Infonet > Blog Luíz A. Barreto > 13/01/2005.
Hermes Fontes - Poeta da Fonte da Mata.
Por Luiz Antônio Barreto.
Hermes Floro Bartolomeu Martins de Araújo Fontes, ou
simplesmente Hermes - Fontes, como assinava, com o hífen, filho de Francisco
Martins Fontes e Maria de Araújo Fontes, nasceu em Boquim em 28 de agosto de
1888. Estudou as primeiras letras na terra natal, mudando-se, aos 8 anos, para
Aracaju onde passou por algumas escolas até matricular-se no colégio do
professor Alfredo Montes. O talento do menino chamou a atenção dos professores,
pela precocidade, espalhando-se em toda a capital sergipana, chegando ao
conhecimento do presidente do Estado, um dos bacharéis do Recife, Martinho
Garcez, que o levou para o Rio de Janeiro.
Hermes - Fontes tinha 10 anos quando chegou na capital da
República para estudar, às custas de Martinho Garcez. O estímulo recebido
frutificou, os estudos revelaram a intelectual, que desde os 15 anos passou a
colaboras na imprensa, começando pelo jornal O Fluminense, de Niterói,
seguindo-se muitos outros, onde mostrava sua vocação de poeta e de crítico. Em
1911 bacharelou-se em Direito, pela Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e
Sociais, onde Silvio Romero era professor.
A trajetória poética de Hermes - Fontes, desde Apoteoses,
1908, até Fonte da Mata, 1930, consagra sua vida intelectual, adornada pela
crítica ampla que fez da vida brasileira, em artigos, ensaios e colunas nas
principais revistas e nos grandes jornais de sua época – Correio da Manhã, Fon
– Fon, Careta, O País, O Malho, Kosmos – e ainda pelo traço bem humorado da
caricatura. Hermes - Fontes foi, então, um artista completo, que conquistou o
público, mereceu opinião favorável dos críticos e o reconhecimento pleno de sua
intensa atividade intelectual.
Hermes - Fontes é um daqueles sergipanos emigrados,
construindo uma biografia de êxitos literários, ainda que vivesse uma quadra de
profundas mudanças estéticas. O Modernismo de 1922 traçou nova ordem para a
poesia, renovando os modos das composições poéticas. Hermes - Fontes estava no
itinerário de transição e não acompanhou a celeridade que os adeptos do
Futurismo de Marineti imprimiram. Em certa medida, Hermes - Fontes é um
retardatário, muito embora sua obra seja de muito boa qualidade, nela estejam
os fundamentos da arte poética e tenha sido publicada, em grande parte, antes
da Semana de Arte Moderna.
Hermes - Fontes queria ser Príncipe dos Poetas e membro da
Academia Brasileira de Letras, mas não teve tempo de esperar pela glória
pública à sua obra. Participou, no entanto, da organização da Academia
Sergipana de Letras, tendo o seu nome figurado na Ata de 1º de junho de 1929,
como Fundador da Cadeira nº 16, que tem como Patrono o poeta Pedro de Calasans.
A aprovação do nome de Hermes Fontes entre os fundadores da Academia Sergipana
de Letras parece mesmo representar uma homenagem ao poeta, pois outros
sergipanos residentes fora do Estado e com nomes feitos na cultura brasileira,
como Laudelino Freire, Aníbal Freire, João Ribeiro, Manoel Bonfim, Graccho
Cardoso, Deodato Maia, Barreto Lima e muitos outros foram deixados nas cadeiras
de Sócios Correspondentes. A quebra de uma regra que a Academia até hoje
conserva comprova o prestígio de Hermes - Fontes em Sergipe.
Um aspecto da obra poética de Hermes - Fontes que merece
destaque especial é o do aproveitamento de poemas seus em composições musicais,
como Luar de Paquetá e A Beira Mar, parceria com Freire Pinto, que fizeram
sucesso regravadas por Orlando Silva e Carlos Galhardo, e ainda hoje são das
mais belas modinhas brasileiras, de todos os tempos. Antes de Hermes - Fontes,
o poeta Bitencourt Sampaio, nascido em Laranjeiras, fez versos que foram
musicados pelo maestro Carlos Gomes, como a célebre modinha Quem Sabe. Pedro de
Calasans e Tobias Barreto também tiveram versos seus musicados e assim
divulgados, embora sem o sucesso das canções de Hermes - Fontes.
A colaboração jornalística do poeta boquiense, que foi além
dos textos, ainda não mereceu pesquisa definitiva e reunião para publicação. Na
Revista Kosmos, por exemplo, a colaboração é de crítica, principalmente de
fotografia. O Meio ambiente foi outro tema recorrente nas páginas dos jornais
onde Hermes - Fontes redigia, editava ou dirigia. E as charges, que
notabilizaram o seu traço, debaixo de pseudônimos, como sob pseudônimos
escreveu colunas humorísticas, apimentadas sobre personagens da história brasileira
do seu tempo. Homem de tomar posição, abraçou a campanha civilista e a
candidatura de Rui Barbosa, enfrentando os partidários do marechal Hermes da
Fonseca, utilizando-se do jornalismo para expressar suas opiniões.
Os anos de 1920 foram particularmente difíceis. As
desilusões amorosas, as traições, os complexos – era considerado feio, cabeçudo
e media pouco mais de um metro e meio – contribuíram para que o poeta
procurasse o isolamento, a reclusão, publicando apenas três livros, um dos
quais – A Fonte da Mata – o último de todos, de 1930, parecia anunciar o fim
próximo. Não valeram os estímulos dos amigos e dos admiradores. Desmotivado,
assistindo a renovação da poesia brasileira com a geração de Mário de Andrade,
Manoel Bandeira, Cassiano Ricardo, Menoti del Pichia, Osvald de Andrade, e
outros, Hermes - Fontes recolheu-se, em definitivo, saindo da cena cultural
brasileira.
Sua carreira de intelectual, atestada pelos livros que
publicou – Apoteoses (Rio de Janeiro: Papelaria Brasil da Costa Pereira, 1908,
2ª edição Livraria Francisco Alves, 1915); Gêneses (Rio de Janeiro: Tipografia
W. Martins, 1913); Ciclo da Perfeição (Rio de Janeiro: Imprensa Nacional,
1914); Miragem do Deserto (Rio de Janeiro 1ª edição 1913, 2ª edição 1917,
Livraria Editora Leite Ribeiro & Maurillo); Epopéia da Vida (Rio de
Janeiro: Rio de Janeiro: sem indicação de editor, 1917); Microcosmo – dedicado
aos amigos sergipanos Aníbal Freire e João Ribeiro ( Rio de Janeiro: Livraria
Leite Ribeiro e Maurillo, 1919); Lâmpada Velada (Rio de Janeiro: Livraria
Francisco Alves, 1922); Despertar, com dedicatória especial “A Sergipe, terra
de meu berço, e berço de meu pai e em cuja entranha dorme sono eterno minha
mãe, que lá teve berço e túmulo (Rio de Janeiro: Jacinto Ribeiro dos Santos,
1922); A Fonte da Mata (Rio de Janeiro: Papelaria Brasil, 1930). Hermes -
Fontes publicou, ainda, O Mundo em Chamas, livro didático, 1914, Juízo Efêmero,
de crítica, 1916 e teve organizada, postumamente, uma antologia – Poesias
Escolhidas – em 1944. O autor e sua obra inspiraram o crítico alagoano Povina
Cavalcanti, que dedicou dois títulos a Hermes – Fontes: Hermes Fontes, de 1933
e Hermes Fontes. Via e Poesia (Rio de Janeiro: Editora José Olímpio, 1964).
Em 25 de dezembro de 1930, aos 42 anos, Hermes - Fontes deu
fim a própria vida, amargurado e infeliz, no Rio de Janeiro. Seus admiradores
lideraram um movimento junto às autoridades e conseguiram erigir uma herma de
homenagem ao poeta, em pleno Passeio Público, no centro da cidade do Rio de
Janeiro. Recentemente, com a reforma do logradouro, a estátua do poeta foi
retirada, gerando alguns poucos protestos.
Fonte "Pesquise - Pesquisa de Sergipe/InfoNet".
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Texto e imagem reproduzidos do site:
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Postagem originária da página do Facebook/GrupoMTéSERGIPE, de 24 de julho de 2015.
Uma verdadeira lição de vida, onde a força do destino, o fado de H-F parece ter sido mais forte que suas vontades. A terra carioca iluminou seu intelecto, mas fechou seu coração, que parou de bater por vontade própria de H-F aos 42 anos. A dívida de Sergipe e do povo sergipano com H-F é muito grande, mas há tempo suficiente para corrigir este eventual desacerto. Um beijo no coração, querido mestre boquinense!
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