sacrifícios. Do momento em que iniciou
no campo de trabalho como balconista, de sua passagem pelo mercado de Aracaju
como proprietário de loja de tecidos, dos momentos de glória e de tristezas na
confecção durante da felicidade de ser pai de 11 filhos.
Antônio Florivaldo Machado nasceu no povoado Pedras da
cidade de Capela, Sergipe, em 1926, sendo filho de Francisco Ferreira Machado e
Maria Rosa Machado.
O pai, um modesto agricultor, ensinou ao filho colocar a
honestidade em primeiro plano na vida, além de passar exemplos de dedicação e
trabalho a família.
De sua mãe, Maria Rosa, Antônio guarda recordações de uma
mulher repleta de exemplos, que dedicou uma vida aos 11 filhos. Mulher muito
religiosa, em casa era responsável pela economia doméstica e acompanhamento da
vida escolar dos filhos.
Uma infância vivida no povoado de Pedras, com tempo para
muitas brincadeiras, principalmente a de fazer boi com espiga de milho. “A
gente amarrava o que sobrava da espiga com a retirada do milho, encangava e
fazia um carrinho”.
Com sete anos de idade, entrou numa escola pública para
aprender as primeiras letras, prosseguindo com os estudos na cidade de Capela,
com a professora Aurelina, considerada a melhor professora da cidade.
Para chegar até a escola enfrentava sol e chuva, numa
caminhada que consumia algumas horas. “Era um sacrifício muito grande. Os
livros eu amarrava numa toalhinha e colocava nas costas”.
CURSO PRIMÁRIO
Não chegou a terminar o curso primário, deixando os estudos
quando estava no terceiro ano, pela necessidade de enfrentar o trabalho desde
cedo.
Trocando Capela por Aracaju, logo ao chegar conseguiu um
emprego na firma Aguiar Irmãos, considerada uma das grandes lojas do comércio
de Aracaju, que trabalhava com venda de tecidos. Era da família Aguiar de
Riachuelo. Tinha o pai do ex-governador de Sergipe, Paulo Barreto, Sr. Simeão
Aguiar e o irmão Manoel Aguiar. Eles vendiam tecido no atacado.
Antes de vim para a capital, já tinha passado por um curto
período de aprendizado na loja de Agenor de Souza Barbosa, em Capela, quando
aprendeu a trabalhar como balconista. A experiência como balconista, que muito
lhe valeu na investida que fez no comércio de Aracaju. “Foi o meu professor
onde aprendi tudo”.
Sendo bom de metro, sabendo manipular a tesoura na hora do
corte, além de ter uma boa conversa de vendedor, logo mostrou que tinha
competência.
Surgindo a oportunidade, aceitou o desafio de trabalhar no
caixa da empresa, aprendendo nessa função a contabilidade prática, “Aprendi
muito e a diferença foi grande de Capela para Aracaju”.
CANTINHO
Morando com o cunhado, Oséas Vieira Machado, um dos
comerciantes que faz parte da história do mercado de Aracaju, pelo trabalho que
desenvolveu ao longo de uma existência, no ramo de secos e molhados, conseguiu
com ele um pequeno espaço para montar seu próprio negócio. “Era um cantinho que
ele tinha lá e fazia depósito. Eu comprei uns caixões e fiz as prateleiras. Aí
comecei a vender tecidos e confecções. A firma Aguiar me deu um grande crédito.
Seus diretores viram minha disposição, minha capacidade e confiaram em mim. Meu
capital para iniciar era de quatrocentos cruzeiros”.
O Predileto foi o nome fantasia que escolheu para
identificar o estabelecimento comercial, dizendo que assim colocou ao sentir
que o povo pouco ligava para o espaço físico, ganhando com seu cantinho muitas
vendas de muitas lojas bem montadas dentro do mercado. Era mesmo o preferido.
Revela que o segredo prendeu-se a maneira como tratava todos
os clientes, sem discriminação, mostrando com toda satisfação do mundo todos
seus produtos, sem ter a preocupação se ia ou não ia efetuar a venda. Na época
vendia bastante brim e tricoline, tecidos da moda.
Após um ano, sentindo que o espaço já não era suficiente
para atender a demanda das vendas que estava realizando, resolveu partir a
procura de outro local para sua loja. Em vista do surgimento do mercado novo,
foi a procura de Plácido Almeida para adquirir uma das lojas de 4 x 5 metros.
“Como ele era de Capela, a coisa ficou mais fácil para mim. Entrei com a cara e
a coragem”.
Para o pagamento do ponto, o resultado de uma economia já
guardada para essa finalidade. O restante foi facilitado em parcelas sem juros,
por assim permitir a economia da época.
CASA MACHADO
Com a transformação, deixou O Predileto de lado, colocando o
nome de Casa Machado. “Já era uma casa mesmo” (Risos).
Ano de 46, quando Antônio Machado deu um dos passos
importantes da sua vida. Pela amplitude das vendas, passou a ser empregador. A
transformação de vida aconteceu de imediato, permitindo trazer os pais do
interior, ficando morando com eles. “Eles me ajudavam na loja. Minha mãe, dia
de feira, ficava fazendo pacote e recebendo dinheiro”.
No mercado Sr. Antônio fez história por mais de 15 anos.
Lembranças que até hoje povoam sua mente, de momentos em que viva de bem com a
felicidade.
Vendendo muitas calças jeans, percebeu que existia um bom
mercado em Sergipe, com boas perspectivas para confecção. Tendo um parente
alfaiate, de nome Mário Carvalho, com a máquina de costura da mãe, iniciou no
ramo de confecção, aproveitando a mão de obra do Mário para o corte das calças
e o trabalho de uma costureira para complementação final do produto.
DURANT
A calça feita na casa do Sr. Antônio, pela qualidade do
corte e a da costureira, chamou atenção de um representante comercial, que
pediu algumas peças para apresentar a alguns comerciantes do interior do Estado
de Sergipe. Um resultado que provocou uma mudança brusca em sua vida. Passou a
casa comercial para a irmã e foi cuidar da indústria que foi iniciada na
Avenida Coelho Campos, com seis operários, na casa de sua mãe. O nome dado foi
de Confecção Durant. “Afinal, calça era tão boa, que durava muito” (risos).
Surgindo um ponto na Rua de João Pessoa, na Galeria
Passarela um amplo salão, pela conquista de um mercado, não teve receio do
investimento, completado com a compra de inúmeras máquinas industriais.
Assim surgiu a primeira confecção de calças em Aracaju,
afirmando Antônio Machado, que foi ele o pioneiro em confecção em Sergipe. “Por
aqui só tinha a Alfaiataria Irmãos Figueiredo, que só fazia ternos de forma
artesanal”.
Uma das mágoas do Sr. Antônio refere-se à falta de incentivo
que teve com sua indústria. “Lutei muito para conseguir alguma isenção de
impostos e outros benefícios e nada. Foi uma luta muito grande para manutenção
da indústria”.
Seus produtos eram vendidos além de Sergipe, para Alagoas,
Pernambuco e Bahia.
Devido as grandes confecções que foram implantadas no
Nordeste, com o passar dos anos, a queda de vendas dos produtos do Sr. Antônio
foi acentuada, por ficar de mãos presas sem poder disputar o mercado com os
grandes, principalmente por não receber nenhum benefício por parte do governo,
quer seja federal, estadual ou municipal.
MUDANÇAS
Com o golpe de 64, diz que passou um período, onde não se
vendia, nem recebia, o que afetou bastante as finanças da empresa. Sem suporte
para resistir à época de crise e enfrentar o novo mercado de confecção, foi
forçado a vender aos poucos suas máquinas tentando resistir ao máximo a
sobrevivência da indústria.
Como na época das vacas gordas já tinha montado na cidade de
Maruim uma unidade da indústria, no prédio onde funcionou A Fonseca, fechou a
de Aracaju, passando a morar naquela cidade.
Percebendo que tinha chegado a hora de tomar uma posição,
esgotadas todas as tentativas, com muita raça e fé em Deus, vende as últimas
máquinas e monta uma churrascaria. “Ocupava o grande salão com mesas.
Churrascaria estava na moda. Eu consegui um convênio com a Petrobrás e tudo deu
certo. Nessa etapa da vida profissional, foram 12 anos”.
EMOÇÃO
Com o depoimento sendo interrompido pela emoção, com lágrima
nos olhos, Sr. Antônio disse que recuperou tudo que perdeu. “Tinha que
sobreviver, porque a família era grande”.
Chegando o tempo de aposentar, deixou o trabalho de lado e
vive agora dedicando maior tempo a família, curtindo os netos.
Conta que o tempo em que viveu em plena felicidade, foi o
que por onze anos sentia o que era pegar um filho pequeno nos braços. “Todos os
anos nascia um filho. Isso durou onze anos”. (lágrimas).
Com uma experiência de vida, ainda emocionado, faz questão
de dizer que, sem o princípio cristão, o homem não é nada. “Nessa época eu
frequentava a Ação Católica. Que servia como freio das tentações da vida. A
vida me ensinou a ter paciência e a me sustentar em Deus. Tive muitas dores de
cabeça, insônia. Dormindo a base de remédios. Isso tudo valeu a pena, pois
ressurgi das cinzas com a graça de Deus” (lágrimas).
Casou com Josefina Belém Machado, após um ano de namoro de
muitos bilhetinhos. Casamento realizado em maio de 51. É pai de 11 filhos e diz
que não foi moleza criar todos eles. Pelo estado emocional não consegue lembrar
os nomes de todos eles. Pede ajuda a mulher, que depois de muito esforço,
também pelo clima emotivo do depoimento, conseguiu dizer os nomes de todos
eles. “Excelsa Maria Machado, Rosa Maria Machado, Maria Angélica Machado,
Antônio Florivaldo Machado Filho, Miriam Belém Machado, Anselmo Belém Machado,
Maria Hortência Belém Machado, Ana Lúcia Belém Machado, Margarida Belém
Machado, Maria de Lourdes e Francisca Belém Machado. Hoje, 18 netos”.
Publicado em 17 de abril de 1994. Faleceu em 19 abril de
2013.
Texto e imagem reproduzidos do site: osmario.com.br
Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 28 de julho de 2015.
Meu pai SAUDADES. Como pioneiro da confecção em Sergipe, Antônio Machado passou por várias dificuldades econômicas e políticas, que só contribuíram para as inovações em suas ideias e empresas. Caso queiram mais informação favor ligar para 79-9990-3588. ou pelo e-mail: machadoanselmo56@gmail.com
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